CUIDADO PARA NÃO SERMOS CRISTÃOS QUE É SAL, MAS QUE NÃO SALGA, OU LUZ, QUE NÃO ILUMINA

CUIDADO PARA NÃO SERMOS CRISTÃOS QUE É SAL, MAS QUE NÃO SALGA, OU LUZ, QUE NÃO ILUMINA

Pois bem, cada vez mais, a fé tem sido afastada, banida, exilada ao âmbito privado. Em nome do “Estado laico” (o Estado não tem uma “religião oficial”), ou em nome do pluralismo religioso (não “ferir” uma religião diferente da nossa, ou não “impor” a nossa fé aos outros), nossa fé vai aos poucos sendo “proibida” de se manifestar. A ela só é permitido ter espaço dentro de nós, no âmbito privado, pessoal, mas não social. Além disso, como há muitas pessoas decepcionadas ou com o próprio Deus, ou com a Igreja, ou com qualquer tipo de religião, quando manifestamos publicamente a nossa fé, podemos esperar reações carregadas de agressividade e de forte rejeição à nossa fé.

É exatamente nesse contexto de redução da nossa fé ao âmbito privado que Jesus fala importância e da necessidade da presença da nossa fé “na terra”, “no mundo”. Aqui não se trata de sermos cristãos fanáticos que ficam o tempo todo despejando versículos bíblicos nos ouvidos das pessoas, mas de vivermos segundo o Evangelho, sobretudo quando estamos junto de pessoas que não têm contato com as coisas de Deus, com a Igreja, com os ensinamentos de Jesus. Isso é necessário principalmente nos tempos atuais, onde o paganismo se espalha cada vez mais, de modo que a grande maioria das pessoas vive como se Deus não existisse, ou então, rejeita as instituições religiosas devido aos seus pecados e falhas.

Jesus fala da importância do testemunho da nossa fé, comparando o cristão com o sal: “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13). Muito mais do que dar sabor à comida, o sal era, na época de Jesus, absolutamente essencial: sem ele, os alimentos – sobretudo as carnes – apodreciam. Ora, é inegável que muitos valores estão “apodrecendo” no mundo atual: casamento, família, honestidade, fidelidade, respeito para com o próximo, diálogo com quem pensa diferente de nós etc.

O problema é que “ser sal” tem um custo: manter a própria integridade; suportar a solidão de “ser diferente”; lidar com a crítica, o desprezo ou até mesmo com a agressão por parte de algumas pessoas etc. A tentação aqui é tornar-se um sal que não salga; tornar-se um cristão que “não incomoda”, que esconde a sua fé para não sofrer rejeição por parte do mundo. Quem vive a sua vida fazendo a vontade de Deus, o evangelho relata que sereis “pisados”.

Jesus nos pede que sejamos luz no meio das pessoas. O lugar da luz é no teto, para iluminar as pessoas que estão na casa, e não debaixo da mesa ou da cadeira. Em outras palavras, o cristão não pode esconder-se das pessoas que são contrárias a Deus, à Igreja ou aos valores do Evangelho. Ao mesmo tempo, ele não precisa ser um refletor de alta potência que agride os olhos das pessoas – o que significa que é bom evitar o fanatismo religioso. Basta que sejamos uma luz que ajuda as pessoas a enxergarem a vida sob um outro ângulo, a partir da fé, de modo que elas percebam que podem dar respostas melhores aos seus problemas, encontrando na Palavra de Deus uma fonte segura de orientação para a própria consciência.

Enfim, uma questão importante que a Sagrada Escritura aborda é a origem da luz. Para nós, é comum pensarmos que a luz venha do conhecimento intelectual, do estudo. Isso sem dúvida ajuda. No entanto, para surpresa nossa, o profeta Isaías deixa claro que a luz só surge em nós quando nos deixamos afetar pela dor de quem sofre à nossa volta: “Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia” (Is 58,10).  

Quando nos tornamos indiferentes à dor dos outros, a luz de Deus se apaga dentro de nós. Um cristão que não se preocupa com questões sociais como fome, violência, desemprego, injustiça, desigualdade, é uma lâmpada apagada: é lâmpada (está na Igreja, ouve o Evangelho), mas não tem luz a oferecer, porque vive sua fé somente no âmbito privado, pessoal, de maneira errada.

Um Cristão assim, é sal que não salga e luz que não ilumina. Aliás, você e eu, somos assim? Luz apagada, e sal que não salga.

Apesar das nossas falhas e imperfeições, Deus quis precisar de nós para levar sua luz àqueles que estão perdidos na escuridão, assim como Ele quis precisar do nosso sal para impedir que valores importantes continuem a apodrecer à nossa volta. Mantenhamos acesa a luz da nossa fé e a integridade do nosso sal!

Atenção: eu não sou “a luz”, mas apenas um reflexo da “luz”. É Deus que é “a luz”. O discípulo não deve, pois, preocupar-se em atrair sobre si o olhar dos homens; mas deve preocupar-se em conduzir o olhar e o coração dos homens para Deus”. Se alguém quer, de fato, brilhar diante de Deus, que pratique atos de amor e solidariedade, acolher o próximo, não humilhar as pessoas com atitudes arrogantes e prepotentes, enfim, somente assim nossa luz brilhará diante de Deus. Quem ajuda o próximo obtém saúde. (Is 58,7-8). Agindo assim seremos uma luz que brilha nas trevas.

O discípulo desaparece como o sal, deixa os irmãos impregnados do amor por Deus. Será que a nossa presença está dando sabor de Jesus no meio em que vivemos? Ou será que estamos salgados demais, a ponto de afastar as pessoas de junto de nós?

Cuidemos da nossa vocação e sejamos fiéis à nossa missão de sermos “sal da terra” e “luz do mundo”. Ou servimos para ser sal e luz, para transformar o mundo, ou não servimos para nada.