O mistério da Eucaristia revela a humildade de Deus

O mistério da Eucaristia revela a humildade de Deus

A festa do Corpus Christi foi instituída pelo papa Urbano IV em 1264. Esta festa foi iniciada no século XIII. Havia dúvidas sobre a presença real de Jesus na Eucaristia, sobretudo fora da celebração, ou seja, nas espécies eucarísticas guardadas nos tabernáculos (sacrários). Tivemos até um Concílio para resolver esta questão: “IV Concílio de Latrão em 1215”. Quanto à origem, foi em 1243, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana (1193-1258) teria tido visões de Cristo demonstrando-lhe desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento, esse povo foi alimentado com maná no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.

“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: ‘Tomai, isto é o meu corpo’” (Marcos 14,22). A Igreja nos dá a graça de celebrar a Solenidade do Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Trata-se de uma grande dádiva, um presente do Céu: a presença de Deus no meio de nós de forma real e sacramental, que acontece no mistério da Eucaristia.

O que é o mistério da Eucaristia senão um Deus que se doa, que se entrega? O Senhor está sempre se doando. O nascimento de Jesus, o Filho de Deus encarnado no meio de nós, é o Pai que se entrega na forma de um Menino nascido da carne humana. O Deus, que está pregado na Cruz, entrega-se, doa-se por nós. Contudo, com orgulho, arrogância e soberba humana não compreendemos nem penetramos no mistério da Eucaristia. Quando comungamos o Corpo e o Sangue de Cristo, Ele passa a fazer parte da nossa vida, e nós passamos a fazer parte da vida de Cristo. Será que todos que comungam têm consciência disso? Com certeza não, porque se tivessem não haveria tanta falta de amor, e tantas injustiças e violências. Comungar significa compactuar, fazer igual, comprometer. A Festa do Corpus Christi é Deus que nos ama incondicionalmente; um Deus capaz de ser alimento, pois sabe que sem alimento nós não sobrevivemos, portanto, precisamos deste alimento que nos mantém vivo, que é Jesus. O alimento da alma, o alimento para a vida eterna.

Enfim, neste dia em que Jesus se define como “pão vivo descido do céu”, cuja carne é “verdadeira comida” e cujo sangue é “verdadeira bebida” (cf. Jo 6,51.55), o Pai permitiu que a imensa maioria de nós não possa comungar o Corpo e o Sangue de seu Filho, por causa da problemática da pandemia do coronavírus. A nossa ausência em nossas igrejas e a impossibilidade de hoje comungarmos a Eucaristia são um sinal importante para nós mesmos. Qual o lugar que a Eucaristia realmente ocupa em nossa vida? Por que a imensa maioria das pessoas não comunga? Que falta realmente a Eucaristia está nos fazendo (se é que está)?

Não podendo comungar da presença real de Cristo na Eucaristia, lembremos da sua presença igualmente real na pessoa dos pobres e necessitados. Todos sabemos que a necessidade do isolamento social para conter a propagação do coronavírus e possibilitar os hospitais de socorrerem os infectados tem como consequência direta o enfraquecimento da economia no mundo todo. São empresas que fecham, ou que demitem, ou que diminuem os salários dos seus funcionários. Isso significa o aumento da fome ao nosso redor.    

Repetidas vezes, o papa Francisco nos convidou a “tocar com fé a carne de Cristo em tantas pessoas que sofrem”. Se hoje nossas mãos não poderão se estender para receber o Corpo de Cristo, elas poderão diariamente se estender para socorrer os necessitados à nossa volta. E como é verdade que “nem só de pão vive o homem”, podemos oferecer às pessoas à nossa volta o pão do nosso diálogo, do nosso perdão, do nosso ombro amigo, dos nossos ouvidos abertos para ouvir quem precisa falar, das nossas orações por aqueles que necessitam, etc.