Quando o Filho do homem voltar, como Ele me encontrará? Esperando de forma mundana ou espiritual?

Quando o Filho do homem voltar, como Ele me encontrará?  Esperando de forma mundana ou espiritual?

Aliás, houve um tempo em que a espera enchia a vida de sentido. Esperava-se a Páscoa para se comer o “ovo de Páscoa”; esperava-se o Natal para se ganhar o presente desejado; esperava-se o casamento para se experimentar o prazer de uma relação sexual. Mas o tempo da espera foi eliminado da existência humana. Antes mesmo do tempo da Quaresma, os ovos de chocolate são comprados e consumidos, de forma que o dia da Páscoa não tem mais novidade alguma a se aguardar. Da mesma forma, as famílias de boa condição financeira presenteiam seus filhos em qualquer tempo. Portanto, não há mais o que esperar, e o não ter pelo que esperar esvaziou a vida de sentido.  

Advento é tempo de espera. Estamos esperando o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo: “Ele virá, uma segunda vez, para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). O tempo do advento existe para nos ensinar a importância da espera. Uma vida sem espera é uma vida sem horizonte, sem amanhã. Todos nós precisamos esperar até que seja completada a obra que Deus iniciou em cada um de nós: a segunda Vinda de Cristo.   

A espera é o gemido do Espírito Santo em nós. O tempo do Advento existe para nos tornar conscientes de que vivemos o tempo do “ainda não”: ainda não terminamos a corrida; ainda não encerramos a luta; ainda não chegamos à meta. Precisamos aprender a suportar o “ainda não”, até que o Senhor Jesus venha. “Nem sabemos quando ela chega ou quando iremos ao encontro do Senhor e quando Ele virá ao nosso. O importante é estarmos preparados a cada dia. Pois, quando Jesus virá?  Como Ele vai me encontrar?

Jesus confirma isso: “os que tiverem feito o bem, ressuscitarão para a vida; os que fizeram o mal, para o julgamento” (Jo 5,29).

O próprio Jesus nos questiona: “Quando o Filho do homem voltar, encontrará fé sobre a terra? ” (Lc 18,8). Como Jesus me encontrará: como alguém que desistiu do bem e passou a fazer o mal, ou como alguém que perseverou no caminho do bem? Como alguém que lutou o quanto pôde para se manter honesto, fiel e justo, ou como alguém que abandonou esses valores e seguiu o fluxo do mundo?

Na leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 13,11-14, percebemos que temos que “acordar”. O apóstolo Paulo nos alerta para o perigo do sono, da distração, de quem, por descuidar da sua vida espiritual, reduziu a sua esperança a uma vida mundana: sua existência se resume em comer, beber, consumir, desfrutar, competir, sem dar à própria uma direção, uma razão, um sentido. A pessoa funciona como uma mera engrenagem dentro de uma máquina, vivendo automaticamente, fazendo o que é mandada – ou o que foi “programada” (a partir de fora) para fazer. Quando se dá conta, a vida passou e ela não viveu”.  

Jesus no evangelho de Mateus 24, 37-44, deseja nos despertar do sono de quem vive no mecanismo, fazendo uma porção se coisas sem se perguntar para onde sua vida está indo. Ele nos recorda que a sua Vinda encontrará a humanidade exatamente como o dilúvio a encontrou: as pessoas comiam, bebiam, casavam-se, trabalhavam, divertiam-se, sem se dar conta de que algo estava acontecendo. Elas “nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,39). Quem vive a partir da carne, de maneira mundana, “nada percebe”: a existência, para essa pessoa, não tem um para que, uma razão de ser, um sentido, mas quem vive a partir do espírito sabe que sua existência tem uma finalidade, e as escolhas que ela faz hoje refletirão no seu destino final.  

A diferença entre viver de maneira mundana e viver de maneira espiritual aparece nessas palavras de Jesus, revelando que, no momento da sua Vinda, um homem “será levado e o outro será deixado”; uma mulher “será levada e a outra será deixada” (Mt 24,40-41). A Vinda de Jesus surpreenderá a todos (como um ladrão), mas aqueles que o esperaram, que suportaram em suas vidas o “ainda não”, que se mantiveram firmes na fé, serão salvos.  

 Como o Senhor Jesus me encontrará quando ele voltar? Promovendo desavenças, conflitos, brigas e rivalidades, ou promovendo a paz (cf. Is 2,4; Rm 13,13)? Ele me encontrará agindo com honestidade e perseverando na minha vida espiritual, ou levando uma vida mundana: comendo, bebendo e me prostituindo?

Nosso fim, nossa morte é certa e inevitável. Da morte ninguém escapa, é uma certeza! Apenas não sabemos quando e nem como. Aliás, “Você não pode escolher como e quando vai morrer. Mas, você só pode decidir como vai viver agora” (Joan Baez)

Por isso é importante que estejamos preparados para esse momento que eternizará nossa existência. Lembro-me de uma brincadeira de criança chamada “brincar de estátua”. As crianças estão pulando, dançando, fazendo qualquer coisa e aí o coleguinha grita “estátua” e todos deverão permanecer paralizados, como estavam quando ouviram o grito “estátua”. Também assim será o momento do encontro com Deus. Quando o Senhor nos chamar, quando disser “estátua”, não haverá possibilidade alguma de mudança, mas nos apresentaremos a Ele como fomos encontrados. Portanto aquele ditado que diz “Para onde a árvore pende, para lá cairá”, é uma grande verdade. Qual lado a humanidade que somos nós hoje estamos pendendo?