QUEM NÃO ACEITA "MORRER" NÃO VIVE DE VERDADE

QUEM NÃO ACEITA

Como saber se a vida valeu a pena? Ter Dinheiro? Sexo? Poder? Fama? Sucesso? Bens materiais? Ter viajado e conhecido muitos lugares? Ter comido e bebido em abundância? Ter amado (feito sexo com) muitas pessoas? Ter realizado uma brilhante carreira profissional? Ter se enriquecido? Ter alcançado o maior grau na hierarquia do poder? Ter sido reconhecido e aplaudido pelo mundo? Segundo Jesus, o que faz a vida valer a pena é dedicarmos a nossa vida a fazer os outros viverem; no sentido de que nós aceitamos ser configurados ao grão de trigo que, caindo na terra e morrendo, produz muito fruto. Quem não é capaz de sacrificar sua vida pelo outro não sabe o que é ser feliz.

Jesus nos faz esse alerta: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,26). Em outras palavras, enquanto nós entendemos a vida como desfrutar o máximo possível das coisas deste mundo, já que a nossa existência terrena é muito breve, Jesus nos fala de uma outra vida, uma vida plena, que não é atingida pela morte, uma vida verdadeira, mas que só pode ser alcançada quando não nos importamos em “perder”, em gastar, em dedicar a nossa existência terrena a uma causa maior, que não é o nosso bem-estar pessoal, e sim a salvação da humanidade.

 

Para nos ajudar a compreender o sentido da vida, a razão de ser da nossa existência, Jesus se utiliza da imagem de um grão de trigo: se ele quiser ser poupado, guardado, preservado de ser enterrado, permanecerá apenas um grão de trigo. Mas se ele aceitar ser enterrado e passar pelo processo de “morrer”, produzirá muito fruto. O que é esse “morrer”? É dedicar a nossa existência a algo que a própria vida nos chamou a fazer; é deixar vir para fora aquela fecundidade que está guardada dentro de nós e que nos foi dada por Deus não em função de nós mesmos, mas em função do bem da Igreja, das pessoas, da sociedade humana. O que Jesus está nos dizendo é que, quanto mais nos fechamos em nós mesmos, mais infelizes e vazios nos sentimos. Pelo contrário, quanto mais nos doamos às pessoas ou a uma causa que precisa de nós, mais nos sentimos felizes e realizados.

O Evangelho, João 12, 20, narra que “alguns gregos” tinham subido “a festa para adorar Deus” e querem ver Jesus. Os gregos que buscam Jesus representam todo ser humano, buscador de felicidade, amor, sentido da vida, esperança, plenitude, verdade, beleza. Os gregos queriam conhecer Jesus. É o que nós devemos fazer. Você já conhece Jesus? Quem conhece Jesus, não vive apenas para si, mas se esforça para viver como o grão de trigo.

Aliás, o que faz a vida valer a pena? A vida vale a pena não pelo tanto que você vive, mas pelo tanto que você aceitar morrer para gerar vida à sua volta.

Da mesma forma como Jesus usou a imagem do grão de trigo para nos ensinar que o sentido da nossa vida está em fazer dela uma “vida para” o bem da humanidade, o Papa Francisco nos presenteou com uma belíssima e profunda reflexão: “Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa”.

“Viver para os outros é uma regra da natureza”. O sentido da vida não está em sermos felizes de maneira egoísta, sem nos importar com o sofrimento que atinge os outros.

Pensemos na hóstia que comungamos: se o grão de trigo não aceitasse ser enterrado e “morrer” debaixo da terra, não produziria trigo, e se os grãos de trigo não aceitassem ser triturados, não teríamos pão. A hóstia que comungamos é um pão sem fermento porque Jesus foi um homem sem o fermento do egoísmo e da autopreservação. Quem comunga o Corpo de Cristo é chamado a viver não mais em função de si mesmo, mas a fazer da sua vida uma “vida para” o bem da humanidade.    

A imagem do grão de trigo que morre para produzir fruto nos ensina que viver dói. Viver doí. Doar-se para o bem dos outros é sinônimo de sofrimento, embora nos encha de uma profunda alegria.

 

No Evangelho de João 12, 20-33, que acabamos de ler, Jesus deixou transparecer a verdade da sua dor ao fazer da sua vida um serviço para a salvação da humanidade: “Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27-28). “Hora”, no Evangelho de João, não está no sentido Cronológico e sim na entrega da própria vida de Jesus na Cruz. Ao morrer e ressuscitar, a vida vence a morte.  Quando nos preocupamos com o bem dos outros, quando nos deixamos atingir pela dor que atinge inúmeras pessoas à nossa volta, nós sentimos a mesma angústia que Jesus sentiu. E essa angústia nos incomoda tanto que somos tentados a pedir ao Pai: “Livra-nos, Senhor! Livra-nos de sofrer! Livra-nos de sentir esta dor! Livra-nos desta hora!”

Aqui é que entra o nosso maior desafio de seguir Jesus. Se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a encontrará.  Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

(Mateus 16,24-26) As pessoas querem milagre sem sacrifício.

Se o sofrimento atinge a vida de todas as pessoas, por que eu teria a pretensão de passar pelo mundo sem sofrer? Foi para esta hora que eu vim: a hora de doar-me pelo bem da humanidade, a hora de sacrificar-me para que o mundo se torne um lugar melhor. Eu aceito e abraço a minha “hora” porque tenha consciência de que essa experiência de cruz diz respeito a mim e não a outra pessoa’.  

   

“Os cristãos encontraram uma maneira de sentar-se, não se sabe como, de modo confortável na cruz”. Em outras palavras, muitos de nós, cristãos, comungamos da mesma aversão que o mundo tem da cruz. Sim: cruz é cruz; dor é dor; morrer é morrer. Jesus nunca mascarou a sua dor diante do Pai e nunca encarou a cruz como uma poltrona suave sobre a qual se sentar.

 

Por que você eu, temos medo da cruz? Por que, muitos cristãos não assumem responsabilidade com Jesus? Sejamos honestos, “Sejamos quentes ou sejamos frios, não sejamos mornos, que eu te vomito”, diz o texto Bíblico do Apocalipse, Capítulo 3, Versículo 16. “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”, disse o Senhor Deus.