Há muitos que dizem seguir Jesus, mas não são seus discípulos; seguem por outras razões
Por que Jesus diz isso? Naquele tempo, grandes multidões acompanhavam Jesus. Na verdade, o texto diz “acompanhavam” e não “seguiam”. Há uma diferença fundamental entre acompanhar e seguir. Seguir significa imitar, ser discípulo; acompanhar é algo sem compromisso. Assim, muita gente estava indo atrás de Jesus, mas ele percebeu que boa parte não estava o seguindo, mas apenas acompanhando, como se acompanha uma procissão.
Fazer renúncias, o que Jesus quer dizer é o que não podemos colocar nada no lugar de Deus. Nem a nossa vida, pois o primeiro mandamento de Deus é este: “Amar a Deus sobre todas as coisas”. A família é um dom de Deus e devemos amá-la e cuidar dela, mas ela não é mais importante que Deus. Nós também não somos mais importantes que Deus. Nossa vida só tem sentido se ela estiver a serviço de Deus. “Quem não vive para servir não serve para viver”, a vida é para ser doada, pois seguir a Cristo é doar a própria vida. Quem pensa em ganhar a vida sem Jesus vai perdê-la. E quem perder a vida nesse seguimento vai ganhá-la, diz Jesus. Desse modo, Jesus conta duas curtas parábolas com a intenção de nos ajudar, as parábolas da construção da torre e da guerra. Quando alguém vai construir um edifício, deve primeiro saber se terá o recurso suficiente para concluí-lo. Começar uma obra e não conseguir terminar significa prejuízo em todos os sentidos. Além do prejuízo, a pessoa pode passar vergonha por ter dado “um passo maior que a perna”. Muitos irão zombar dessa pessoa pela sua incompetência. O mesmo diz a parábola do rei que vai guerrear com seus adversários. Se ele não tiver homens suficientes para vencer a guerra, é melhor desistir antes. Com essas duas parábolas, Jesus ilustra a avaliação que devemos fazer para segui-lo.
Jesus está nos chamando para o discernimento, em segui-Lo. “Será que eu dou conta de segui-Lo? Será que eu dou conta de viver esta vocação? Será que eu sou chamado a viver esta vocação?”.
Quem entra para o serviço de Deus, para o ministério ordenado, o ministério sacerdotal, precisa fazer as contas. “Eu dou conta de ter uma vida toda doada a Deus e ao próximo? Vou suportar viver o celibato?” Dou conta de viver a obediência?”. É preciso fazer as contas.
Quem escolhe o matrimônio também tem que fazer as contas. “Dou conta de condividir a vida com alguém? Dou conta de cuidar das crianças? Tenho a vocação materna, paterna?”. É preciso fazer as contas. “Nesse trabalho que estou desejando entrar, as regras são estas. Tenho horário para isso, tem horário para aquilo? Tenho que realizar esse trabalho e vou ser pressionado… Vou dar conta?”. Jesus nos chama a fazer o discernimento, a fazer as contas.
Não diga o seu ‘sim’ na empolgação, mas diga o seu ‘sim’ de coração, tendo feito um discernimento, tendo feito os cálculos para seguir e servir a Nosso Senhor. Porque não é fácil, é uma graça, é uma grande responsabilidade, mas é preciso assumir de coração.
Portanto, o que Jesus está nos dizendo é que muitos começaram a segui-lo com entusiasmo, mas não foram capazes de chegar até o fim. Abandonaram a fé pelo meio do caminho. Por qual motivo? Porque não calcularam “os gastos” dessa construção; porque esperavam que ela fosse menos custosa, que exigisse menos renúncia e sacrifício. Numa palavra, muitos iniciaram a construção de um relacionamento, de uma família, de uma profissão, de um trabalho voluntário, de uma espiritualidade, mas não foram capazes de chegar até o fim porque não souberam lidar com a própria cruz.
Quem quer construir um relacionamento, mas não se desapega do seu ego, não será capaz de permanecer nele. Muitos iniciaram um caminho de fé com Jesus, mas depois desistiram, porque não aceitaram caminhar atrás de Jesus; queriam caminhar na frente, escolhendo por si mesmos o melhor caminho, o mais tranquilo, o menos sofrido. É aquilo que diz o Pe. Zezinho: “Não querem Jesus, querem a parte suave de Jesus. Não querem o Cristo, querem a parte agradável do Cristo. Não querem a cruz, querem a parte menos dolorosa da cruz... Não querem a Bíblia, querem parte dela: a que prova que estão certos. Assim agem muitos cristãos. Assim talvez nós ajamos” (Cristo aos pedaços, parte da reflexão publicada na Revista Paróquias, julho/agosto de 2013, p.58)
Jesus deixou bem claro suas exigências para sermos seus discípulos: “Quem amar o pai, a mãe, o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”. Na verdade, Jesus não está incentivando o desamor aos nossos familiares, mais sim, que amemos mais a evangelização, a Ele do que a família. Ao dizer isso, Jesus não está abolindo o 4º mandamento (Honrar pai e mãe), mas sim, nos mostrando a força do primeiro mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas) inclusive as pessoas.
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