Para você, ainda faz algum sentido crer em deus?
“Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5). A nossa fé só poderá sobreviver se aprender a esperar. Sem a capacidade de esperar, a fé morre asfixiada. O oxigênio da fé é a esperança. Uma fé que não se alimenta de oração morre por desnutrição.
O problema é que esperar em Deus e esperar por ele significa dependência, e o ser humano moderno detesta depender do outro. O ser humano moderno não quer depender de Deus, mas sujeita-se a depender de dinheiro, de afeto, de aceitação, de aprovação, de reconhecimento etc. No fundo, a verdade é uma só: quando não se escolhe depender de Deus, sofre-se uma dependência imposta a partir de fora, pelos ídolos modernos.
A realidade brasileira que não é diferente da realidade europeia, ainda que numa proporção (por enquanto) menor: a “religião” que mais cresce no Brasil é a dos “sem religião”; pessoas que não só decidiram se desligar de qualquer instituição religiosa, mas – sobretudo e cada vez mais – pessoas que decidiram se desligar de Deus. Veja que ironia! A palavra “religião” significa “religar”, e cada vez mais pessoas estão decidindo “se desligar” de Deus! Qual seria o motivo?
O motivo parece estar nas perguntas que não encontram respostas; perguntas como estas, do profeta Habacuc: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: “Violência!”, sem me socorreres?” (Hab 1,2). Quem de nós já não questionou seriamente Deus em algum momento da vida?
‘Por que o Teu silêncio, Senhor?! Por que a Tua indiferença para com a humanidade?!’ Esta era a dor e a raiva de Habacuc. Esta é a dor e a raiva de tantos que decidiram de desligar de Deus. Afinal, para quê continuar ligado a um Deus que não se manifesta perante a injustiça que causa tanto sofrimento aos Seus filhos, um Deus que permitiu que meu filho fosse morto por um motivo banal, ou que permitiu que a pessoa que eu mais amava morresse de câncer? Para quê continuar orando a um Deus que simplesmente parece ignorar a dor de grande parcela da humanidade, que permite que o mal se dissemine com uma força cada vez maior no mundo?...
“Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5). De fato, nós devemos pedir fé porque ela é um dom de Deus (cf. Jo 6,44). Ter fé significa que eu não vejo e não entendo para onde Deus está me guiando, mas eu amo e confio n’Aquele que está me guiando. “Eu não sei para onde a minha vida está indo, mas eu sei Quem a está conduzindo” (Santa Edith Stein). Eu não entendo o que está acontecendo comigo neste momento, mas eu confio que Deus tem um propósito para mim, ao permitir que eu passe pelo que estou passando agora.
“Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta a nossa fé!’” (Lc 17,5). Crer, ter fé, nunca foi e nunca será fácil, porque significa abrir mão das nossas seguranças humanas, para nos apoiar no “Deus escondido” (Is 45,15), isto é, no Deus que não podemos ver, no sentido de “controlar”, mas apenas ouvir e confiar no que Ele nos fala, isto é, na sua Palavra.
Deus nos diz: “Se vocês não se atreverem a se apoiar em Mim, jamais experimentarão que são amparados”.
A imagem dos trapezistas nos ajuda a entender o quanto a fé exige que nós soltemos da nossa barra de segurança e confiemos que Deus vai nos segurar em Suas mãos: “A cada desempenho, os trapezistas confiam em que seu voo terminará quando suas mãos deslizarem para o aperto seguro das mãos do parceiro. Sabem que só o ato de soltar-se da barra de segurança permite-lhes voarem com leveza para a próxima. Antes de serem pegos, precisam soltar. Precisam desafiar o vazio do espaço. Viver com essa disposição para soltar é um dos maiores desafios que enfrentamos” (H. Nouwen, Transforma meu pranto em dança).
Muitas pessoas abandonaram o caminho da fé porque não souberem lidar com o silêncio de Deus diante das suas orações. Desse modo, são muito oportunas essas palavras de Santo Agostinho: “Quando você se afasta do fogo, ele continua aceso e aquecendo, mas você se esfria. Quando você se afasta da luz, ela continua brilhando, mas você se cobre de escuridão. O mesmo acontece quando você se afasta de Deus”.
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