Jesus sacia não só a fome material, mas aquela mais profunda, a fome do sentido da vida, a fome de Deus

Jesus sacia não só a fome material, mas aquela mais profunda, a fome do sentido da vida, a fome de Deus

Naquele tempo, na China, um discípulo perguntou ao mestre: - "Mestre, qual a diferença entre o Céu e o inferno?" E o mestre respondeu: - "É muito pequena, mas com grandes consequências." E o mestre explicou: - "Vi um grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento. Ao redor dele, havia muitos homens, quase morrendo de fome. Eles não podiam se aproximar do monte de arroz, mas possuíam longos palitos de 2 a 3 metros de comprimento. No entanto, embora conseguissem apanhar o arroz, não conseguiam levá-lo até à boca porque os palitos, em suas mãos, eram longos demais. Assim, famintos, embora juntos, permaneciam SOLITÁRIOS, curtindo uma fome eterna, diante de uma fartura inesgotável. Meu amigo: isto é o inferno."

 

E o mestre continuou: - "Vi outro grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento. Ao redor dele, havia, também, muitos homens e mulheres famintos, mas cheios de vitalidade. Eles, também, não podiam se aproximar do monte de arroz, pois possuíam longos palitos de 2 a 3 metros de comprimento. Eles, também, encontravam as mesmas dificuldades para levar à própria boca o arroz, já que os palitos eram longos demais. Porém, eis a grande novidade: com seus longos palitos, em vez de levarem à própria boca, eles serviam o arroz uns aos outros. Dessa forma, SOLIDÁRIOS, matavam sua fome, pela partilha, ajuda ao próximo. Meu amigo: isso é o Céu."

 

No evangelho de João 6,1-15, André, o irmão de Simão Pedro, disse a Jesus: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (João 6, 8-9).  Jesus dirige hoje, essa pergunta a cada um de nós, seus discípulos, porque Ele deseja que cada um de nós se deixe afetar pelo sofrimento que afeta os pobres à nossa volta. Enquanto católicos tradicionalistas desejam missas em latim, a volta do uso do véu para as mulheres e comunhão dada na boca, Jesus nos pergunta se as nossas mãos, que se estendem para receber a Eucaristia, também têm se estendido para dar pão a quem tem fome. “Se você não conseguir encontrar Cristo no mendigo na porta da igreja, não o encontrará no cálice”.

 

 Mas, afinal de contas, onde está a solução para o problema da fome em nosso mundo? Ela está na nossa consciência, no nosso bolso e nas mãos de cada um de nós. Tanto na época do profeta Eliseu como na época de Jesus, a fome foi saciada com “pães de cevada” (cf. 2Rs 4,42; Jo 6,9), alimento de pessoas pobres. Quais são seus “pães de cevada”? Quais são os pequenos recursos que você tem consigo, mas não tem feito uso deles na Partilha?

 

Deus dá riqueza “não para você desperdiçar com mulheres, bebida e comida sofisticadas, roupas caras..., mas para distribuir aos necessitados... Se você tem dois pares de sapatos, um pertence aos pobres”. Nada deve se perder; nada deve ser desperdiçado; tudo deve ser partilhado.

 

 Contudo, após saciar toda aquela multidão, Jesus precisou se afastar dela: “Quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte” (Jo 6,15). É muito importante que você possa ajudar pessoas necessitadas, mas não permita que elas elejam você como o(a) salvador(a) particular delas; não permita que as pessoas deixem de caminhar com suas próprias pernas e queiram ser carregadas no seu colo; não permita ser usado(a), sugado(a) ou explorado(a) pelos outros. Respeite seus limites e não se esgote.

 

A fome no mundo não é um problema de falta de alimento, mas de concentração de renda, a qual produz desigualdade social. A fome de muitos é consequência direta da ganância de poucos, como afirmou Gandhi: “A Terra tem o suficiente para as necessidades de todos, mas não para a ganância de alguns”. Por isso, a solução do problema da fome passa pela partilha, como fizeram o profeta Eliseu e Jesus. Quando Eliseu mandou distribuir 20 pães de cevada para cem pessoas e foi questionado – “Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?” (2Rs 4,43) – respondeu: “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará’” (2Rs 4,43). Diferente de Eliseu, nós temos uma mentalidade individualista, que nos leva a acumular, achando que aquilo garantirá a nossa sobrevivência.

 

Hoje Jesus nos faz a mesma pergunta que fez a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo 6,5), uma pergunta que se desdobra em muitas outras: Você identifica a sua fome de sentido de vida, que vai muito além do seu estômago? Você tem consciência de que “cada vez mais as pessoas têm como viver (materialmente), mas elas não têm uma razão para viver” (Victor Frankl)? Você identifica o grito de fome das pessoas que necessitam do alimento da sua presença junto a elas?

 

“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes” (Jo 6,11). Os mesmos olhos de Jesus, que se levantaram para enxergar a multidão faminta (v.5), foram os olhos que se elevaram ao Pai para agradecer pelos cinco pães e pelos dois peixes: Nós temos o hábito de agradecer a Deus pelo alimento que temos em nossa mesa? Depois de ter saciado aquela imensa multidão, Jesus orientou os discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” (Jo 6,12). Eis aqui outra causa da fome no mundo: o desperdício de alimento. “Mais de 1 bilhão de refeições vão parar no lixo diariamente no mundo; número é maior que o de pessoas que passam fome” (G1). Outra forma de entender o desperdício: quanto tempo desperdiçado diante do celular, dos jogos eletrônicos ou da TV? Aliás, quantas ocasiões desperdiçadas que poderiam diminuir distâncias e favorecer o reencontro com Deus, na Santa Missa, nos saciando fisicamente e espiritualmente.