NÃO SEJA UMA PESSOA INCRÉDULA, MAS TENHA FÉ!

NÃO SEJA UMA PESSOA INCRÉDULA, MAS TENHA FÉ!

O tempo de Páscoa é marcado pelas aparições de Jesus entre os Apóstolos, mostrando que eles havia ressuscitado e continuava vivo entre eles. Jesus aparecerá na figura de um jardineiro, de pessoa simples, trabalhador humilde. Pela primeira vez a Maria Madalena: então na figura de peregrino, migrante, quando ele aparece a dois de seus discípulos no caminho de Emaús: ou ainda na figura de um pedinte, a beira do mar da Galileia, quando os Apóstolos estão pescando e ele aparece na margem e pergunta se eles teriam alguma coisa para comer; e aparece como se fosse um fantasma.

Hoje, neste segundo domingo de Páscoa, dia 07 de abril, o texto nos traz os discípulos de porta fechadas, com medo das autoridades dos judeus. Mas estavam com o coração fechado. Quando nós fechamos a porta do coração, não percebemos os sinais da ressurreição, não percebemos o Cristo ressuscitado. São muitas as causas desse fechamento de coração. Os discípulos estavam com medo, e por isso, se trancaram, se fecharam num pequeno grupo, numa pequena sala e, se assim permanecessem, o cristianismo teria fracassado. Mas Jesus não desiste e insiste com eles e conosco. Mesmo estando com as portas e coração fechados, ele entra, se coloca no meio deles, desejando-lhes a paz. A paz é o primeiro desejo de Cristo depois da ressurreição. Creio que temos que pensar mais sobre. Quando falta a paz em nossos corações, e entre nós, dificilmente seremos testemunhas da ressurreição, dificilmente seremos bons cristãos. O bom cristão é promotor da paz, não é uma paz alienada sem compromisso, mas uma paz que é resultada da justiça. Jesus entra e se põe no meio deles e lhes desejas a paz. Depois de desejar a paz, mostra-lhes as mãos e o lado. Ou seja, prova que é Ele mesmo que está ali, e não um fantasma. Mostrar as marcas dos pregos foi um dos procedimentos de Jesus para provar que era Ele mesmo, ou seja, que havia ressuscitado. Os discípulos ao reconhecerem Jesus, seus medos se dissiparam. Eles viram que não estavam sozinhos, e que não tinham sido em vão toda luta, agora começava um novo tempo. Jesus insistiu na paz e repetiu isso por três vezes, mostrando quão importante é ter paz e promovê-la. Jesus envia os seus Apóstolos como o pai o havia enviado. Ou seja, os Apóstolos receberam a mesma autoridade de Jesus, não significa, que eles não teriam dificuldade. Jesus teve muitas dificuldades, passou por muitas situações e os Apóstolos também iriam passar, mas Jesus, então sopra sobre eles o Espírito Santos. Pentecoste acontece no mesmo dia da Pascoa. Essa é a característica do Evangelho de São João; juntar Páscoa e Pentecoste. Receber o Espírito Santos significa receber o aval para a missão ou para a continuidade da missão de Jesus. Jesus estaria presente em cada ato dos seus Apóstolos, dos seus discípulos, enfim, de cada cristão que agir em nome dele, fazendo o bem. Por isso, nós somos batizados em nome da Trindade Santa (Pai, Filho e Espírito Santo). Jesus deu-lhes autoridade ao dizer que, os pecados daqueles que eles perdoassem seriam perdoados, e os pecados que eles não perdoassem, seriam retidos. Perdoar ou não pecados, significa o livre arbítrio na missão. Significa responsabilidade, decisão, compromisso. O sacerdote não fez isso por si mesmo, mas pelo poder que lhe foi confiado através do sacramento, não é um ser mágico, dotado de poderes miraculosos, mas age em nome da igreja católica e apostólica.

       O evangelho mostra que Tomé, um dos discípulos, não estavam com os outros quando Jesus apareceu. Tomé não acreditou no relato dos demais e não acreditando, não iria testemunhar a ressurreição. Há cristão que se assemelha a Tomé. Precisa de comprovação, precisa de elementos concretos para crer. Os cientistas fazem isso, precisam de comprovação de um dado científico para que eles sejam aplicados. Com a fé e diferente. A fé não necessita de prova, mas Jesus faz questão de provar também a Tomé que Ele ressuscita. Já que ele, tinha aparecido aos demais, apareceu também a eles noutro momentos, quando Tomé estavam junto com eles. A diferença, porém, é que ele se dirige especialmente a Tomé e pede que ele coloque as mãos nas marcas dos pregos. Somente assim Tomé acreditou. Diante dessa manifestação, Tomé faz a sua profissão de fé, dizendo – “Meu senhor e meu Deus “. Então Jesus diz a ele e a todos nós: “Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem terem visto. Com isso, nós temos um elemento importante para nossa fé e o nosso testemunho. Mesmo que não tenhamos visto nada de miraculoso em nossa vida, seremos felizes se crermos e testemunharmos a ressurreição de Cristo. É esse o apelo do evangelho de hoje, deste Segundo Domingo da Páscoa.

“Se eu não vir, não acreditarei” (Jo 20,25). O Tomé que nos habita precisa ser levado a sério. A questão não é tanto o fato de crermos que Cristo ressuscitou, mas de cremos que a sua ressurreição tenha tornado o nosso mundo melhor. O problema são as feridas que continuam a ser abertas na humanidade e na vida de cada um de nós. Nos parece inconciliável celebrar a ressurreição de Cristo tendo em nós tantas feridas abertas. Mas o Evangelho de hoje foca a nossa atenção exatamente nas feridas de Jesus! Ele ressuscitou. Seu corpo, antes crucificado, está agora glorificado. No entanto, seu novo corpo glorificado ainda carrega em si as feridas da sua crucificação!

Talvez aqui esteja o nosso grande engano: achar que uma vida ressuscitada é uma vida blindada contra feridas. Para nos ajudar a rever essa compreensão errada a respeito da nossa fé, precisamos refletir sobre essas palavras do Pe. Tomás Halík: “Dizem que o próprio Satanás apareceu a São Martinho sob a aparência de Cristo. No entanto, o santo não foi enganado. Ele perguntou: ‘Onde estão as tuas feridas?’ Não acredito em ‘fé sem feridas’, em uma igreja sem feridas, em um Deus sem feridas. Somente o Deus ferido através de nossa fé ferida poderia curar o nosso mundo ferido”. Um Cristo ressuscitado sem feridas é um falso cristo. Se o seu corpo glorioso mantém em si as feridas da cruz é para nos lembrar de que a nossa ressurreição nascerá exatamente das nossas lutas, nas quais nos ferimos para gerar vida e esperança em nosso mundo.

Neste sentido, é muito oportuna esta palavra do Papa Francisco: “Nunca devemos esquecer que uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida” (21/01/22). Que a nossa fé amadureça nos momentos de “tribulação”, de modo a produzir em nós o fruto da “perseverança” em Cristo crucificado e ressuscitado (cf. Ap 1,9).