O que me torna um homem impuro?

O que me torna um homem impuro?

Jesus enumera 12 atitudes, comportamentos que nos faz impuro (Marcos 7,1-8.14-15.21-23). Vejamos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Jesus da uma aula o que é pecado, impureza. Pecado, impureza não é o que entra, mas o que saí do coração. A Igreja ensina que não é pecado pensar coisa ruim, pois tem vez que você está tranquilo, do nada vem um mal pensamento. Pensar não é pecado, até porque você não controla os seus pensamentos. De repente você está tranquilo e vem um pensamento ruim, um pensamento de vingança, de raiva, de malicia. Portanto, pecado, é consentir o pensamento, executar. A impureza é praticar estas atitudes. Aliás, o que nos suja hoje?

“Sujeira pra todo lado”. Mas, de onde vem a sujeira que nos torna “impuros”? Para os fariseus da época de Jesus e de hoje, ela vem dos outros: do contato com quem não é da minha igreja ou da minha religião; do contato com quem não tem a cor da minha pele, que não mora no meu condomínio ou no meu bairro, que não pertence à minha classe social etc. Para os países da Europa, a “sujeira” vem dos imigrantes que todos os dias chegam pelo mar, fugindo da fome, da guerra e da perseguição religiosa. Para o Estado Islâmico, o perigo da impureza vem dos cristãos, que precisam ser exterminados...

Hodiernamente, como estamos nós? Puros, ou impuros? Como está a nossa alma? Limpa de todo pecado, ou cheia de impurezas do pecado? E se eu ou você morrêssemos hoje? Para onde iríamos? Para o Céu, ou para o inferno? A pureza, não se trata exatamente de cuidados com a higiene, mas sim, com a pureza da alma, a pureza do nosso espírito, a pureza dos nossos pensamentos. É claro que Jesus não era favorável a falta de higiene, mas sim, Ele estava combatendo a hipocrisia dos judeus.

No tempo de Jesus havia uma separação religiosa: as pessoas puras não deveriam se misturar com as pessoas impuras. No caso, os fariseus, que se consideravam puros, não se misturavam com os pagãos, considerados por eles como impuros. No entanto, Jesus nunca se preocupou com essa separação. Pelo contrário, ele quebrou essa tradição por entender que quem precisa de médico são os doentes (cf. Mt 9,12), quem precisa de salvação são os perdidos (cf. Lc 19,10). Portanto, o lugar da Igreja, o lugar de todo discípulo de Jesus, é no meio das pessoas impuras, pessoas que são feitas impuras por uma sociedade injusta, que joga inúmeras pessoas na impureza da violência, do desemprego, da prostituição, da falta de acesso à saúde e à educação.

Mas, afinal de contas, como começou essa discussão de Jesus com os fariseus, a respeito do puro e do impuro? Ela começou com o fato de que alguns dos discípulos de Jesus “comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado” (Mc 7,2). Então, os fariseus foram questionar Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos? ” (Mc 7,5). A questão hoje é: o que suja as nossas mãos?

O culto que agrada a Deus de verdade é o amor ao próximo. Para Jesus, o que importa é sempre o coração, não as práticas externas, claro que elas têm seus valores, mas depende do coração convertido. O apóstolo Tiago disse: “a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Hoje nós vivemos um momento crítico em nossa Igreja: o fascínio pelo tradicionalismo. Infelizmente alguns jovens, seminaristas e padres rejeitam a Igreja do Papa Francisco – a Igreja segundo o Evangelho – e sonham com o retorno da Igreja da época da cristandade, uma Igreja reverenciada pelo mundo, uma Igreja ornada de ouro, onde seus ministros se revestem de paramentos caros e luxuosos na mesma proporção em que são vazios e se mantém distantes dos pobres e dos que sofrem. Diferente de Jesus e do Papa Francisco, que entendem a missão da Igreja como presença de salvação junto aos impuros desse mundo.

A geração tradicionalista quer a volta de uma Igreja separada do mundo, distante dos conflitos da humanidade, fechada em si mesma, sentada no trono da sua arrogância e na sua presunção de se achar uma instituição “pura” no meio de um mundo “impuro”. Esse tipo de Igreja, além de ser uma traição ao Evangelho, é um prejuízo à humanidade.

Jesus, após rejeitar o tradicionalismo religioso dos fariseus, disse: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (Mc 7,20). Aliás, nós não somos o que o mundo faz de nós; nós somos aquilo que decidimos fazer com o que o mundo nos oferece.

Sem dúvida, todos nós recebemos uma forte influência do mundo, principalmente da mídia e da tecnologia. Mas Jesus faz duas perguntas a cada um de nós: ‘O que há dentro de você: um filtro ou um esgoto? Sua consciência/seu coração funciona como um filtro ou como um esgoto?’ Enquanto o esgoto engole tudo, o filtro separa o que presta do que não presta, o que convém daquilo que não convém. Muitas pessoas acham mais fácil “funcionar” como esgoto do que como filtro. Dá menos trabalho; no entanto, isso nos faz um mal imenso. Há muita coisa tóxica que tem se instalado dentro de nós porque mudamos nosso filtro em esgoto. Dado o exposto, somos Filtro ou Esgoto? Puros ou impuros?

 

 

Paróquia São José Operário

Padre Edson Alves de Oliveira

Guaxupé-MG.