Todo dinheiro pode afastar você de deus e da sua salvação
“A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10). Por causa do dinheiro, os homens fazem guerra. Por causa do dinheiro, o tráfico de drogas se espalha e se intensifica em todos os lugares, destruindo famílias, destruindo vidas. Por causa do dinheiro, a maioria dos alimentos que nós comemos está envenenada por agrotóxicos, hormônios e inúmeras outras substâncias cancerígenas. Por causa do dinheiro, desmata-se, envenenam-se rios, destrói-se a natureza. Por causa do dinheiro, matam-se pessoas para traficar seus órgãos. Por causa do dinheiro, fabricam-se produtos sempre mais descartáveis, aumentando a produção de lixo e causando seríssimos problemas ao meio ambiente. Por causa do dinheiro, manipula-se a Bíblia, e diversos pregadores tornam-se ladrões e assaltantes em nome de Deus. Por causa de dinheiro, a política deixa de ser entendida como o cuidado com o bem comum e passa a ser entendida apenas como chance de enriquecimento rápido e abundante.
A crítica ao dinheiro não é uma questão somente política e econômica, mas também bíblica. Deus se pronuncia totalmente contrário a todo tipo de política, de economia e de religião que favorecem a desigualdade social, tornando os ricos sempre mais ricos e os pobres sempre mais pobres: todos aqueles que “pisam sobre os pobres” e “arruínam os necessitados” da terra serão julgados com severidade por Deus, segundo o profeta Amós. A leitura da Profecia de Amós critica severamente aquele que maltrata o irmão, que olha a vida com olhos oportunistas para tirar proveito da situação adversa em que está o carente. Nos últimos anos, os preços dos alimentos explodiram no Brasil e no mundo, o país que mais produz e exporta alimentos no mundo. Quem vai ao supermercado se dá conta de que todos os alimentos da cesta básica – arroz, feijão, óleo, açúcar, café etc. – triplicaram de preço, consequência de uma política econômica que favorece os ricos e prejudica os pobres. Se essa constatação parece fruto de ideologia política, vejamos o que Deus diz a respeito dos produtores, dos fabricantes e dos comerciantes que provocam o aumento abusivo de preços: “Jamais esquecerei coisa alguma do que eles fizeram” (Am 8,7). Deus não é indiferente às questões sociais. Enquanto aqueles que se enriquecem causando empobrecimento e aumentando ainda mais a desigualdade social adesivam seus veículos com a frase: “Meu partido é o Brasil”, Deus deixa claro que seu partido são todos os seres humanos prejudicados pela ganância desmedida daqueles que lucram com a pobreza alheia.
Todos nós vivemos numa sociedade onde o dinheiro é “tudo”. O que move o mundo é o dinheiro. Em teoria, existem muitas religiões; na prática, porém, só existe uma: a religião chamada “mercado”, cujo deus é o dinheiro. Na época de Jesus, não era muito diferente. Foi por isso que ele nos fez um alerta: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc 16,13). “Dinheiro” aqui é designado com “D” maiúsculo porque ele compete com Deus; ele promete nos dar aquilo que somente Deus pode nos dar: segurança e salvação. Todos nós estamos dentro de uma economia de mercado. Ninguém sobrevive sem dinheiro. Com ele, nos sentimos seguros e em paz; sem ele, nos angustiamos e nos desesperamos.
Conhecendo bem o coração humano, Jesus afirmou que “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Aqui é o caso de perguntar: Você se esforça em cuidar da sua vida espiritual da mesma forma que se esforça em ganhar dinheiro? Você tem consciência de que dinheiro algum pode impedir você de morrer (cf. Sl 49,8-10)? Você tem consciência de que seu julgamento diante de Deus se dará exatamente baseado na forma como você tratou os necessitados e os pobres deste mundo (cf. Mt 25,31-46)?
Jesus nos lança um desafio: “Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). Não há dinheiro que compre Deus, que compre a nossa salvação, o nosso lugar no Reino de Deus. No entanto, existe uma forma de usar o dinheiro de maneira que ele nos aproxime de Deus e da sua salvação: socorrendo os necessitados; de maneira mais inteligente, usando o nosso dinheiro para ajudar a diminuir a desigualdade social à nossa volta; aplicando o nosso dinheiro em projetos que gerem algum tipo de renda para quem está desempregado. A nossa entrada nas “moradas eternas” depende exatamente disso, segundo Jesus: da nossa solidariedade para com os pobres. A indiferença a eles sela a nossa condenação perante Deus.
Jesus quer que sejamos “espertos” em relação à nossa salvação. Neste sentido, ele nos faz uma provocação: “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Para ganhar dinheiro, algumas pessoas não medem esforços e sacrifícios, enquanto que nós, cristãos, para ganharmos a Vida eterna, parecemos não ter a mesma disposição em nos esforçar e nos sacrificar... Além disso, uma vez que todos nós vivemos num mundo onde o dinheiro é o motor principal da sobrevivência, Jesus nos lança um desafio: “Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando ele acabar, eles receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). Segundo Jesus, o dinheiro é “injusto” não quando conseguido de maneira ilícita, mas simplesmente por se tratar de dinheiro! Portanto, até para as pessoas honestas o dinheiro é um ídolo: ele prende o homem a seus bens materiais e alimenta seu egoísmo ou seu instinto de dominação. A única maneira de nos livrarmos do perigo das riquezas em relação à salvação é destiná-las às obras de caridade, socorrendo os necessitados.
Por fim, vemos que este administrador acaba em apuros porque aproveitou dos bens de seu senhor; agora ele terá que prestar contas e perderá seu emprego. Mas ele não desiste, não se faz de vítima; pelo contrário, age imediatamente com astúcia, procura uma solução, é audacioso. Jesus parte desta história para nos lançar uma primeira provocação:
Em que consiste a esperteza do administrador? Primeiro acumulava as riquezas para si mesmo, agora ele as usa para fazer amigos que podem ajudá-lo no futuro. Jesus, então, nos oferece um ensinamento sobre o uso dos bens:
"Fazei amigos da riqueza desonesta, para que, quando ela vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas" (v. 9). Ou seja, para herdar a vida eterna não é necessário acumular os bens deste mundo, mas o que conta é a caridade que teremos vivido em nossas relações fraternas. Eis então o convite de Jesus: não usai os bens deste mundo somente para vós mesmos e vosso egoísmo, mas vos servi deles para gerar amizades, para criar boas relações, para agir em caridade, para promover a fraternidade e para exercer o cuidado com os mais fracos.
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