Páscoa é deixar-se contagiar pela esperança de Cristo. VIVOS OU MORTOS, PERTENCEMOS AO SENHOR RESSUSCITADO!
A pandemia do coronavírus ressuscitou em nós a consciência da morte. As doenças, os acidentes, as guerras e a violência em nosso mundo nos lembram que a morte pode nos atingir de várias maneiras, a partir de fora. Mas o problema principal é quando nós nos deixamos morrer a partir de dentro! Algumas pessoas, depois de serem atingidas por algum tipo de morte, reagiram e decidiram ressuscitar, enquanto outras se entregaram e se deixaram morrer. Nós conhecemos países ou cidades que, depois de serem destruídos por uma catástrofe, conseguiram se levantar e se reconstruir, assim como conhecemos pessoas que, depois de um acidente, depois de uma doença, de uma grande perda, aos poucos foram reagindo, retomando o desejo de viver e hoje estão “ressuscitadas” no meio de nós. Mas também conhecemos pessoas que, por muito ou por pouco, entregaram-se ao desânimo, ao fatalismo, e estão como que mortas no meio de nós.
Ainda assim, existe uma palavra de esperança também para quem desistiu de viver: “Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor, pois foi para isto que Cristo ressuscitou, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos!” (Rm 14,8). Quer eu me sinta vivo, quer eu me sinta morto, eu pertenço ao Senhor Jesus, cujas mãos me amparam, me possibilitam fazer a Páscoa e me conduzem no caminho para a Vida.
Como nos sentimos na manhã de domingo de Páscoa? Ainda estava escuro, quando Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus e viu que a pedra tinha sido retirada. Ainda está escuro para nós também. Ainda temos que viver em quarentena. Ainda precisamos praticar o isolamento social. Ainda não fomos vacinados para ficarmos imunes ao novo coronavírus. Ainda nos sentimos ameaçados por ele e pelo desemprego. Ainda está escuro, mas o Evangelho do domingo de Páscoa nos lembra que não existe noite escura que possa impedir o sol de nascer. Assim, quando os primeiros raios de sol começam a iluminar o dia, Maria Madalena vê que a pedra que lacrava o túmulo de Jesus havia sido retirada.
A Vigília Pascal que celebramos nos lembrava de que “nunca houve noite que pudesse impedir o nascer do sol e a esperança”. Isso significa que não há situação que Deus não possa mudar. Crer em Deus não nos impede de morrer, nem de ficarmos doentes, ou de perdermos o emprego, de sofrermos um acidente, de perdermos alguém que amamos, de experimentarmos quedas, fraquezas ou fracassos em nossa trajetória de vida. Mas a nossa fé é chamada a se lançar para além desta vida terrena: “Se temos esperança em Cristo (ressuscitado) somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (1Cor 15,19). Se a nossa fé no Cristo ressuscitado serve de esperança somente para as coisas presentes, nós não entendemos nada a respeito da ressurreição, uma vez que ela diz respeito à verdadeira Vida, à vida eterna.
Justamente por isso, o apóstolo Paulo nos convida a nos esforçar por “alcançar as coisas do alto, onde Cristo está” (Cl 3,1-2). Viver como ressuscitados, exige de nós um esforço diário para não reduzir nossas esperanças às promessas mundanas de felicidade. A fé no Cristo ressuscitado nunca poderá se transformar em blindagem, isto é, em proteção absoluta contra a dor, o sofrimento e a morte, mas como garantia de vitória contra tudo aquilo que hoje fere a nossa vida.
Uma pessoa que crê no Cristo ressuscitado não está revestida de glória aqui e agora; pelo contrário, ela é chamada a não comungar, não compactuar com aquilo que no mundo produz injustiça e cruz, e saber que sua vida de pessoa ressuscitada está “escondida com Cristo em Deus”, da mesma forma que uma semente carrega escondida dentro de si a vida de uma grande árvore capaz de produzir inúmeros frutos. Como aconteceu com Cristo, assim acontecerá com aqueles que creem na Sua ressurreição: “semeado mortal, o corpo ressuscita imortal; semeado desprezível, ressuscita cheio de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,43-44).
A pandemia do novo coronavírus ainda ferirá de morte inúmeras pessoas, lembrando-nos de que a morte nos iguala a todos, independente da raça, do nível social, da crença; a única coisa que nos diferencia é a nossa fé na Ressurreição. Quem crê na Ressurreição não apenas enxerga a morte de uma outra forma, como também vive sua vida de uma outra forma. Da mesma forma como Cristo Ressuscitado mandou os discípulos testemunharem sua Ressurreição ao mundo, Ele nos confia hoje a mesma missão. Diariamente encontramos pessoas que desistiram de buscar as coisas do alto e passaram a viver arrastadas pelas coisas da terra, pessoas que desistiram de crer na força da Páscoa, desistiram de se esforçar em fazer a passagem da morte para a vida porque esta passagem se apresenta, à primeira vista, humanamente impossível. Mas a Ressurreição de Cristo nos ensina que a Páscoa não é obra nossa, e sim obra de Deus em nós! É Ele quem nos faz passar! A fé na Ressurreição nunca é a fé naquilo que nós podemos fazer, mas sempre é a fé naquilo que Deus pode fazer em nós!
O Tempo Pascal que se iniciou com a ressurreição de Jesus, hoje nos convida a fazer como Jesus: “ele andou por toda a parte fazendo o bem” (At 10,38). Onde quer que estejamos, devemos ter um comportamento pascal, como nos ensina o apóstolo João: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama seu irmão permanece na morte” (1Jo 3,14). Amar não é um sentimento, mas uma atitude, uma decisão: fazer para o outro aquilo que você gostaria que ele fizesse para você. Como Jesus, tomemos a iniciativa de amar, de fazer o bem, de semear sementes de ressurreição onde quer que a vida nos coloque. Que a nossa vida se torne um anúncio vivo do Ressuscitado!
Feliz Páscoa! Feliz Esperança! Feliz Ressurreição!
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