Advento: “Quando Jesus virá?”, mas “como Ele vai me encontrar?”

Advento: “Quando Jesus virá?”, mas “como Ele vai me encontrar?”

Estamos iniciando o tempo do advento que é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo, vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz. Advento significa “esperar por Aquele que vem”. O advento consta 4 semanas. E as 2 primeiras lembram a segunda vinda de Cristo, as outras duas nos lembram da primeira vinda de Cristo. Esta segunda vinda de Cristo chama-se “PARUSIA”. Vem do grego “parousia” que significa o retorno glorioso de Cristo no fim dos tempos para o juízo final e o restabelecimento definitivo do Reino de Deus. Portanto, o tempo do Advento tem esta dupla preparação da vinda de Cristo.  A primeira recordamos vinda de Cristo (celebração do Natal), reafirmamos a nossa fé na sua segunda vinda (Parusia), conforme a sua promessa: “Sim, venho muito em breve!” (Ap 22,20).

Por isso, neste momento é importante perguntar-se: o que eu espero, em relação à minha vida? Eu espero por algo? O que eu espero de Deus? Espero algo apenas para esta vida presente, ou espero algo em relação à minha vida futura, isto é, em relação à minha salvação? A questão, portanto, é saber: o que você espera? Qual esperança sustenta a sua vida? Muitos desistiram de esperar. Muitos se desencantaram com as promessas de Deus, cederam à tentação de abandonar Aquele que estamos esperando, para irem atrás de algo mais concreto, mais imediato. Muitos estão colocando a esperança da porta para fora de sua vida, ao dizerem “cansei de esperar”: cansei de esperar mudanças em mim, em determinada pessoa, numa determinada situação... Cansei de esperar em Deus... Mas aqui nós precisamos lembrar as palavras do Salmo 25,3: “Os que esperam em ti não ficam envergonhados, ficam envergonhados os que por um nada negam sua fé” (Sl 25,3).

Apesar do nosso cansaço e de todos os motivos que teríamos para abandonar a esperança, Jesus nos convida a esperar por sua vinda. Mas Ele nos alerta que ela se dará como o dilúvio se deu no tempo de Noé. Nada de extraordinário aconteceu; todos estavam vivendo seu dia a dia absorvidos em suas próprias preocupações. “Eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos...” (Mt 24,39). Não é esse também o retrato da nossa geração? Cada um absorvido no seu próprio mundo, lidando com seus próprios problemas; cada um olhando para a tela do seu celular, do seu tablet, do seu computador, cada um perdido dentro de si mesmo, sem se dar conta do que está acontecendo no mundo à sua volta?

É para todos nós que Paulo dirige seu apelo, neste início de Advento: “Já é hora de despertar...” (Rm 13,11). Já é hora de deixarmos de viver dopados, anestesiados, hipnotizados com a tecnologia que cada vez mais nos mergulha no mundo virtual e nos torna ausentes do mundo real. Precisamos ter um comportamento de pessoas destinadas para o encontro com o seu Senhor e Salvador. Tudo aquilo que fizermos – o nosso comer e beber, o nosso trabalhar e descansar, o nosso prazer e distração, o nosso conectar-se ao virtual e ao real – tudo isso seja vivido para glorificar a Deus (cf. 1Cor 10,31) e não para nos afastar de Deus.

Assim como o dilúvio arrastou a todos, assim a vinda de Jesus diz respeito a todos. Nela, “um será levado e o outro será deixado” (Mt 24,40). “Ser levado” significa ser salvo; “ser deixado” significa perder-se. Portanto, Jesus nos diz: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor... Ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,42.44). Estar preparado significa viver com o coração voltado para Deus; significa viver na consciência de que, na hora em que menos imaginarmos, seremos convidados a deixar o provisório e abraçar o definitivo. Então, o encontro com o Senhor Jesus será a recompensa pela dor da espera que sofremos. A melhor forma de nos prepararmos para o encontro com o Senhor é permitir que a sua Palavra oriente nosso proceder na vida pública e privada, em casa e no trabalho, em relação àquilo que pensamos, sentimos e fazemos. Quando isso acontece, as nossas espadas e lanças – nossas atitudes que ferem, que prejudicam os outros, que causam injustiça e sofrimento em nossa sociedade – são transformadas em arados e foices – em atitudes que promovem a vida por meio da solidariedade, da compaixão, do perdão e da reconciliação (cf. Is 2,4). Quando vivemos nossa vida na espera do encontro com o Senhor, nos damos conta de que não tem mais sentido vivermos armados e fazendo guerra contra tantas pessoas à nossa volta. A nossa verdadeira arma deve ser a fé, assim como a nossa verdadeira guerra consiste em perseverar e não desistir de esperar pelo Senhor.

Enfim, o tempo do Advento nos faz este convite: “Vinde... deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). Deixemos com que a luz do Senhor nos mostre um outro horizonte para a nossa vida, e encha o nosso coração de alegria, assim como o coração do vigia se enche de alegria quando chega a aurora de um novo dia. Mas não apenas deixemo-nos guiar pela luz do Senhor; sejamos também portadores dessa luz. Por meio da Novena de Natal – e também das redes sociais – levemos essa luz do Senhor, e a luz que é o próprio Senhor, a tantas casas/famílias/ambientes de trabalho/pessoas que precisam ter sua guerra transformada em paz, seu ressentimento transformado em perdão, seu distanciamento transformado em comunhão, sua tristeza transformada em alegria, seu desespero transformado em esperança. Qual é o grande perigo? Como não deixar morrer nossa esperança? Como não desistir de esperar em Deus e por Ele? Jesus nos deu uma pista: “(...) ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do homem” (Lc 21,36). Para quem ainda tem dificuldade em criar o hábito diário de orar, vale esta definição de oração de Santa Teresa de Jesus: “Orar é estar a sós, muitas vezes, com quem sabemos que nos ama”.   

Jesus deixa claro que, quando vier, quer nos encontrar “em pé” e não deitados, caídos, desprovidos de fé, de esperança e de amor. Ele quer nos encontrar como homens e mulheres que, mesmo vivendo num país cuja lama tóxica da corrupção, da maldade e da injustiça vai aos poucos contaminando todos os setores da sociedade, não desistiram de semear a honestidade, o bem e a justiça com as nossas atitudes diárias. Jesus não quer nos encontrar presos na armadilha da distração, do vício e da falta de sensibilidade para com o que acontece à nossa volta. E aqui vale à pena, mais uma vez, nos questionar a respeito do uso diário do celular. Há no seu celular algum aplicativo que alimente a sua oração, a sua fé, a sua intimidade com o Senhor? Ou ele está funcionando como uma “armadilha” para manter você distante de Deus, do próximo que está à sua volta e da sua responsabilidade para com a salvação da humanidade?

Ainda que às vezes enfrentemos fortes tempestades e que os ventos contrários nos curvem até o chão, sejamos como o babu: podemos até ser curvados ao chão, mas jamais nos quebraremos; jamais ficaremos caídos, prostrados ao chão, derrotados pelo desânimo. A força da esperança nos haverá nos levantar novamente.