As estações da nossa vida
Ao começar a preparar a sua despedida, Jesus disse aos discípulos: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês não poderão dar fruto, se não permanecerem em mim” (Jo 15,4).
Como estão os ramos da nossa vida afetiva e profissional? Como estão os ramos da nossa vida espiritual? Eles estão produzindo frutos? Os frutos que estamos produzindo são saudáveis e saborosos, ou estão doentes, estragados? Como você está se sentindo nesse momento: uma pessoa fecunda, com vitalidade interior, ou uma pessoa sem seiva, sem vitalidade, uma pessoa que, apesar dos seus esforços, não produz aquilo que desejaria produzir?
Estamos no outono, uma estação que nos fala de perda, de adormecimento: muitas árvores perdem suas folhas; ficam, de certa forma, “feias”, parecendo mortas; mas, na verdade, não estão mortas; estão adormecidas. Dentro delas existe seiva, existe vida. Elas despertarão na primavera, voltarão a florescer e produzirão frutos novamente.
Quando é outono, nossas folhas caem; quando é inverno, parece que morremos por completo; quando é primavera, a vida escondida em nós começa a dar sinais de ressurreição; quando é verão, nossas flores dão lugar a frutos que transmitem vida aos outros.
Da mesma forma, nossa vida é feita de estações: não existe apenas a primavera, existe também o outono. Precisamos acolher as estações, as mudanças, a perda das nossas folhas. O importante é manter nossas raízes em Deus; o importante é manter nosso relacionamento pessoal com Jesus, pois é d’Ele e somente d’Ele que recebemos a seiva do Espírito Santo, que nos devolve fecundidade, que nos faz florescer e frutificar, mesmo quando a nossa volta existe deserto e aridez.
O que nos chama a atenção nessas palavras de Jesus é a sua insistência conosco: “permaneçam”; “permaneçam em mim”. “Permanecer” é uma palavra carregada de ambiguidade para a nossa geração. Muitos de nós permanecemos horas numa academia, ou diante da TV, do celular ou do computador, mas não conseguimos permanecer quinze minutos em oração diante do Senhor.
No mundo do trabalho já não se permanece no mesmo emprego por muito tempo, assim como no campo afetivo, muitas pessoas não permanecem por muito tempo no mesmo relacionamento. Até mesmo no campo da fé já não há permanência: muitos não permanecem na mesma igreja, na mesma religião. Desse modo, é muito comum nós vermos muitas pessoas sendo levadas pela vida como folhas secas empurradas pelo vento. São pessoas que não foram habituadas a criar raízes, e pessoas sem raízes tombam com facilidade; pessoas sem raízes são superficiais: vivem uma fé superficial, relacionamentos superficiais e são superficiais inclusive em relação a si mesmas. “Permaneçam em mim.” Não sejam superficiais na vida espiritual.
Quando comparamos a humanidade a uma imensa floresta, ficamos assustados com a quantidade de árvores secas, doentes, estéreis, árvores que se tornaram incapazes de produzir bons frutos, homens e mulheres que “secaram” no amor conjugal, pais que desenvolveram um relacionamento superficial com seus filhos, criando-os também como pessoas superficiais, pessoas sem raízes, adolescentes e jovens que tombam diante do vento de qualquer dificuldade, de qualquer frustração. Neste sentido, vale a pena resgatar a importância da poda: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa (poda), para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,1-2). A grande maioria dos pais hoje não tem a coragem de “podar” seus filhos, seja porque não querem ter conflitos com eles, seja porque não querem frustrá-los. Com isso, nós temos uma geração que esbanja beleza e saúde física, mas é totalmente fraca, emocional e espiritualmente, uma geração desprovida de seiva interior, uma geração que quebra diante de qualquer vento que sopre contrário.
Mas não só os adolescentes e jovens! Todos nós temos nos tornados avessos às podas. Embora Jesus tenha comparado Deus Pai a um agricultor, nós não admitimos que esse Agricultor interfira na maneira como conduzimos nossa vida afetiva e profissional, na maneira como usamos nossa liberdade e lidamos com nossa sexualidade. E ao rejeitarmos a “interferência” de Deus em nossa vida, nós crescemos de qualquer jeito, como uma árvore selvagem, nunca podada, e que, justamente por falta de poda, produz frutos de baixíssima qualidade, isso quando produz algum fruto...
“Eu sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15,5).
Se porventura nossos ramos estão murchos, secando, perdendo a vitalidade, voltemos a nos enxertar em Jesus; voltemos a nos alimentar da seiva da sua Palavra e da sua Eucaristia. “Permanecer” na comunhão com Jesus não é uma atitude automática em nós, mas uma decisão diária, um desejo da nossa vontade, uma vontade consciente de que, sem Ele, nada podemos, nada construímos, nada alcançamos.
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