"MINHA FÉ É MINHA MÃO PARA TOCAR EM DEUS"

 

A pandemia da Covid-19 impôs o distanciamento entre as pessoas. Enquanto a vacina não chegar a todos, o distanciamento e o uso de máscaras serão necessários para salvar vidas – a nossa e a dos outros. Essa imagem do distanciamento, do não poder aproximar-se e do não poder tocar nas pessoas, contrasta com a cena do Evangelho de Marcos 5, 21-43. Jesus se encontra comprimido por uma multidão, enquanto caminha para a casa de Jairo, a fim de curar sua filha que está gravemente enferma.

“Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia” (Mc 5,25). Ela conseguiu passar pelo meio da multidão e aproximar-se de Jesus, por trás. Seu gesto foi tocar na sua roupa: “Ela pensava: ‘Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada’. A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença” (Mc 5,28-29). Qual é a hemorragia que está fazendo morrer meu relacionamento, minha família, meu filho? Qual é a hemorragia que hoje tinge de vermelho (de sangue) a bandeira do Brasil? Qual é a hemorragia que está esgotando minha fé e minha esperança?

Muitos conseguem chegar bem perto dele e tocá-lo, mas somente esta mulher é curada! Por quê? Por causa da sua fé! Não se trata do toque físico. Não se trata de estar perto fisicamente de Jesus e de pedir que ele toque em nós. Quantos de nós não apenas temos o privilégio de estar “perto” de Jesus participando de uma celebração eucarística e, inclusive, de receber seu Corpo na Eucaristia!? Nem por isso somos curados! Não foi o tocar na roupa de Jesus que curou aquela mulher, mas sua fé! Podemos estar dentro da Igreja e não ter fé. Podemos ouvir o Evangelho e comungar Jesus na Eucaristia e não ter fé!

Não é Jesus quem nos cura, mas a nossa fé nele! “Minha fé é minha mão para tocar em Deus”. Sem fé, ainda que pudéssemos tocar fisicamente em Jesus, isso de nada nos valeria. Mas a fé, quando verdadeira, dispensa o toque físico; ela se torna uma mão que se estende o suficiente para alcançar Deus e para receber d’Ele a vida!

Contudo, a morte não se dá por vencida! Ela insiste em se impor. Na mesma hora em que Jesus está falando com aquela mulher, chegam alguns trazendo a triste notícia a Jairo: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” (Mc 5,35). Também para nós, as notícias a respeito da morte não param de chegar. Tornou-se comum entrar em nossas redes sociais e vermos a palavra “Luto”: “luto pai”, “luto mãe”, “luto irmão”, “luto avó”, “luto amigo” etc. A morte não desiste de ser notícia diária em nosso País, causada pela Covid, pelo câncer, por acidentes, por suicídio, pela violência, por inúmeras outras doenças etc.

“Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: ‘Não tenhas medo. Basta ter fé!’” (Mc 5,36). A muitos de nós, tomados de angústia, de medo ou de pânico perante a morte que todos os dias se mostra muito perto de nós, Jesus aconselha: “Não se deixe morrer por dentro. Mantenha sua fé viva!”. Mas como podemos manter nossa fé viva quando a dor da morte nos atinge de tantas maneiras? Tendo em nosso coração uma certeza: “Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos” (Sb 1,13).

A morte é sempre algo que assusta e mexe com a nossa fé. Todos os nossos medos estão relacionados com o medo da morte, que é o maior de todos os medos. A morte simboliza o fim, a aniquilação e, sobretudo, um mistério. Toda a nossa luta neste mundo consiste numa luta contra a morte e contra o sofrimento que pode conduzir a morte. As religiões têm teorias sobre a vida após a morte, mas ninguém volta para confirmar ou negar o que é dito sobre ela. Independentemente de sabermos como é após a morte, sabemos que ela, a morte, um dia virá. A morte física é a única certeza que temos. Dela ninguém escapa, mas podemos escapar da morte eterna. Diante disso, podemos questionar: mas então por que morremos? A essa morte física até Jesus foi submetido.

Portanto, temos que tomar cuidado com a morte da alma, que chamamos de Perdição, aqueles que perdem o Reino de Deus, a vida eterna, porque nesta vida só praticaram obras das trevas, do mal.

Enfim, o livro da Sabedoria nos faz uma revelação importante: “Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem” (Sb 2,24). Muitas mortes não acontecem de maneira natural, mas são programadas e facilitadas para que aconteçam. Quando, num contexto de pandemia, pessoas incentivam a aglomeração, fazem campanha contra o uso de máscara, divulgam informações falsas e negam a ciência, elas estão colaborando com o diabo, autor da morte. Embora muitas delas se consideram cristãs, suas atitudes facilitam a disseminação da morte.