Nenhum ser humano é somente um tipo de terreno
Que tipo de solo nós somos? Só seremos bons solos se criarmos raízes bem profundas com a palavra de Deus. Temos que aprofundarmos nossas raízes, se não qualquer situação de geada, pancadas de chuvas, cruz, faz sapecar e morrer a semente que iria produzir frutos em nós.
Sabemos que o semeador é Jesus Cristo, a semente é a palavra de Deus, os terrenos são os corações de cada um de nós.
Enquanto a sociedade em que Jesus viveu era rural, e a imagem da semente na terra falava profundamente ao coração do povo que o ouvia, a nossa sociedade é quase que totalmente urbana, onde o cimento, o metal, o plástico e o aço parecem ter contribuído para nos tornar pessoas “cimentadas”, blindadas à penetração da Palavra de Deus no chão da nossa vida. Desse modo, quando a chuva/Palavra nos visita, não toca no chão árido da nossa alma, mas “bate” no cimento e escorre para os bueiros das nossas cidades, cuja vida se encontra sufocada pelo materialismo e pelas novas tecnologias, incapazes de converterem nossa aridez em fecundidade.
Às vezes, a natureza nos surpreende! Em meio ao chão cimentado, em meio às pedras, uma planta ou uma árvore conseguiu ali nascer. Como aquilo foi possível?! Aquilo foi possível porque o vento ou algum pássaro fez com que uma semente caísse numa fenda, possibilitando o contato da semente com a terra. Esses pequenos sinais de uma vida que brota em meio ao cimento são um questionamento para nós. Existe em nós alguma fenda por meio da qual a fecundidade da Palavra de Deus possa penetrar e começar a germinar em nós um processo de cura, de transformação, de reavivamento?
Dado o exposto, Jesus nos convida a revisar o terreno da nossa alma, isto é, a maneira como ouvimos a Palavra de Deus. Talvez sejamos pessoas muito superficiais: ouvimos de maneira desatenta a Palavra; não dedicamos tempo suficiente para refletir sobre ela, o que faz com que essa Palavra fique na superfície de nós mesmos, e o maligno venha e roube o que foi semeado, tão facilmente como um pássaro come uma semente que está na superfície do terreno (cf. Mt 13,4.19). Jesus nos lembra da semente que cai entre as pedras: ela até começa a germinar, mas quando o calor do sol a atinge, murcha e seca, por não ter raiz (cf. Mt 13,5-6.20-21). A nossa realidade é um tempo em que a maioria das pessoas não cultiva raízes, ou seja, não tem interesse em aprofundar nada. Essa rejeição a criar raiz é a rejeição a conhecer a si mesmo, é também a rejeição a se comprometer com as exigências da Palavra de Deus. Se a Palavra funciona na vida da pessoa como autoajuda, ótimo, mas se questiona suas atitudes e, principalmente, se lhe faz sofrer a rejeição por parte do mundo, a pessoa passa a rejeitar a Palavra. Outro tipo de pessoa que ouve a Palavra de Deus é como a semente que cai no meio de espinhos: “os espinhos cresceram e sufocaram as plantas” (Mt 13,7). E aqui Jesus é muito claro em explicar que não existe nada mais oposto a Deus do que escolher apoiar-se nas riquezas, nos bens materiais (cf. Mt 13,22). No mundo em que vivemos, globalizado pelo mercado capitalista, todos nós trazemos esse conflito interior entre viver segundo os valores do Evangelho ou viver segundo os contravalores propostos pelo mercado. Nenhum ser humano é somente um tipo de terreno.
Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Aqui Jesus fala às multidões, sabemos da dificuldade de falar para as multidões, para a massa. As multidões geralmente não estão interessadas em compromissos. É o que acontece ainda hoje nessas celebrações e eventos presididos pelos chamados “Padres Midiáticos”, esses que estão na mídia e que arrebanham multidões. Catequizar a multidão é algo difícil, acabam por se transformar em shows ou espetáculos. Jesus, diante da multidão, sente-se como o semeador que saiu para semear e encontrou diversos tipos de terreno. Primeiro terreno é o das sementes que caíram ao longo do caminho: O primeiro terreno é o daquele que vai como rebanho, seguindo multidões, atrás de líderes religiosos. Muitos vão por causa do líder e não de Deus ou da sua palavra. Eles ouvem a Palavra do líder, mas ela fica vulnerável na sua vida e qualquer outra situação poderá eliminá-la. São pessoas que se deixam influenciar pela mídia. E o segundo terreno, o pedregoso? Esse terreno é a imagem da pessoa que tem uma religiosidade baseada na emoção e não no compromisso. O terceiro solo é a "terra cheia de espinheiros". É o caso das pessoas que abandonam o caminho cristão por causa das grandezas falsas do mundo e da sedução das riquezas. Ouviram o Evangelho, mas se interessaram mais pelos negócios, pelos lucros, pelo trabalho, pelo lazer, as coisas pessoais, que só buscam o dinheiro, a fama, o poder. Quanto mais bens as pessoas possuem, mais preocupações elas têm. Pois eles tomam todo nosso tempo. Sendo assim, a Palavra de Deus nem sempre encontra espaço para crescer nesse tipo de vida. Vivemos na era do relógio. "Tempo é dinheiro" - dizemos. Passamos a vida numa correria louca, contando os minutos, sem tempo para as pessoas, sem tempo para Deus, sem tempo para nós.
Contudo, trazendo para nossas cidades, o problema das chuvas é o asfalto, pois a chuva vem e não entra, não penetra na terra, daí ela vai para um lugar e acumula em determinados lugares. Mas tem os paralelepípedos que são pedras, mas tem uma gretinha de areia que é possível ali entrar. Tem muita gente que é paralelepípedo, é pedra, de vez em quando alguma coisa entra no coração dela. Se formos comparar a chuva e o asfalto, muita gente tem o asfalto no ouvido, e no coração, a palavra de Deus entra, bate e vai embora, não adentra, não entra.
Daí a culpa da palavra não entrar em alguns terrenos, corações não é privilégio da parte de Deus, mas a pessoa a responsável. Portanto, a culpa não está na palavra e no semeador e sim no terreno. Por isso que Jesus diz: quem tem ouvido, ouça.
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