Para que servem as tempestades? (Marcos 4,35-41)
A vida é como um imenso oceano, e ninguém atravessa o oceano da vida sem ter que lidar com algum tipo de tempestade. Embora a nossa tendência natural seja fugir de problemas, desviar de tempestades, o Evangelho de hoje nos convida a ser realistas e a tomar consciência de que Jesus veio ao mundo não para impedir que as tempestades nos atinjam, mas para nos ajudar a lidar com elas, a atravessá-las e a prosseguir a nossa travessia neste mundo.
Como lidar com as tempestades da vida? Muitas vezes questionamos Deus diante do sofrimento e a dor que se manifestam no mundo – acidentes, catástrofes, doenças, violência, guerras, injustiças, sofrimentos e, sobretudo, a pandemia do coronavírus, dengue – questionamos a aparente ausência de Deus, Seu aparente silêncio, Sua aparente indiferença diante da tempestade que nos atinge neste momento. “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,38). Essa pergunta está dentro de muitos de nós. Crianças e jovens estão morrendo de câncer; inúmeras pessoas estão morrendo de Covid; de dengue, de infarto, de acidentes, violências no trânsito, e etc. Aliás, nosso País é campeão em desigualdade social, violência e assassinatos; muitas crianças estão sofrendo abuso sexual dentro de casa; pessoas estão morrendo, e Deus não se importa???!!! Jesus não tira a tempestade da nossa vida, mas acalma o nosso coração para lidarmos com todas elas.
Quais tempestades as famílias enfrentam hoje? Em algumas famílias, a tempestade é a própria ausência do pai – ele está preso, ou foi morto, ou nunca se fez presente. Em outras famílias, a tempestade é a presença nociva do pai alcoólatra, viciado em droga, violento etc. E não são poucas as tempestades que atravessam a alma do pai: o desemprego, o salário cada vez mais diminuído, a constante ameaça de perda do emprego, o medo de não conseguir educar os filhos ou mantê-los longe das drogas, a angústia em relação ao futuro, a constante exposição à violência etc.
O Evangelho (Marcos 4,35-41) de hoje é muito claro: o lugar da Igreja, do discípulo de Jesus Cristo, é junto das pessoas que estão enfrentando tempestades como a doença, o luto, o desemprego, a violência, a fome, as drogas, a depressão, a angústia, o medo, a falta de sentido etc.
Quanto as tempestades, o que Deus pode estar querendo te dizer no meio da tempestade pela qual você passa agora? Jesus disse aos discípulos: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27). “Sou eu”; ‘Eu estou aqui, com você!’ Não seja uma pessoa fraca na fé. Enfrente o que você precisa enfrentar! Aprenda com a adversidade. Compreenda que aquilo que te desafia é também aquilo que te transforma! Quem não enfrenta desafios não cresce, não amadurece, mas permanece infantil, fraco e imaturo diante da vida. Todo desafio é também uma oportunidade para você se transformar numa pessoa melhor’.
A forma como lidamos com os ventos contrários está ligada à nossa fé; à imagem que temos de Deus. Para quem imagina Deus como um Pai que superprotege o filho e que está ali para preservá-lo de todo tipo de frustração. Os ventos contrários são motivo suficiente para se revoltar contra Deus e para abandonar a fé. Mas, para quem imagina Deus como um Pai que deseja que seu filho cresça, se torne forte e capaz de encarar a vida com a cabeça erguida, os ventos contrários são sempre uma oportunidade de crescimento e de fortalecimento da sua fé.
Enquanto algumas pessoas ainda resistem a esses ventos e procuram manter o rumo da barca da sua vida, outras acharam mais fácil deixar de remar, deixar de lutar, e se permitiram serem arrastadas pelo vento...
Quando nos parece impossível atravessar os ventos contrários e prosseguir com a nossa vida, Jesus nos diz: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27). Eu estou com você nesta travessia. Não desista! Não se curve diante do vento!’
Uma árvore que cresce enfrentando ventos contrários tem o seu tronco fortalecido e suas raízes fincadas no mais profundo da terra. Por isso, ela dificilmente tomba quando os ventos sopram contra. Se você e eu não queremos tombar diante das contrariedades da vida, precisamos ter nossas raízes fincadas em Deus, o que significa desenvolver um relacionamento com Deus marcado pela profundidade e não pela superficialidade.
Aí perguntamos, onde está Deus? “...Essa pergunta você e eu fazemos hoje. Vivemos um tempo caótico, onde as trevas rondam nossas barcas e os ventos fortes e as tempestades nos aterrorizam.
A barca era agitada pelas ondas. Mestre, não te importa que pereçamos (4,38). Essas palavras expressaram mais uma crítica do que um pedido de ajuda. Às vezes é mais fácil reclamar de Deus do que depositar nossa ansiedade aos seus pés e descansar na sua providência. Portanto, tenhamos fé, pois a fé não é blindagem contra a tempestade, mas dá força para enfrentá-las. “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo (João 16,33).”
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