Quem de nós é o maior, o mais importante, o primeiro?

Quem de nós é o maior, o mais importante, o primeiro?

Por causa desta pergunta, vivemos quase que constantemente sob pressão e muita cobrança que geram em nós ansiedade, que nada mais é do que um sentimento de ameaça: se não correspondermos ao que nos é exigido, perderemos nosso lugar no mundo.

Jesus, no Evangelho de Marcos 9,30-37, questiona nossa correria diária, este estilo de vida de competição para ser o primeiro que gera nossas angústias e preocupações, a razão de ser de tanta ansiedade em nossa vida. Ao chegar em casa com seus discípulos, Jesus lhes perguntou: “O que vocês estavam discutindo pelo caminho?” (Mc 9,33). Mas os discípulos “ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior” (Mc 9,34). Por que a preocupação em “ser o maior”?

Jesus está anunciando para os Seus discípulos, o seu segredo mais profundo, o seu messianismo, e Jesus disse: “Vou ser entregue nas mãos dos homens, e eles me matarão. Mas, depois de três dias eu hei de ressuscitar”. Os discípulos não compreenderam nada e tinham medo de perguntar. Jesus está anunciando o que vai acontecer com Ele, mas os discípulos não estão interessados ou não estão maduros. Eles estão discutindo entre eles quem vai ser o maior, quem é o mais importante. Jesus, vendo a imaturidade deles, os acalma e diz: “Entre vós não pode ser assim.  Não compreenderam por que ninguém quer compreender o sofrimento, mas não é o sofrimento pelo sofrimento, Jesus não está anunciando que Ele simplesmente vai sofrer, Ele está dizendo que vai vencer a morte e o sofrimento porque está proclamando a Sua ressurreição. Só queremos chegar na glória, mas não queremos saber da cruz; só queremos saber do resultado, mas não queremos saber da prova. Ninguém passa nessa vida sem passar pela prova do sofrimento, da dor e da morte.

O que estamos buscando na vida? Para muitas pessoas, a motivação principal é ser “o maior”, “o mais importante”, tornar-se “a pessoa mais visível”, “sobressair-se” em relação aos demais.

A vida de Jesus nunca girou em torno do “sentir-se bem”, muito menos do “sobressair-se” em relação aos outros. Jesus, Ele veio para servir e para dar a vida em resgate por muitos (cf. Mc 10,45). Sua vida foi uma vida para os outros. Por isso, quando via pessoas correndo atrás de uma felicidade egoísta ou de uma posição social superior à dos demais, Jesus apontava na direção contrária, mostrando que ninguém se realiza fechando-se em si mesmo ou se colocando acima dos outros; a nossa realização humana está em servir, em “viver para”.

Jesus, diante da preocupação dos discípulos em saber quem era o maior dentre eles, toma uma criança, coloca-a no meio deles e a abraça (v.36). Na época de Jesus, a criança não tinha importância e significado nenhum, é por isso que Jesus pega uma criança, coloca-a em seus braços e abraçando-a diz: “Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que está acolhendo”. 

Afinal, comparar-se com a criança era comparar-se com a fraqueza, com o sem poder e sem valor social. Chegando até mesmo a ser ignorada. Hoje Jesus toma aquela pessoa que nós mais ignoramos – o lixeiro; o catador de material reciclável; a empregada doméstica; o “entregador” ou o “repositor” do supermercado, e etc, coloca essa pessoa diante de nós e a abraça, para nos dizer: o sentido da vida não está em ser feliz de maneira egoísta ou em ser maior do que os outros; o sentido da vida está em fazer-se próximo das pessoas ignoradas e desprezadas; está em cuidar de quem não é cuidado, em amar quem não é amado, em defender quem não é defendido por ninguém.

Quem são as pessoas mais importantes do nosso tempo? Nossos valores estão invertidos. Ainda não entendemos que a pessoa que busca sua própria grandeza está em contradição com Cristo e o seu Evangelho, pois Ele deixou claro que somente quando nos deixarmos afetar pela realidade das pessoas mais frágeis e ignoradas pelo mundo é que poderemos sentir a presença d’Ele e do Pai! (cf. Mc 9,37).