Dor, Sofrimento, Morte e Felicidade Diabólica

Dor, Sofrimento, Morte e Felicidade Diabólica

“A dor e o sofrimento, assim como a morte, devem ser eliminados da existência humana”. Esse tipo de discurso está presente na ciência, nas propagandas mentirosas de novos medicamentos da indústria farmacêutica, nas teorias de psicologias baratas de felicidade e, sobretudo, nas pregações de muitos falsos profetas do nosso tempo.

 

A verdade é que todo ser humano tem uma repulsa natural diante da dor, do sofrimento e da morte. Sabendo disso, o mercado vende livros, remédios, aparelhos e qualquer coisa que possa manter as pessoas escravas da ilusão de que é possível passar pela vida sem terem que sofrer. E, no entanto, nunca como hoje tivemos uma humanidade tão doente, uma vida tão atribulada e pessoas tão incapazes de lidar com a dor e o sofrimento.

 

Deus criou você para ser feliz, para vencer, para ser uma pessoa bem-sucedida! Mas, será mesmo que a única razão pela qual nascemos é para sermos felizes, entendendo felicidade como ausência total de dor, de sofrimento e de morte? Deixemos Jesus responder...

“Vai para longe, satanás, andes atrás de mim!” (Mt 16,23). Segundo Jesus, toda pessoa que entende que a vida só vale a pena quando se pode ser feliz e não se tem que lidar com nenhum tipo de sofrimento, essa pessoa é satânica, diabólica, justamente porque o diabo é o pai da mentira, e a maior mentira que existe é fazer propaganda de uma vida em que não haja possiblidade alguma de dor ou de sofrimento. Portanto, tudo o que o mundo vende como promessa de felicidade constante e ausência de dor – remédio, tecnologia, igreja ou religião – é satânico, diabólico, porque mentiroso!

 

Muitos de nós buscamos um Cristo poderoso, da Eucaristia que nos conforta, sem sofrimento. Jesus deixa claro para nós que para chegarmos à Glória, é preciso passar pela Cruz. Não existe Glória sem Sofrimento, sem Cruz. Não que Jesus tenha buscado o sofrimento pelo sofrimento, mas sabia que o sofrimento é consequência do compromisso com a vida. Quem luta pela vida, pela justiça, enfrentará muito sofrimento. Uma religião que só promete a Paz e a Glória não passa de Alienação. Uma religião que se esquece do significado da cruz não pode ser uma religião seria.

 

“Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu”, mas Pedro quer que Jesus seja do seu jeito. Pedro quer possuir Jesus, ele quer um Jesus à sua maneira. É o que acontece, muitas vezes, com muitos de nós: queremos Jesus, mas O queremos do nosso jeito, em nossos moldes, na nossa espiritualidade e no nosso devocionismo. É uma proximidade, mas é possuidora, é sufocante.

 

Quanta audácia da parte de Pedro! Um Jesus perto de mim, mas manipulado pelas minhas ideias. Pedro se viu na pretensão de exorcizar Jesus, exorcizar o caminho que Ele faria na vontade do Pai, passando pela cruz.

 

Pedro teve de aprender que cristianismo é seguimento e não atrevimento de querer que Jesus siga os meus caprichos. Pedro quis defender Jesus de algo que se tornou redentor: o sofrimento e a cruz.

 

A pergunta que move o ego do ser humano é: “Onde está a minha felicidade?”. A pergunta que move o coração de Deus é: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Enquanto os homens entendem que a vida só vale a pena se não houver nela nenhum tipo de sofrimento, Deus entende que o sentido da vida está em você aprender a enfrentar o sofrimento que faz parte da sua vocação.

 

Tenhamos consciência disso: o mundo em que vivemos nos colocou a todos debaixo da ditadura da felicidade, segundo a qual, você tem que estar feliz 24 horas por dia.

Em nome dessa ditadura, os pais procuram agradar os filhos, ao invés de educá-los. Esses filhos, por sua vez, sendo constantemente poupados de frustração, se tornarão adultos incapazes de lidar com a vida, o que fará deles pessoas potencialmente suicidas.

 

Tenhamos consciência de que a dor e o sofrimento nem sempre serão uma opção em nossa vida; opção será sempre a liberdade que temos de escolher como vamos lidar com eles.