O quanto temos de Tomé em nós hoje, agora? O Tomé que habita dentro de você e de mim, precisa ser levado a sério
Desde o ano 2000, quando foi instituído pelo Papa São João Paulo II, a Igreja Católica celebra no segundo Domingo da Páscoa um dia especialmente dedicado à Divina Misericórdia.
Falando em Misericórdia, a maior alegria de Deus é nos dar o Seu perdão, a maior alegria d’Ele é nos dar a Sua misericórdia. Santa Faustina, em seu diário, nos seus colóquios com Jesus misericordioso, ouviu d’Ele: “Causam-Me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A essas almas concedo grandes graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão”. (Diário de Santa Faustina, 1146)
A Divina Misericórdia é vinculada de modo especial ao Evangelho do segundo Domingo da Páscoa, representada no momento em que, Jesus aparece aos discípulos, no Cenáculo, após a ressurreição, e lhes dá o poder de perdoar ou reter os pecados. Este momento está registrado em João 20,19-31. Essa passagem abrange a aparição de Jesus Ressuscitado ao apóstolo São Tomé, quando Jesus o convida a tocar em Suas chagas no oitavo dia depois da Ressurreição (João 20,26).
Estamos diante da primeira aparição do Cristo ressuscitado aos seus discípulos. Ele os encontra confinados pelo medo: “Estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou...” (Jo 20,19). Por medo de serem feridos, muitos fecharam a porta da sua vida para o amor, para um novo relacionamento afetivo. Por medo de verem seu filho sofrer e, quem sabe, ser morto pela violência do mundo, casais decidiram fechar a porta para a fecundidade, optando por não terem filhos. Por medo de enfrentar a vida com seus desafios, muitos adolescentes e jovens se fecham na ansiedade, no pânico, na depressão (adoecimento psíquico). Por medo de dialogar com o mundo, muitos evangelizadores vivem seu ministério fechados em suas próprias igrejas, não levando o Evangelho aonde ele deveria chegar, por ordem de Jesus.
A boa notícia é que o Senhor ressuscitado atravessa nossas portas fechadas! Nenhum fechamento nosso o impede Jesus de ter acesso a nós e nos ajudar a enfrentar os nossos medos.
Muitas situações ferem a nossa fé. Pais foram feridos pela morte do filho; casais foram feridos pelo fim do relacionamento; filhos foram feridos pela separação dos seus pais; crianças foram feridas pela ausência paterna ou materna, ou, pior ainda, por abusos sexuais; famílias são diariamente feridas pela dependência química, pela agressão física ou verbal, pelo empobrecimento e pela fome; as novas gerações estão feridas pelo adoecimento provocado pelo vício nas redes sociais; escolas estão feridas por ideologias extremistas; enfim, nossa sociedade está ferida pelo ódio e pela crença na força destrutiva das armas.
Mesmo sem ver Jesus ressuscitado, nós cremos na sua presença junto a nós. Por isso, agradeçamos ao Ressuscitado por falar ao Tomé que habita em cada um de nós. Além disso, acolhamos a sua advertência: “Acreditaste, porque me viste? Felizes os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). Jesus vai dizer a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27). Não seja incrédulo! Não condicione a sua fé ao ver, ao entender, ao tocar, ao sentir. Portanto, viva não pelo que os olhos podem ver, mas vivo por acreditar.
O Tomé que habita em nós precisa ser levado a sério. O Evangelho de hoje centra a nossa atenção exatamente nas feridas de Jesus! Ele ressuscitou. Seu corpo, antes crucificado, está agora glorificado. No entanto, seu novo corpo glorificado ainda carrega em si as feridas da sua crucificação!
Talvez aqui esteja o nosso grande engano: achar que uma vida ressuscitada é uma vida blindada contra feridas. Um Cristo ressuscitado sem feridas é um falso cristo. Se o seu corpo glorioso mantém em si as feridas da cruz é para nos lembrar de que a nossa ressurreição nascerá exatamente das nossas lutas, nas quais nos ferimos para gerar vida e esperança em nosso mundo.
Nossa fé não pode ser uma plantinha frágil e delicada, que procuramos manter protegida dentro de uma redoma de vidro. Pelo contrário, ela precisa aprender a enfrentar os ventos contrários, de modo que suas raízes se aprofundem no chão da vida e seu tronco se fortaleça, em vista de nos manter em pé diante das dificuldades.
Dado o encontro de Jesus com Tomé no Evangelho de hoje (Jo 20,25). Eu me pergunto? Como anda a nossa fé? Assim como Tomé, às vezes nos colocamos nesta atitude: ‘Se Deus não se revelar a mim como eu espero, não terei mais fé n’Ele. Se Deus não remover todas as pedras do meu caminho, se não curar todas as minhas feridas, se não eliminar todos os meus inimigos e se não responder a todas as minhas perguntas, não acreditarei mais n’Ele’.
Assim como Tomé, cada ser humano precisa ter o seu encontro pessoal com Jesus. Mas aqui existem perigos: Um destes perigo é em cairmos no erro de exigir de Jesus revelações particulares, tratamento VIP, reduzindo a nossa fé à satisfação de algum capricho ou à exigência de um “tratamento diferenciado”, porque nos julgamos pessoas “importantes / especiais”. Jesus fez questão que Tomé tocasse nas suas feridas, ao mesmo tempo que o repreendeu: “Não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27).
Com isto, a fé na ressurreição e na vida eterna nos faz relativizar aquilo que o mundo nos apresenta como valores absolutos o dinheiro e os bens materiais. A fé não é estratégia para uma igreja, um pastor, um padre ou um fiel se enriquecer. A fé no Cristo ressuscitado me torna livre em relação aos bens materiais, de modo que eu disponho deles para ajudar as pessoas necessitadas. No centro de uma igreja que crê na ressurreição não está o sucesso ou a prosperidade dos seus membros, mas o cuidado com aqueles que passam necessidades. Nunca como hoje se pronunciou tanto o nome de Jesus, mas em qual Jesus as pessoas creem? O Jesus vitorioso, o Jesus que tira você da miséria e o faz prosperar, o Jesus sem cruz, sem sofrimento, sem sangue! No entanto, a Escritura afirma que o verdadeiro Jesus “não veio somente com a água, mas com a água e o sangue” (1Jo 5,6). Jamais devemos nos esquecer de que o Ressuscitado é o Crucificado!
Aliás, eu e você, temos fé? O quanto temos de Tomé em nós hoje, agora? O Tomé que habita dentro de você e de mim, precisa ser levado a sério.
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