Uma Estrada para o Futuro
Se há um tema que une gerações em queixas, debates e esperanças, esse tema é a qualidade das estradas mineiras. Ao cruzar a divisa entre São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, o impacto é imediato: o motorista não precisa sequer consultar placas para perceber que entrou em território mineiro. O estado das vias, lamentavelmente, entrega essa informação com precisão cruel. A transição da eficiência para o caos é tão evidente que parece uma alusão ao terreno irregular de planetas como Marte, onde crateras se estendem por quilômetros, desafiando qualquer tentativa de avanço sem tropeços.
No entanto, a história ganha um novo capítulo com o anúncio feito pelo governador Romeu Zema na última quinta-feira (23): a tão aguardada revitalização da MG-450, conhecida como Rodovia Jamil Nasser, no trecho que conecta Guaxupé à divisa com São Paulo. Trata-se de uma reivindicação que ecoa por décadas, com moradores e motoristas convivendo com buracos que não são apenas obstáculos físicos, mas também símbolos de negligência histórica.
A promessa de uma nova camada asfáltica, melhorias na sinalização e maior segurança é, sem dúvida, uma notícia positiva. Com um investimento de R$ 3,3 milhões e previsão de conclusão até julho, o projeto visa transformar a realidade de uma rodovia que desempenha papel crucial para o escoamento da produção cafeeira e o transporte de passageiros.
No entanto, é impossível não questionar: por que permitimos que a infraestrutura rodoviária chegasse a esse ponto? Por que o básico — estradas seguras e transitáveis — se torna algo tão extraordinário que sua simples recuperação é celebrada como uma conquista épica?
A rodovia MG-450, como tantas outras no país, é um microcosmo do descaso. Por anos, motoristas desviaram de buracos e enfrentaram perigos diários enquanto viam, na divisa com São Paulo, uma estrada que, embora longe da perfeição, apresentava condições visivelmente superiores. Essa dicotomia entre estados escancara não apenas diferenças de gestão, mas também a disparidade de prioridades. Enquanto São Paulo há décadas investe pesadamente em infraestrutura, Minas Gerais parecia ter se conformado com a deterioração de suas estradas, relegando o interior a uma situação que muitos descrevem como medieval.
O anúncio da revitalização, embora tardio, é uma resposta a essa realidade. Como destacou o prefeito de Guaxupé, Jarbinhas, a obra promete não apenas reduzir acidentes e melhorar a eficiência do transporte, mas também impulsionar a economia local e regional. Afinal, uma rodovia bem conservada não é apenas um facilitador de deslocamentos; é um catalisador de desenvolvimento.
A revitalização da MG-450 representa, sem dúvida, uma vitória para Guaxupé. Mas é também um lembrete do quanto ainda precisamos avançar para que rodovias esburacadas sejam apenas memórias de um passado distante — e não uma comparação recorrente com terrenos alienígenas. Afinal, enquanto Marte pode justificar suas crateras pela ausência de atmosfera e décadas de impactos cósmicos, nós, na Terra, não temos desculpas tão plausíveis.
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