Há 90 anos, guaranesiana foi a primeira mulher nomeada como promotora de Justiça do MPMG e de toda a América Latina

Em 1935, época com participação limitada de mulheres no espaço jurídico e no serviço público, Iracema Tavares Dias Nardi marcou a história.

Há 90 anos, guaranesiana foi a primeira mulher nomeada como promotora de Justiça do MPMG e de toda a América Latina
Iracema faleceu em 2010, deixando nove netos e oito bisnetos - Foto: Divulgação

Há exatos 90 anos, a mineira Iracema Tavares Dias, de apenas 23 anos, ingressou no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e tornou-se a primeira promotora de Justiça da América Latina. Em 5 de maio de 1935, ela foi nomeada para a comarca de Guaranésia, pelo então presidente do Estado, Benedito Valadares. 

De acordo com o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, a nomeação de Iracema é um marco histórico que simboliza não apenas o pioneirismo feminino na instituição, mas também um feito inédito na América Latina. “Ela iniciou sua carreira como promotora de Justiça numa época em que o acesso das mulheres ao serviço público e ao espaço jurídico era extremamente limitado”, avalia. 

A nomeação foi notícia de capa do jornal Estado de Minas, que dizia: “Mais uma victoria do feminismo. Uma senhorinha nomeada promotora de Justiça da Comarca de Guaranésia. [...] pela primeira vez no Estado, nomeada uma mulher para o cargo de promotor de Justiça. A nova representante do Ministério Público é a bacharela Iracema Tavares Dias”.  

Biografia 

Iracema nasceu em 1912, em Guaranésia, cidade fundada por seu avô, o coronel e senador do Estado Júlio Tavares – a quem coube, inclusive, escolher o nome da cidade. Era filha de Francisco Idelfonso Dias e Gardência Tavares Paes, ambos de família tradicional e proprietária de terras e plantações.  

Estudou o curso primário na cidade natal e o curso secundário na cidade vizinha de Muzambinho, em um internato de freiras. Ao término do curso ginasial, aos 17 anos, optou por se mudar para São Paulo, a convite do tio-padrinho, que era advogado. Em São Paulo, pode continuar os estudos, ingressando no curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, hoje Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Teve como companheira de classe Amélia Duarte, mineira, que também ingressou na carreira do Ministério Público do Rio de Janeiro. 

Em 1937, Iracema casou-se com Mário Nardi, oriundo de uma família italiana imigrada para o Brasil na época da 1ª Guerra Mundial. Eles tiveram três filhos: Mário, Aloysio e Antônio, o primogênito também se tornou promotor de Justiça, seguindo os passos da mãe. Em 1951, viúva, mudou-se para Belo Horizonte, quando foi promovida à terceira entrância. Em 1956, Iracema tornou-se a primeira curadora de crianças e adolescentes de Minas Gerais, cargo que exerceu até se aposentar, em 1967, aos 54 anos de idade, e após 32 anos de profissão e dedicação à instituição e à sociedade.  

Em 2008, dois anos antes de morrer, foi agraciada com a Comenda do Ministério Público de Minas Gerais Francisco José Lins do Rego Santos, pelos serviços prestados à comunidade. Iracema admitia que, no início, foi muito difícil, mas aos poucos, foi se familiarizando com suas funções de promotora de Justiça. Certa vez, disse: “Lembro e posso afirmar que sempre fui respeitada e nunca pressionada no exercício de minhas funções públicas.” Iracema faleceu no dia 22 de abril de 2010, deixando nove netos e oito bisnetos.