Crime ambiental em Itapuí? Em menos de dois meses, governo Clélia-Mecha é alvo de denúncias na Cetesb por 20 dias de vazamento de esgoto e supostas irregularidades no aterro sanitário

“Sou vereadora de Itapuí e quero relatar alguns fatos que estão acontecendo em nossa cidade. Faz alguns dias que uma das bombas da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) quebrou. Teria que ter outras para fazer a sucção de dejetos. Soubemos que não foi arrumada nem a quebrada, e que as outras que tinham estão também todos quebradas, assim como o painel de monitoramento. Isso está gerando prejuízo ao meio ambiente, pois vaza esgoto e desloca ao rio, contaminando ainda mais. Tive relatos de pessoas que moram em ranchos que rodeiam a margem do rio; eles disseram que está insuportável o cheiro, principalmente nos horários das refeições. Temos também problema com o frigorífico, que joga, in natura os dejetos no córrego Bica de Pedra –outro caso que também já pedimos, em época de eleição, para que a empresa faça o tratamento antes de jogar no rio. Canalizariam aquele local e, até o momento, a obra está parada. Mandarei vídeos que mostram a situação citada por mim. Temos áudios de pessoas que cobram de nós essa situação que piorou muito em 20 dias.” – Vereadora Rita de Cássia Sotto de Oliveira Silva Xavier (PL), em denúncia enviada à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)

Além da suposta inadimplência da prefeitura com a empresa responsável pela coleta de lixo, a administração municipal de Itapuí protagonizou outra polêmica na última semana: um vazamento de grandes proporções na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), que agravou o problema do mau cheiro no município – reclamação já antiga da população.

Segundo a vereadora Rita Xavier (PL), responsável por formalizar a denúncia à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o vazamento derivado de uma bomba que quebrou, ocorreu por mais de 20 dias.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o esgoto sendo liberado à céu aberto, fator que causou forte cheiro nos bairros Jardim San Rafael e Jardim Primavera (Prainha). 

“Não está dando para suportar mais. O cheiro é muito forte, principalmente de final de semana, que todo mundo fica em casa, o bueiro começa a vazar cedo e não para”, relatou um morador.

Inaugurada em dezembro de 2019 e entregue pelo ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), a Estação de Tratamento de Esgoto de Itapuí, cujas obras foram executadas pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), por meio do programa Água Limpa, teve um investimento total de R$ 12,3 milhões. O objetivo é que a estação, localizada na Estrada Municipal do Bairro “Baririzinho”, realize o tratamento de 100% do esgoto no município, além de auxiliar na revitalização do córrego Bica de Pedra, afluente do rio Tietê.

Na sessão ordinária desta segunda-feira (17), o vereador Rafael Ficcio (PL) também solicitou, via requerimento encaminhado à prefeita Maria Clélia Viaro Pichelli (PSD), explicações sobre o que ele definiu como “o descaso que está ocorrendo na ETE”. 

O texto alega que “há no mínimo 20 dias, o esgoto está sendo jogado diretamente no córrego, sem nenhum tratamento”. Rafael ainda questionou sobre a demora no reparo, alegando que a prefeitura conta com quatro bombas, sendo duas reservas.
Na deliberação do requerimento, Juliano Maia (MDB) se juntou às cobranças de Rita Xavier e Rafael Ficcio, dizendo que também questionou as autoridades municipais sobre o vazamento de dejetos.

“Tentei conversar com os responsáveis do setor. Acredito que está um pouco abandonado. Quando a gente assume uma gestão, a primeira coisa que a gente precisa fazer é procurar informações sobre o que estava errado. Se havia uma bomba reserva, foi entregue à ela (Clélia) com uma bomba funcionando e a reserva quebrada. No meu ponto de vista, em relação à população, foi um desrespeito. Fui até o local e o cheiro era insuportável. Me coloquei no lugar das pessoas que moram ali perto. É impossível dormir e acordar com aquele cheiro. Não me deram os orçamentos, mas fiquei sabendo que foi consertado por uma empresa de Barra bonita por 5 mil. Se para uma prefeitura, R$ 5 mil for problema, não vai dar certo. Espero que não aconteça mais, porque nós, munícipes, que pagamos impostos, não merecemos. O esgoto é essencial; a prefeitura tem a obrigação de manter 100% e mandar o esgoto tratado pelo córrego. Os funcionários do setor são competentes, mas o descaso com o conserto da bomba ultrapassou 20 dias e isso não pode acontecer”, disse Juliano. 

Com a repercussão do caso pelas redes sociais e a denúncia enviada à Cetesb, a administração trocou a bomba quebrada no final da semana passada, após 20 dias de vazamento que geraram poluição e transtornos aos moradores. 

Aterro Sanitário

Outra denúncia contra a gestão encaminhada à Cetesb de forma anônima, diz respeito ao aterro sanitário de Itapuí, localizado às margens da rodovia vicinal Angelo Poli (SP-304), que liga Itapuí à Bariri.

“Gostaria de denunciar irregularidades em um aterro sanitário localizado no município de Itapuí. O local apresenta presença de catadores sem equipamentos de proteção, diversos animais (urubus, cachorros, porcos e cavalos) circulando, além de emissão constante de fumaça, que parece ser resultado de queima de resíduos. A situação traz riscos ambientais, sanitários e à saúde da comunidade próxima. Solicito a apuração e providências”, diz o denunciante.

Imagens do local encaminhadas à nossa reportagem mostram a presença de animais carniceiros e pessoas catando os materiais sem proteção alguma, nem mesmo utilizando luvas. 

Ainda de acordo com o denunciante, a alteração no horário da coleta seletiva em Itapuí agravou o problema dos catadores expostos à contaminação no aterro.

Até o ano passado, a coleta de lixo era realizada no período noturno. De janeiro para cá, a nova gestão alterou o serviço para o período diurno, fator que facilitou o acesso de catadores no aterro.

“Com a coleta noturna, eles tinham dificuldade em ficar no aterro. Agora, a coleta passou para o período diurno. Sendo assim, os catadores estão plantados esperando o caminhão chegar para descarregar o lixo doméstico da cidade”, completa o denunciante.

Mau cheiro no Pichelli

Outra reclamação recorrente em Itapuí é realizada pelos moradores do bairro Pichelli, que clamam por soluções contra o mau cheiro inalado pelo córrego que fica próximo ao bairro. Na sessão desta segunda, alguns moradores do Pichelli, inclusive, acompanharam o pleito, chamando a atenção dos vereadores para o problema.
Segundo o que foi apontado pelos próprios vereadores durante a sessão, o mau cheiro seria causado pelas atividades de descartes de resíduos de uma avícola.

“A cidade toda estava um cheiro insuportável alguns dias atrás. Ficaram de fazer o tratamento a acertar a solicitação, mas até o momento, não foi arrumado. Temos que ficar cobrando a empresa e a prefeita, de regularizar a situação com eles. O esgoto fica in natura pelo córrego e, quando chove, desce todos os materiais e carcaças”, observou Rita Xavier.

Oberlei da Silva (Podemos), lembrou que o problema é antigo.

“Pedimos regime de urgência para que a prefeita possa falar com os diretores da empresa, que eles possam explicar onde estão jogando esses resíduos. É no córrego? Foi feita uma canalização? Temos um morador do Pichelli aqui e ele mesmo pode falar a todos, porque o cheiro é insuportável. Peço que nossa prefeita chame os diretores da empresa e se explique. Precisamos de respostas”, pediu.

O que diz o Meio Ambiente?

Nossa reportagem entrou em contato via e-mail com Sebastião da Silva Fonseca Junior, que comanda a diretoria de Meio Ambiente. Junior Fonseca emitiu a seguinte nota:

“Quanto a primeira denúncia, a respeito do vazamento na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), iniciamos nosso trabalho em 02/01/2025, oportunidade em que avaliando as condições de operação da ETE, identificamos uma infinidade de problemas por falta de manutenção preventiva e corretiva. Informados que existem duas bombas para bombeamento do esgoto para dentro da estação de tratamento, e que apenas uma delas estava em operação, visto que a segunda apresentou problema no final do ano passado e não foi providenciado o conserto, portanto a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) estava operando sem a bomba reserva, diante disso solicitamos uma licitação para o reparo dessa bomba evitando maiores transtornos. Enquanto aguardávamos esse reparo, a bomba principal apresentou problema e sem o bombeamento ocorreu o vazamento do esgoto. Como a ETE não tem um contrato de manutenção dos motores, não tem contrato de manutenção dos painéis de controle, tivemos uma grande dificuldade em sanar o problema. Estamos providenciando as licitações para os contratos de manutenção da Estação de Tratamento de Esgoto ETE, diante do exposto fica claro que se houve crime ambiental foi responsabilidade da gestão anterior. Já a segunda denuncia também se trata de descaso da administração anterior com o meio ambiente, visto que em 02/01/2025 encontramos o Aterro Sanitário exatamente conforme a denúncia, porem logo nos primeiros dias tomamos as providências necessárias para corrigir os problemas, retirando os animais e catadores e fazendo o acondicionamento correto dos resíduos. Fizemos uma cerca provisória para impedir a entrada de animais, também fechamos a entrada fazendo o controle de acesso para evitar problema com catadores de recicláveis. Nosso projeto e adequar o aterro ao que determina a legislação, e ainda construir ao lado da portaria o Ecoponto, também já licitamos a compra de lixeiras para seleção de recicláveis que serão instaladas pela cidade em um programa de educação ambiental. Em relação a mau cheiro causado pelo efluente industrial, muito nos preocupa pois a vários anos isso dificulta a vida na cidade, recebemos um abaixo assinado dos moradores do Bairro Santa Clara, fizemos contato com a empresa e esse assunto está na pauta da próxima reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMDEM), que deve acontecer na primeira semana de março/2025. Sem mais, agradecemos e ficamos à disposição.”