Myrella Soares pede intervenção do MP por situação insalubre de creche “esquecida” pelo governo Fernando Foloni; Unidade de ensino infantil é comparada a uma prisão

Myrella Soares pede intervenção do MP por situação insalubre de creche “esquecida” pelo governo Fernando Foloni; Unidade de ensino infantil é comparada a uma prisão

Por Thaisa Moraes

Sem iluminação, sem ventilação, sem piso frio e sem produtos de higiene e limpeza. Esta é a situação da Creche Marina Budin, localizada no Núcleo Habitacional Domingos Aquilante, nos altos da cidade. Na última semana, um grupo de mães acionou a vereadora Myrella Soares, que realizou visita de fiscalização no local e se indignou com o que viu.
“Esse foi um fato que me deixou bastante surpresa. Não imaginava que a creche estaria numa situação tão lastimável. O local onde as crianças estão fazendo suas refeições mais parece uma prisão: um corredor totalmente fechado, sem janela, sem iluminação, sem ventilador. O telhado foi feito com um material parecido com alumínio que é extremamente quente. Eu fui lá 13h. Pelo o que me foi passado, a alimentação das crianças é servida às 15h. Eu não consegui ficar mais do que 10 minutos ali, vocês imaginam como é para as crianças de 0 a 2 anos, principalmente as do berçário”, refletiu Myrella na sessão ordinária desta segunda-feira (04).
Um grupo de mães representando as 150 crianças atendidas na creche Marina Budin acompanhou a sessão no plenário. Myrella endereçou requerimento à Prefeitura Municipal de Bariri cobrando explicações sobre a reforma da unidade de ensino infantil, obra que foi iniciada em 2021 e não foi concluída até o presente momento. 
Na deliberação do requerimento, a vereadora também chamou a atenção para a falta de materiais de higiene e limpeza na creche. Apesar dos inúmeros pedidos e solicitações, a administração Fernando Foloni está há tempos sem enviar produtos básicos para que as funcionárias possam fazer a limpeza do ambiente. As servidoras estão higienizando o local apenas com água. 
“É uma situação desumana para as crianças e para as cuidadoras. O fato que me deixa mais aturdida é ver que, no armário das meninas que fazem a limpeza, não existe sabão, água sanitária, álcool... não existe o mínimo do mínimo para fazer uma higiene descente. As crianças que estão ali são filhos de trabalhadores dos altos da cidade. A realidade é que são tratados dessa forma porque são pobres. Se fosse uma parte nobre da cidade, tenho certeza que a creche não estaria dessa forma. É um completo abandono pelo Poder Público. O que está acontecendo com essas crianças é um abuso”, completou Myrella. Segundo ela, a única área que está sendo higienizada corretamente é a cozinha, uma vez que a alimentação é terceirizada, ou seja, não depende da prefeitura. 
Myrella foi além do requerimento: a parlamentar também acionou o Ministério Público através de representação endereçada à Promotoria de Justiça de Bariri.
“Venho mui respeitosamente apresentar denúncia advinda de pais de alunos da Creche Marina Budin. Após visita, foi observado por mim, que o citado espaço não possui iluminação própria, ventilador, nem janela, ou seja, não tem ventilação natural, além das paredes estarem no reboco e sem piso frio, tornando o local um ambiente quente e abafado. Ao questionar como era realizada a limpeza, fui informada que apesar de diversas requisições solicitando produtos de limpeza, faziam meses que a unidade era limpa apenas com água, quando muito utilizavam sabão de soda que as funcionárias tinham que trazer de casa. Tal situação destoa do que preconiza o Ministério da Educação, além de infringir diversas normas sanitárias, o que coloca a saúde e bem-estar das crianças em risco, solicito portanto, que o Ministério Público intervenha em defesa dos infantes que dependem das instalações da creche em caráter de urgência por se tratar de risco à saúde e integridade das mesmas”, diz o documento.

 

“Nossos filhos ficam num forno”, desabafa mãe
A reportagem do Noticiantes foi acionada por Thamires, mãe de uma bebê de um ano e meio que é atendida pela creche Marina Budin. Ao comentar sobre a situação da unidade escolar, Thamires não conteve a emoção: ela disse que precisa trabalhar fora e não tem outra alternativa, a não ser deixar sua filha na creche, mesmo nas atuais circunstâncias. 
“A gente precisa trabalhar e deixamos nossos filhos aqui na creche confiando. As meninas cuidam muito bem, não tem o que reclamar, mas a questão é a obra. Os nossos filhos ficam num forno. As crianças soam, passam mal. Minha filha é cheia de feridas do calor. Eu nunca entendia, porque, no final de semana ela sarava e, durante a semana, as feridas voltavam. Descobrimos o que estava acontecendo depois de uma reunião de pais que ocorreu à noite. Estávamos suando à noite, imagina o calor extremo que as crianças passam durante o dia. A situação está assim porque não são os filhos do prefeito que estão aqui e porque a creche é na vila”, disse a mãe. 

 

Erro de engenharia grotesco paralisou reforma em 2023

Em maio de 2021, a Prefeitura Municipal de Bariri comemorou o recebimento de uma verba no valor de R$ 300 mil, através de emenda parlamentar do deputado estadual Rafael Zimbaldi, recurso destinado para reforma e ampliação da Creche Marina Budin. No entanto, após oito meses de iniciada, a obra foi paralisada por conta de um erro grotesco no projeto de engenharia.
Os pedreiros receberam ordem de derrubada de algumas paredes, mas não executaram o plano. Isso porque o engenheiro responsável não previu que tais paredes sustentavam o teto e, portanto, não poderiam ser demolidas para a ampliação projetada. Caso o erro não tivesse sido percebido pelos pedreiros, a estrutura toda da creche poderia ter vindo abaixo.
Foram os próprios pedreiros que comunicaram o fato ao vereador Edcarlos Santos, que expôs a situação na sessão camarária do dia 19 de junho de 2023. O assunto foi matéria de capa da edição 267 do Jornal Noticiantes.
Na sessão desta semana, o nobre relembrou o imbróglio e fez coro ao requerimento de Myrella Soares, pedindo, inclusive, para assinar a matéria junto com a vereadora. 
“A prefeitura receber uma verba que um deputado enviou. Foram R$ 300 mil jogados fora. Mais uma verba perdida pela gestão Abelardo-Foloni. Estamos falando dessa creche desde o ano passado. O pessoal da limpeza está fazendo milagre. Outro dia fui lá e uma funcionária da limpeza me disse que pegou dinheiro do próprio vale e comprou uma vassoura. Essa é a situação da administração pública de Bariri: um show de horrores. Olha a incompetência escancarada dessa administração, sem falar na falta de sensibilidade”, pontuou Edcarlos.