Família Acolhedora: “É essencial que as famílias voluntárias criem apego e vínculo com a criança durante a guarda provisória”, diz coordenadora da LAV

Família Acolhedora: “É essencial que as famílias voluntárias criem apego e vínculo com a criança durante a guarda provisória”, diz coordenadora da LAV

Por Thaisa Moraes

O Lar Amor e Vida (LAV) de Bariri passou a oferecer um novo caminho para crianças em situação de vulnerabilidade familiar e social: o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA). O serviço organiza o acolhimento temporário de crianças em residências de famílias previamente selecionadas e capacitadas, garantindo atenção individualizada, construção de relações de afeto, constância de cuidados e convivência comunitária, elementos essenciais para o desenvolvimento integral saudável das crianças.
O encaminhamento para uma família acolhedora ocorre quando o juiz expede uma medida protetiva de acolhimento direcionando para o SFA, relacionada a um infante em situação de abandono ou afastada do contexto familiar por ameaça ou violação de direitos. O serviço, possibilita que a criança seja recebida e cuidada temporariamente na casa de uma família acolhedora. Cada Família Acolhedora recebe uma criança por vez, exceto quando aceita acolher um grupo de irmãos. 
Segundo Gabriela Prado Rodrigues, coordenadora e Maria Eugenia, psicóloga do Lar Amor e Vida, existe um grande tabu em relação ao serviço de Família Acolhedora que precisa ser quebrado: algumas famílias têm receio em se inscrever no serviço por medo de criarem vínculos emocionais com a criança. Para Gabriela e Maria Eugenia, a criação de vinculo é essencial e fundamental para proporcionar um ambiente familiar saudável e acolhedor aos atendidos. 

“A família acolhedora tem se revelado no Brasil e no mundo um serviço que proporciona de fato um cuidado individualizado e propiciando vivências familiar e comunitária seguras. Muitas pessoas têm dificuldade em entrar nesse programa Família Acolhedora porque acabam se apegando muito às crianças.  O apego é necessário e ocorre dentro da família acolhedora. A criança já foi separada dos pais e isso não é possível mudar. Então, devemos lidar com isso ofertando o melhor cuidado. Vivência de afeto, de amor, de cuidado, de carinho, são coisas que permanecem e nunca vão ser um malefício para seu desenvolvimento. O apego é constitutivo do sujeito e é importante, é possível que haja ciclo do cuidado, como uma despedida. Despedidas podem gerar momentos em que você chora e sente falta, mas sentir o abandono e a negligência deixa sequelas. É o que separa e compromete o desenvolvimento. E o adulto teme o que a criança mais necessita, ou seja, o apego, no entanto esse afeto estará proporcionando a ela algo para o resto de sua vida. A criança a quem esse apego é negado vai buscá-lo para sempre”, explicam.


Para se tornar uma família acolhedora, basta procurar a sede do Lar Amor e Vida e se inscrever no programa. A família acolhedora pode ser em qualquer formato, como uma pessoa aposentada, que não teve filhos, que já criou filhos ou que está criando filhos, por exemplo. 

“As famílias precisam ter espírito de solidariedade e espírito cidadão. São pessoas que se apresentam voluntariamente na LAV e serão preparadas e habilitadas para exercer a função. Os voluntários selecionados são acompanhados por uma equipe de profissionais para receber crianças em situação de vulnerabilidade. As etapas de preparação consistem inicialmente em palestras, visitas domiciliares, entrevistas, questionários e cursos de qualificação. Durante o acolhimento haverá um acompanhamento da criança, da família acolhedora e da família de origem. Este acompanhamento será realizado pela equipe da LAV e do Sistema de Garantia de Direitos do município, através de atendimentos individuais e familiares, visitas domiciliares e articulações com as políticas públicas necessárias”, completa Gabriela.


Ela ressalta também que, para ser voluntário em Família Acolhedora, a pessoa não pode ter a intenção de adoção, visto que o serviço é temporário e tem começo, meio e fim. A família acolhedora vinculada ao serviço terá a guarda provisória da criança acolhida.
Em Bariri, o serviço de Família Acolhedora está em fase de consolidação; a LAV realizou a sua primeira palestra de apresentação sobre o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA) em 03 de agosto. No município, o serviço atenderá crianças da primeira infância, dos 0 aos 6 anos. 

“A família acolhedora tem se revelado no Brasil e no mundo um serviço que proporciona de fato um cuidado individualizado e propiciando vivências familiar e comunitária seguras. E os benefícios são muitos: o estabelecimento de vínculos estáveis, um ambiente onde as crianças possam ser olhados em sua individualidade, a possibilidade de um trabalho para a autonomia que podem participar de uma vida familiar e doméstica, transições mais cuidadas para o retorno familiar e adoção, e um maior investimento na família de origem. Segundo o Censo SUAS, as crianças ficam menos tempo acolhidos em serviços de família acolhedora, em comparação com o acolhimento institucional”, finaliza Gabriela.