“Quando uma pessoa percebe que a vida dela destoa completamente de quem ela é”

“Quando uma pessoa percebe que a vida dela destoa completamente de quem ela é”

Cada pessoa ao olhar para sua história de vida perceberá, provavelmente, que ali existe um caminho percorrido, e este se encontra composto de uma trama, muitas vezes, bem complexa. Nesta estarão presentes uma teia de acontecimentos como: sonhos e frustrações; alegrias e angústias; acertos e erros; afetos e desafetos e mais uma porção de coisas. Esse caminho percorrido – história – está recheado de acontecimentos que podem ser chamados de enredos existenciais. Portanto, nos enredos é que estão os elementos a serem tratados neste artigo.
Uma pessoa, certo dia no consultório, havia feito uma pergunta que possibilitou o assunto desta edição, pois estava querendo saber se sua história de vida tinha sido construída por ela mesma. A partir de tal indagação muitos apontamentos foram realizados, fazendo com que ela entendesse que em parte sim, porém não totalmente. Contudo, isso não seria necessariamente um problema. Deste modo, apaziguou-se!
Não são poucas às vezes em que os maiores ditames existenciais na vida de uma pessoa tenham sido “escritos” por um outro autor e, este autor poderá ser nem mesmo outra pessoa, pontualmente falando. Significa dizer, que poderão ser muitos autores de forma indefinida, por exemplo, poderia ser a sociedade como um todo.
Como já enunciado, nem sempre há um mal nisso, pois para algumas pessoas o que elas viveram nem mesmo têm importância, já para outras, até têm importância suas histórias e os enredos que compõem suas estruturas existenciais, entretanto funcionam a partir de outras pessoas. Neste último caso, estas ficam bem quando outros determinam os “recheios”, a trama em suas vidas, significando, com isso, que na história de vida de algumas pessoas, a autoria é insignificante e dizem: Como foi bom o jeito que meus pais me encaminharam; foi tão importante o papel exercido pelo meu avô em minha vida e vejo que sou em boa parte, mais ele do que eu mesma; tenho um amigo que, olhando para minha história, posso concluir que grande parte do que vivi, ele foi o autor, e isso me dá segurança para continuar caminhando... Esses movimentos em si mesmos, não são um problema e, reafirmando o já mencionado, não há por que tencionar. Também é possível ocorrer tais movimentos de forma múltipla, ou seja, por diversas vias. É claro que, alguém que tenha tais características, poderá dispor sua existência a uma, ou muitas pessoas, ou a uma sociedade que longe poderá estar de ser uma boa roteirista. É preciso cuidado! 
Outro ponto a ser considerado é quando a pessoa apresenta desejos, sonhos e até tem uma forma própria de conduzir sua vida, mas de repente se vê enredada numa trama muito complexa ao ponto de se sentir não autora de suas vivências e isso lhe causar como que, uma impressão de ser alguém que não é, ou seja, é mais personagem, mais atora que autora. Isso poderá ser dramático!
Algumas pessoas têm a impressão de estarem cumprindo simplesmente um triste destino, como um trem no trilho. Sentem-se presas, e dizem não ser esse o roteiro que elas gostariam de fazer; não ser essa a forma de vida que escolheram. Queixas assim ocorrem bastante no consultório! Um exemplo comum é quando um casal estabelece uma relação, porém os mundos são distantes e uma pessoa é bem determinante na vida da outra e com o passar do tempo poderão surgir tais lamentos, pois a pessoa olha para os caminhos percorridos e vê somente a determinação da outra pessoa. 
Se os mundos são diferentes, o que teria levado uma em direção a outra? Dentre muitos motivos, apenas será destacado um: poderia ser alvo determinante numa das pessoas, por exemplo, a estrutura física da outra e, isso ser tão categórico, que as diferenças ficariam por determinado tempo, existencialmente falando, como que num ponto cego.
Algumas pessoas apresentam como que itens vivenciados, episódios, trechos existenciais, pessoas que até do curso de suas histórias gostariam de retirar. Outras, até têm lá dentro temas dramáticos, porém não querem mexer neles.
Isto posto, a questão é que quando essa realidade aparece no consultório, requer sério cuidado, considerando pertinentemente a demanda, é possível sim, muitas vezes, proceder de forma a minimizar, atenuar e até suprimir tais controvérsias nos movimentos existenciais de uma pessoa.