Dono da Latina e “Gordo do Lixo” trocaram mensagens sobre cenário político de Bariri; Giacon usa termo racista para se referir a vereador de oposição ao governo Abelardinho

Dono da Latina e “Gordo do Lixo” trocaram mensagens sobre cenário político de Bariri; Giacon usa termo racista para se referir a vereador de oposição ao governo Abelardinho

Por Lucas Araujo e Thaisa Moraes

Em relatório anexado aos autos do processo do caso Latina nesta segunda-feira (17), o promotor Nelson Aparecido Febraio Junior, do Ministério Púbico do Estado de São Paulo, novamente apresentou informações obtidas através da quebra de sigilo telefônico de Paulo Ricardo Barboza, proprietário da Latina Ambiental.
Em um dos áudios transcritos no relatório, a promotoria chama a atenção para o fato de Abílio Giacon Neto (citado por alguns réus como “Gordo do Lixo”) conversa com Paulo Ricardo sobre o cenário político de Bariri. “Abílio manda áudio para Paulo posicionando a situação política da cidade, em total demonstração de que tratavam de assuntos relacionados no município”, conclui o MP.
Na troca de mensagens, Abílio e Paulo citam o vereador Edcarlos Santos, um dos principais vereadores de oposição da gestão Abelardo-Foloni. Junto de Leandro Gonzalez e Myrella Soares, Edcarlos de opôs à atual administração desde o início de seu mandato, em janeiro de 2021. O vereador confirmou sua pré-candidatura ao cargo de prefeito de Bariri para as Eleições 2024. 
Abílio se refere a Edcarlos usando o termo “neguinho”, expressão racista comum no Brasil. A palavra, utilizada no diminutivo, serve para reduzir ou relacionar pessoas negras a inferiores intelectualmente. 
A expressão racista criou polêmica na imprensa internacional no ano passado, quando o ex-piloto Nelson Piquet, foi condenado ao pagamento de R$ 5 milhões por usar o termo “Neguinho” para se referir ao também piloto Lewis Hamilton. O pagamento da multa, no entanto, foi anulado após a Justiça acatar um recurso da defesa de Piquet.

“Então, eu estava atendendo um cara aqui. O do Neguinho a gente sabe que é fogo de palha ele está na mídia e até o Neto odeia ele também é inimigo dele e ele não vai deixar. Ele vai exterminar. Na verdade, a intenção do neto é sair no Mano a Mano com Abelardo que ele sabe que no Mano a Mano a chance dele ganhar é grande, se pulverizar pica muito voto, aí dá para dá para é ficar com medo de perder”, diz Abílio em áudio enviado a Paulo.


A comprovação de que os dois estavam falando dobre Edcarlos vem na resposta do dono da Latina ao empresário da coleta de lixo:

 

“Gordo, isso aí nós já falamos já. E eu vou falar pra você aqui entre nós, isso é a realidade, tá? É exatamente isso o cenário. Eu só não sei se o Edcarlos eventualmente aí é tem potencial, porque ele está na mídia agora, então, na verdade, é uma pesquisa estimulada que o cara lembra dele na hora, então que é o que mais é o mais babaca aí que mais aparece, para bem ou para mal.”

 

Defesa da Latina tacha provas como “fantasiosas”

A defesa de Paulo Ricardo Barboza e da Latina Ambiental Ltda. está contestando a legalidade e acessibilidade das provas apresentadas contra eles. Os advogados de defesa alegam cerceamento de defesa, argumentando que o Ministério Público não forneceu acesso adequado às provas eletrônicas.
Os advogados destacam que o MP disponibilizou links para documentos e provas digitais, mas o acesso a esses arquivos é restrito, sendo necessário o pagamento para obter os dados. Segundo a defesa, esta prática fere o direito constitucional à ampla defesa, pois obriga os réus a arcar com altos custos para acessar as provas, o que consideram uma obrigação do autor da ação, e não deles.
Na contestação, os réus também levantam uma preliminar de cerceamento de defesa, solicitando que o MP seja intimado a fornecer a documentação de forma acessível ou disponibilizar uma senha para acesso aos links mencionados nos autos. Caso contrário, pedem que essas provas não sejam consideradas no processo.
Além da questão das provas, a defesa critica a narrativa inicial do MP, classificando-a como fantasiosa e desprovida de sustentação nas evidências apresentadas. O primeiro fundamento da acusação envolve alegações de que os réus teriam formado uma estrutura para fraudar licitações e usar influência indevida em várias prefeituras.
Os advogados ainda questionam a competência do juízo que está conduzindo o caso, requerendo que o processo seja transferido ao Tribunal de Justiça, devido à natureza complexa e abrangente das alegações que envolvem múltiplas jurisdições municipais.

 

Promotoria rebate

O promotor de Justiça Nelson Aparecido Febraio Junior se manifestou. Em seu parecer, refuta as alegações da defesa da Latina e de Paulo Ricardo. Ele esclarece que o Ministério Público não faz suposições ao acusar o empresário de criar documentos licitatórios. “O Ministério Público imputa com certeza pericial, pois as extrações dos eletrônicos confirmaram que foi, de fato, Paulo quem elaborou toda a fraude”, afirma o promotor
Ele destaca que os documentos em questão foram gerados nos computadores de Paulo, enviados por ele e comprovados por meio de perícia técnica nos dispositivos apreendidos. “Os arquivos confirmam, por meio de seus metadados, que Paulo foi o autor”, reforça.
A investigação conduzida pela Promotoria de Justiça revelou que o empresário preparava as licitações em colaboração com agentes públicos. O Ministério Público também contesta a defesa sobre a inacessibilidade de certos links, assegurando que todos foram testados e estão ativos.
Adicionalmente, o MP rebate a alegação de que o caso deva ser remetido ao Tribunal de Justiça de São Paulo devido à participação do prefeito na investigação. Segundo o promotor, não há prerrogativa de foro em ações de improbidade administrativa.