Abelardo Simões se torna o primeiro prefeito cassado da história de Bariri: Sessão Julgamento com mais de sete horas resultou no impeachment em decisão unânime, na madrugada do feriado da Proclamação da República

Abelardo Simões se torna o primeiro prefeito cassado da história de Bariri: Sessão Julgamento com mais de sete horas resultou no impeachment em decisão unânime, na madrugada do feriado da Proclamação da República

Dia 15 de novembro de 1889, um dia nacionalmente importante: a data assinalou o fim do regime monárquico que perdurava desde a independência do Brasil, em 1822, com governantes como Dom Pedro I e Dom Pedro II. Desde então, a Proclamação da República Brasileira tornou-se um feriado nacional. 
Em Bariri, o dia 15 de novembro de 2020 (um domingo) também foi simbólico. Há três anos, o então candidato a prefeito pelo MDB, Abelardo Maurício Martins Simões Filho, vencia as Eleições Municipais com 45,78% dos votos válidos (7.315 votos). Junto de seu vice, Fernando Foloni (Cidadania), mesmo sendo um novato no meio político, Abelardinho derrotou nomes já conhecidos da população baririense: Neto Leoni, Maria Pia e Parraguinha. 
A história de Bariri muda novamente no dia 15 de novembro de 2023: na madrugada do feriado da Proclamação da República, Abelardo Maurício Martins Simões Filho viu seu sonho chegar ao fim: o prefeito teve seu mandato cassado por unanimidade dos nove vereadores da Câmara Municipal, por proceder de modo incompatível com o decoro e a dignidade do cargo. Abelardinho está envolvido no esquema criminoso de fraude em licitações da Prefeitura Municipal de Bariri, conforme apontado na extensa investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). 
O impeachment foi oficialmente declarado na madrugada desta quarta-feira (15), ao final da extensa Sessão Julgamento que durou 7 horas, 19 minutos e 38 segundos (tempo exato da transmissão oficial no YouTube da câmara). Sentado estrategicamente no centro do plenário Legislativo, ao lado de seu advogado de defesa, Abelardinho viu um a um dos nove vereadores declararem votos favoráveis à cassação. Na plateia, estavam a primeira-dama Anai Padovani Simões, o vice-prefeito Fernando Foloni e sua esposa Alexia, além de diretores comissionados da gestão. 
A votação nominal aconteceu na seguinte ordem: Luis Renato Proti “Escadinha”; Edcarlos Santos; Ricardo Prearo; Leandro Gonzalez; Evandro Folieni; Julio Cesar Devides; Myrella Soares; Benedito Antonio Franchini; Airton Pegoraro. Após a votação unânime, a sessão foi brevemente interrompida e, na sequência, o presidente da câmara, Airton Pegoraro, leu o decreto legislativo que decretou oficialmente a cassação do mantado de Abelardinho, além de empossar o vice, Fernando Foloni, que agora ocupa o cargo de chefe do Executivo.


O que acontece com Abelardinho?

Com o impeachment, o agora ex-prefeito Abelardo Maurício Martins Simões Filho, perde o foro por prerrogativa de função (uma espécie de foro privilegiado), além de ficar inelegível pelo período de oito anos.
Nas redes sociais, o ex-prefeito fez o seguinte pronunciamento: “Este é, sem dúvida, um momento difícil em minha vida política. A cassação do meu mandato (que foi honestamente obtido nas urnas) é injusta, resultado de um julgamento político com cartas marcadas na Câmara. Agradeço à minha esposa, minha família e a todos que estão ao meu lado. Não desistiremos de trabalhar por nossa cidade. Desejo sorte a Fernando Foloni, meu vice, que assume como prefeito. Bariri está em ótimas mãos”.

Apoiador de Abelardinho condenado por xenofobia ameaça vereadores
Na tarde desta quinta-feira (16), o vereador Evandro Folieni (PP) registrou boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil de Bariri , contra um apoiador político do ex-prefeito Abelardo Mauricio Martins Simões Filho (MDB). 
“Comparece a vítima informando que é vereador da cidade de Bariri/SP e que em decorrência da reunião extraordinária de Julgamento, a qual foi concluída com a cassação do até então prefeito municipal Abelardo, nesta data, por volta do horário do almoço, a vítima estava de frente a loja Popstyl conversando com uma pessoa, quando ali passou A. B., passando a dizer em altos dizeres: ‘Vagabundo, sem vergonha, você não é homem’, bem como o ameaçava dizendo: ‘você vai ver só'. Depois, disse que o autor saiu do local e não mais foi visto. A vítima, por fim, informa que durante a sessão, este mesmo individuo já o teria ameaçado, bem como a outros vereadores”, diz o B.O do qual a reportagem do Noticiantes teve acesso.
Após a votação, nossa equipe presenciou o vereador Luis Renato Proti “Escadinha”, ser abordado de maneira enérgica por este mesmo apoiador de Abelardinho que acompanhou a sessão. O fato aconteceu na secretaria da Câmara Municipal. Apontando o dedo em direção ao rosto de Escadinha, o indivíduo alterou a voz. A confusão foi apaziguada com a chegada de Abelardinho, que se colocou entre os dois.
Segundo apurado por nossa reportagem, além de Evandro e Escadinha, os vereadores Julio Cesar Devides e Benedito Antonio Franchini também foram abordados pela mesma pessoa, na parte de baixo do Paço Municipal. A equipe de segurança e a Polícia Militar chegaram a ser acionadas por conta das ameaças.
Em sua fala na tribuna na sessão julgamento, o vereador Edcarlos Santos fez menção ao apoiador de Abelardinho, que foi condenado em uma ação do Ministério Público Federal por xenofobia. “Tem gente aqui no plenário que gosta de atacar nordestinos”, alfinetou Edcarlos, que é descendente de nordestinos. 
Em 2021, a Justiça Federal de Bauru instaurou ação penal, no fim do mês de maio, contra o baririense. Na oportunidade, o apoiador de Abelardinho virou réu por prática de preconceito após um comentário publicado no Instagram, em 2018.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal, o baririense chamou nordestinos de “burros” e “preguiçosos” na rede social, o que caracteriza o crime de xenofobia.
O comentário foi publicado em resposta a uma postagem na qual o poeta Bráulio Bessa exaltava o Nordeste. A mensagem discriminatória acompanhava manifestações de outros usuários com teor semelhante em 8 de outubro de 2018, dia seguinte ao primeiro turno da eleição presidencial.
“Mas os nordestinos são muito burros ou se fazem de burros. Depois vem aqui no estado de SP, trabalhar e dar trabalho, povo preguiçoso, querem viver nas custas do governo. O certo era separar os estados que o PT ganhou nas urnas […] e deixar o PT administrar, só esses estados”, dizia a mensagem.
O baririense foi condenado pelo crime, mas fez um acordo com a justiça, de acordo com a última atualização do processo datada de janeiro de 2023.