Câmara aprova criação de comissão para investigar óbito de servidor do Saemba; vereadores apontam negligência e amadorismo da autarquia baririense

Câmara aprova criação de comissão para investigar óbito de servidor do Saemba; vereadores apontam negligência e amadorismo da autarquia baririense
Câmara aprova criação de comissão para investigar óbito de servidor do Saemba; vereadores apontam negligência e amadorismo da autarquia baririense

A Câmara Municipal de Bariri aprovou segunda-feira (07), por unanimidade, o projeto que propôs a criação da chamada “Comissão de Assuntos Relevantes”, cuja função será acompanhar, ouvir pessoas envolvidas, analisar e fazer um relatório sobre o acidente que vitimou Adelson Aparecido Bertoldo, servidor público do Serviço de Água e Esgoto do Município de Bariri (Saemba), que veio a óbito na última semana. A vítima morreu soterrada após um desmoronamento de terra ocorrido em obra de responsabilidade da autarquia que estava sendo realizada às margens da Rodovia Bráz Fortunato. 
A proposta é de autoria dos vereadores Leandro Gonzalez (Podemos), Myrella Soares (União Brasil) e Edcarlos Santos (PSDB). De acordo com o Regimento Interno do Legislativo, a Comissão de Assuntos Relevantes é uma ferramenta parlamentar destinada à elaboração e apreciação de estudos de problemas municipais e à tomada de posição da Câmara em assuntos de conhecida relevância.
Antes da cotação que aprovou a criação da comissão, também foi aprovado um requerimento de autoria do vereador Leandro Gonzalez que pediu explicações ao Saemba pelo mesmo motivo. 
“O acidente poderia ter sido evitado. Não precisa ser nenhum expert sobre o assunto para falar isso. Houve uma grande negligência por parte de pessoas que eram para dar um ambiente de trabalho seguro para esse servidor. Um simples escoramento com madeira já teria resolvido, mas isso não aconteceu. Para família, é uma perda imensurável e quem vai acabar pagando por isso é a população – já que é direito da família buscar uma indenização na Justiça”, disse Leandro. 
Myrella Soares lembrou todas as homenagens póstumas que a prefeitura fez ao servidor falecido no trágico acidente, salientando que nenhuma honraria trará de volta a vida perdida.
“Essa Casa de Leis não ficará calada diante da situação tão grotesca que aconteceu. É lastimável que, em pleno 2023, as empresas ainda pequem nesse tipo de amadorismo. O amadorismo não pode custar a vida de um servidor. Quanto vale essa vida? Será que realmente o Executivo se importou com essa vida, ou foi só peso na consciência? Se fosse alguém de renome, diretor do Saemba e outros envolvidos já teriam sido exonerados faz tempo. Como é um servidor, colocam a bandeira à meio mastro e esperam que as coisas fiquem por isso mesmo”, opinou a vereadora.
Para Edcarlos Santos, é necessário ter cautela para com julgamentos antecipados, mas o parlamentar frisou que a investigação é de extrema importância – relembrando que o papel do vereador é, justamente, fiscalizar atos do Poder Público. 
“Tem que haver respeito ao luto da família, mas não devemos deixar de investigar. Um acidente desse porte não pode passar em branco. Nenhum investimento justifica uma morte. Eu não tenho rabo preso nem com a empresa nem com o superintendente. A empresa não patrocinou minha campanha”, disse Edcarlos se referindo a um burburinho que corre nos bastidores: informações extraoficiais dão conta de que uma empresa instalada próxima à obra (que teria financiado a campanha política de um vereador eleito em 2020) seria diretamente beneficiada na execução do trabalho realizado com recursos públicos. 
Benedito Antoni Franchini (PP) e Ricardo Prearo (PDT) também se manifestaram favoráveis à investigação interna do Legislativo. Por fim, o presidente da Câmara, Airton Pegoraro, salientou a importância de a Casa de Leis tomar uma atitude em relação a casos como este.
“Os nobres pares não decepcionaram! Está sendo criada uma Comissão de Assuntos Relevantes. Esta câmara tem mostrado uma seriedade muito grande quando o problema é sério. Observamos a precariedade e o amadorismo que temos na administração pública, não só no Saemba. No Barracão falta equipamento de proteção individual e coletiva, falta treinamento... quando começamos a observar empresas que tratam com profissionalismo, há um protocolo para tudo. Existem normas de segurança a serem seguidas e a questão do ‘sempre foi assim’ que não podemos aceitar. Não é uma argumentação aceitável. A comissão não será uma caça às bruxas, mas o posicionamento dessa câmara será de forma firme, sem sensacionalismo e respeitando o luto da família, principalmente para evitar que novos casos aconteçam. De uma semana do ocorrido para cá, será que mudou alguma coisa?”, questionou Pegoraro.
 

Folieni vota favorável à investigação, mas sinaliza apoio à autarquia em discurso que rebateu fala de colegas

Ao deliberar sobre o requerimento que pediu a investigação da morte do servidor, Evandro Folieni (PP) adotou uma postura diferente dos colegas. O vereador sinalizou voto de confiança ao Serviço de Água e Esgoto de Bariri (Saemba), diferentemente dos outros parlamentares, que não pouparam fortes críticas à autarquia. 
Folieni classificou como “pesada” a fala de Myrella Soares, além de contestar o posicionamento de Edcarlos sobre a fatalidade, chegando a interromper o discurso do colega para retrucar sobre mensagens trocadas no grupo de WhatsApp dos vereadores no dia da morte de Adelson. Neste momento, houve breve intervenção do presidente da Câmara, Airton Pegoraro.
A fala do vereador do PP causou certa agitação na plateia: servidores do Saemba (ex-colegas de trabalho de Adelson Aparecido Bertoldo) que acompanharam o pleito, demonstraram inquietação. Gilson de Souza Carvalho, Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos, também aparentou irritação com o discurso de Folieni. 
“Eu participei da obra desde o início. Desde quando começou lá na empresa. Ninguém sai de casa para matar alguém. Nem o superintendente do Saemba nem o prefeito. Quando chamaram os funcionários do Saemba, eles falaram que estavam aptos a fazer, inclusive o Adelson fez várias obras, até de sete metros. É lastimável, mas ninguém quer tirar a vida de ninguém. Falo isso porque eu faço parte, eu ia todo dia na obra. O vereador Escadinha também estava junto desde o primeiro momento. Desde quando eu conheço o Saemba, nunca teve esses equipamentos e todos trabalharam do mesmo jeito. Vamos com calma”, pediu o nobre.