Vídeo mostra diretor administrativo descarregando carro particular de funcionária terceirizada com arquivos internos da Prefeitura de Bariri; Polícia Civil abre inquérito

Em dezembro de 2021, o Sindicado dos Servidores Públicos Municipais de Bariri expôs o suposto caso de uma funcionária da empresa SF Rossi Segurança, que presta serviços à prefeitura de Bariri. Segundo o sindicato, Fernanda Rossi estaria trabalhando nas dependências do Paço Municipal e utilizando equipamentos do Poder Público. O órgão afirma que recebeu denúncia dos próprios funcionários públicos, que procuraram o sindicato de forma anônima, intimidados com a presença de Fernanda na prefeitura.  
Em entrevista à nossa reportagem na época do fato, Gilson de Souza Carvalho (atual presidente licenciado do Sindicato dos Servidores) comentou que foi pessoalmente até a prefeitura para averiguar a denúncia. 

“Fomos acionados por servidores de carreira que estavam se sentindo incomodados com a presença de uma cidadã, que não é servidora. Ela já foi servidora no passado, mas, por ordem judicial, teve que ser exonerada junto com os cargos que existiam na prefeitura antigamente. Após registro da denúncia, eu, na condição de presidente do sindicato, fui até o Paço Municipal, onde flagrei a funcionária da suposta empresa prestadora de serviço no Setor de Licitações. A tal cidadã estava usando de equipamento público, usando travas, mexendo em documentos públicos... coisas proibidas por lei! Algo que poderia ser feito apenas por servidores. Toda empresa contratada tem que levar seu próprio equipamento; no próprio contrato já diz que a empresa tem que ter seus equipamentos. É proibido qualquer pessoa (que não seja servidora) usar o bem público a Deus dará”, contou Gilson.
Segundo ele, ao chegar no Paço Municipal, flagrou a funcionária no Setor de Licitações. No decorrer da conversa, as partes acabaram se desentendendo entre si. O caso foi levado, inclusive à Delegacia de Bariri e à Delegacia Seccional de Jaú. 
Na primeira sessão Legislativa de 2022, o vereador Leandro Gonzalez (Podemos) também comentou um caso semelhante. O parlamentar afirmou receber denúncia de que a mesma pessoa teria sido vista carregando e descarregando caixas de arquivos e documentos internos da Prefeitura Municipal de Bariri em seu carro particular. 
Nesta semana, a imprensa local e regional teve acesso a um vídeo do circuito interno de monitoramento e segurança da Prefeitura Municipal de Bariri, que mostra justamente o caso comentado por Leandro Gonzalez. Nas imagens datadas do dia 24 de novembro de 2021, é possível ver Fernanda acompanhada do diretor administrativo, Marcelo Lenharo, que entrega algumas caixas de arquivos a ela.
Na sequência, são mostradas imagens das dependências externas do Paço Municipal do dia 30 de novembro de 2021. O vídeo mostra o carro particular da funcionária estacionado na área destinada a veículos oficiais. Assim que Fernanda desce do carro, o porta-malas é aberto revelando estar repleto de caixas de arquivos. Todas as caixas são descarregadas por ela e pelo diretor administrativo, Marcelo Lenharo. 
O caso chegou à Polícia Civil de Bariri através do inquérito nº 2032776. No documento, o delegado dr. Durval Izar Neto pede mandado de busca domiciliar na residência do proprietário da SF Rossi Segurança, após Gilson de Souza Carvalho prestar depoimento alegando que a funcionária levaria para casa equipamentos e processos administrativos da Prefeitura Municipal de Bariri.  
“Os fatos apontados pelo senhor Gilson são graves, pois indica, além de acesso a informações sigilosas por pessoa inapropriada, a eventual utilização de equipamentos públicos”, afirmou o delegado.
Os policiais civis foram até a residência da funcionária e de seu esposo, proprietário da empresa terceirizada, mas não obtiveram êxito em encontrar nenhum documento ou equipamento no local. 

Diretor administrativo nega retirada 
de documentos da prefeitura em 
depoimento à Polícia Civil

No dia 04 de fevereiro de 2021, o diretor administrativo, Marcelo Lenharo, também foi chamado à delegacia para depor sobre o caso. Diferente do que revelam as imagens, ele negou a retirada de documentos internos da prefeitura. 
“O depoente não sabe dizer o porquê das alegações de Gilson quanto a afirmar que a funcionária leva documentos e aparelhos da prefeitura para sua casa que, segundo o depoente, isso não acontece”, alegou Lenharo, conforme citado no termo de depoimento. 
No depoimento, Marcelo também comentou sobre o fato de a funcionária utilizar uma das salas da prefeitura para executar o serviço terceirizado.
“Esclarece o depoente que Fernanda presta serviços à municipalidade através da empresa de seu marido que legalmente atua, pois ocorreu dispensa de licitação. Diz o depoente que indicou a Fernanda que ocupasse uma mesa no Setor de Licitações e que ali ela deveria manusear documentação necessária e suas obrigações. Fernanda é responsável pela assessoria na área de convênios e que para tanto, ela deve ter acesso a documentação necessária.”

Empresa foi contratada após 
retirada dos documentos

Outra divergência no caso, é a data de contratação da empresa SF Rossi Segurança ME. Segundo o Portal da Transparência da Prefeitura Municipal de Bariri, o contrato passou a vigorar a partir do dia 09 de dezembro de 2021, pelo valor de R$ 16 mil. 
No entanto, a movimentação da funcionária e do diretor administrativo carregando e descarregando caixas de arquivos internos da administração municipal, acontece nos dias 24 e 30 de novembro de 2021 – ou seja, período anterior à data oficial da contratação da empresa junto ao Poder Público, conforme registrado no Portal da Transparência.

O que diz a empresa?

Nossa reportagem entrou em contato com Fernanda Rossi, funcionária da empresa SF Rossi Segurança, que aparece nas imagens das câmeras de monitoramento. Ela enviou a seguinte nota:
“No momento, não tenho nada a declarar. Estou tomando as medidas legais cabíveis que o caso requer. Lamento muito este tipo de exposição e a existência de gente que pratica atos baixos como estes. Tenho a certeza de que a questão disporá de justiça, e a verdade - bem como os responsáveis por tal ação - serão demonstrados à sociedade. Sigo minha vida honesta e meu trabalho sério enquanto isto.”
Diretor Administrativo

O diretor de Administração Pública de Bariri, Marcelo Lenharo, deu a seguinte declaração: 
“No presente momento não estarei tecendo grandes comentários. O caso ocorrido – de exposição e de calúnia – é realmente lamentável e entristecedor. Entretanto, estou adotando as medidas legais cabíveis para o caso, requerendo aos órgãos competentes a averiguação do ocorrido e punição dos responsáveis pela utilização indevida do vídeo e afirmações caluniosa. Sempre tive uma atuação ilibada, e mantenho tal posição, porém acabei sendo vítima de acusações baixas, e de uma exposição desnecessária. Sempre estive aberto para responder qualquer questionamento acerca de minha atuação profissional, e ainda estou, nunca me neguei. Por fim, afirmo que não me deixarei abalar por isto, e seguirei com meu trabalho comprometido.”

Caso é ignorado no Legislativo

O vídeo das câmeras de segurança e monitoramento que mostram a ação do diretor administrativo e da funcionária terceirizada foi enviado à Câmara Municipal de Bariri, em resposta ao requerimento nº 18/2022, protocolado pelo vereador Francisco Leandro Gonzalez (Podemos) em 17 de fevereiro de 2022.
“Chegou ao meu conhecimento que pessoa estranha aos quadros da administração pública estaria ingressando com carro particular aos fundos do Paço Municipal para carregar e descarregar caixas de arquivos. Considerando que tal prática é inadequada no Setor Público, gerando suspeitas sobre os atos da administração, solicito que sejam encaminhadas para esta Casa gravações das imagens captadas por todas as câmeras da parte externa do paço municipal, especialmente as voltadas aos fundos da repartição, na data de 30/11/2021, no horário entre 15h30 e 16h”, requereu o nobre.
No entanto, após obter a resposta e receber as imagens solicitadas, Gonzalez não exibiu o vídeo e tão pouco voltou a comentar sobre o requerimento de sua autoria, deixando o assunto em aberto no Plenário. 
Questionados por nossa reportagem, outros vereadores da Casa de Leis baririense também preferiram não se manifestar a respeito. Não se sabe se o Legislativo tomará qualquer providência sobre o caso – ocorrido, literalmente, logo abaixo das dependências da Câmara Municipal.