Pontes históricas do Tietê
Parece um absurdo, mas é verdade: há um século, a travessia do Rio Tietê, para quem viajava entre Floresta (hoje Boraceia) e Bica de Pedra (atual Itapuí), era mais rápida do que nos dias de hoje. O motivo é simples: a viagem era feita através de uma ponte – hoje ela é feita por meio de uma balsa.
Aliás, quando eu e meus pais viajávamos de Fordinho de Floresta até Jaú e de lá seguíamos para Pederneiras, atravessávamos o Tietê duas vezes, utilizando duas pontes radicalmente diferentes. Uma delas era de ferro, com piso de madeira meio barulhento. Não tinha mureta lateral de proteção, o que causava uma terrível sensação de insegurança. Pondo a cabeça para fora do carro, quase dava para enxergar a água do rio batendo nos pilares de sustentação, lá embaixo da ponte. Era estreita e não tinha calçada, o que inviabilizava a passagem de pedestres. Mas o pior de tudo é que possuía apenas uma pista. Assim, antes de iniciar a travessia, era necessário verificar se não estava vindo um veículo em sentido contrário. Pensou que era preciso aguardar o semáforo ficar verde, caro leitor? Nada disso, não havia semáforo nenhum - era tudo no “olhômetro”, na base do “cada um para si”.
A outra ponte, embora construída muito antes, comparada a essa podia ser considerada moderníssima. Era feita de concreto, tinha pista dupla, mureta de proteção e calçada para pedestres. Uma era a “prima pobre” e a outra, a “prima rica”. Ou, fazendo uma paródia: Poços de Caldas era famosa pela fonte dos amores, enquanto o Tietê possuía a “ponte dos horrores”.
Agora, a pergunta que não quer calar: em que local ficava cada uma dessas pontes? Uma ligava um município a outro; a outra, um distrito a um município. Logo, o bom senso indica que... nem sempre é o bom senso que prevalece. A ponte dos sonhos era a que ligava o distrito de Floresta ao município de Bica de Pedra. Ela foi construída por iniciativa de um grupo de comerciantes e empresários. A ideia surgiu durante um churrasco na fazenda Bariri Grande, propriedade do senhor João Sajovic, e foi bem aceita por líderes da região. A empreitada foi cheia de problemas – inclusive financeiros –, mas a inauguração ocorreu em 1919. Para não atrapalhar a navegação pelo Rio Tietê, foi implodida em 1966, antes de ficar submersa em consequência da construção da barragem de Bariri.
Já a ponte Jaú-Pederneiras foi construída sem problemas de falta de verba. Sendo assim, por que não seguiu os padrões das pontes rodoviárias? Simplesmente porque era uma ponte ferroviária. Foi construída pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro para a passagem de trens. E trem não precisa de pista dupla nem de mureta de segurança, ora. Ao mudar o traçado da linha férrea, a Paulista construiu outra ponte e doou a antiga para o uso rodoviário. A adaptação foi a melhor possível, mas deixou a desejar.
Um detalhe: eu nunca ficava preocupado quando passava de trem pela ponte que, ao ser adaptada para o transporte rodoviário, ficou famigerada. Da mesma forma, não me assustava quando atravessava a ponte entre Floresta e Bica de Pedra nem mesmo quando estava de charrete!
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