O mata-burro
Em tempos recentes, quando uma rodovia é aberta no meio de uma floresta, são construídas passarelas para que os animais atravessem de um lado para o outro sem risco de atropelamento. Quando uma área de pastagem tem só um ponto de hidratação e é dividida por uma estrada, é comum a construção de bueiros, que permitem que os animais passem por baixo da pista para ir beber água. Nos exemplos citados, a intenção é interligar duas partes que foram separadas.
Mas e no caso inverso: quando a intenção é separar, por exemplo, duas propriedades rurais? Constrói-se uma cerca! E se a cerca cruzar com uma estrada? Instala-se uma porteira ou um mata-burro! Ou ambos, um ao lado do outro, para passagem de animais e de veículos motorizados, respectivamente. As porteiras são mais que conhecidas. Mata-burro é um tipo de ponte construída sobre uma valeta, com o piso formado por peças de madeira ou de metal, assentadas no sentido transversal da estrada, guardando espaço entre si. Esse espaço vazio existente entre cada peça faz com que os animais não tentem atravessar a tal ponte – afinal, poderia provocar fraturas em suas pernas. Jamais fiquei sabendo de um quadrúpede que tenha caído em um mata-burro. Quanto a um bípede, a história é diferente...
Um jovem estava passando as férias na fazenda do seu tio, até então solteirão convicto. A sua alegria, que já era grande por estar num local tão aprazível, ficou ainda maior quando sua tia, também solteira, chegou da cidade trazendo uma amiga, bem mais jovem que ela. A moça era bonita e logo despertou o interesse do moço, mais novo que ela. Saboreavam as deliciosas frutas colhidas no pomar. Ouviam Gino Bechi cantando “La Strada Del Bosco” e Georges Boulanger interpretando “No Mar Negro”. Quando Linda Batista estava cantando “Vingança” e sua voz se “masculinizava”, não era qualquer tipo de vingança - era apenas a corda da velha vitrola que estava chegando ao fim. Algumas voltas na manivela resolviam o problema.
Caminhadas pela estrada, ao pôr do sol, também eram bem interessantes, até o dia em que resolveram aumentar o percurso. É que no meio do caminho havia um mata-burro, aquele tipo com espaço no centro e madeiras apenas no local para as rodas dos veículos passarem. Para não se distanciar da moça, o jovem pisou na ponta de um desses caibros, que estava despregado e se soltou. O moço foi parar no fundo da valeta. Não precisou nem desejar que se abrisse um buraco no chão para se esconder. Ele já estava dentro de um, literalmente.
Nota 1 - O pretenso namoro também foi para o buraco!
Nota 2 - Eu sei quem era o jovem, mas não me acuso, pois não sou dedo-duro.
Nota 3 - Cair num mata-burro não é exclusividade de jovens inexperientes. A Wikipedia dá a seguinte definição: “mata-burro é um dispositivo que impede a fuga do gado em propriedades rurais, mesmo quando a porteira está aberta”. Ora, a porteira e o mata-burro sempre ficam em pontos diferentes do terreno, modos que, se a porteira estiver aberta, os bichos poderão simplesmente sair por ela, e o mata-burro não vai impedir.
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