“Acessando a outra pessoa”

“Acessando a outra pessoa”

Tempos atrás acompanhando uma conferência de Lúcio Packter, na qual ele expunha de forma introdutória os possíveis acessos à Estrutura do Pensamento, recordando-me da mesma, motivadamente propus-me a escrever este artigo.
Pois bem, quando uma pessoa se aproxima de outra, que meio ou veículo é utilizado para entrar em interseção, ou seja, em comunicação com ela?
Um exemplo: uma pessoa mora em uma cidade e deseja ir até outra – consideremos que haja várias opções de estradas. Dependendo da opção feita, o contato se daria com composições, provavelmente bem diferentes, por exemplo: relevo; vegetação; paisagem; infraestrutura das vias etc. 
Estas composições apresentadas e tantas outras poderiam como que acionar gatilhos internos em “áreas” existenciais diversas como, por exemplo, a vegetação. Esta poderia ativar um período da infância da pessoa. Analogamente falando, um rio poderia propiciar um processo de reminiscência a uma pescaria em que participou... É possível notar que ainda que não esteja utilizando um sistema de linguagem padrão – a fala – há por outros signos, uma comunicação. É como uma criança que desenvolve o conhecimento de seu espaço sem ter ainda o domínio da linguagem, pois pode estabelecer uma relação de signos em que estes venham possibilitar uma interpretação. Claro que, também a linguagem (signo de comunicação: a fala) para algumas pessoas é determinante para que se possa conhecer e estabelecer relação nas composições de tantos termos agendados.
Assim sendo, se uma pessoa tem como Semiose a fala, outras formas poderão significar pouco e, neste caso, o mundo ao seu redor, enquanto força para acessá-lo, ter um peso subjetivo menor. Todavia, sendo determinante nela a fala, como Semiose, alguns cuidados deverão ser tomados.
Se uma pessoa ao se aproximar de outra dizendo gostar muito do verão, pois o sol é vida ao mesclar-se com pancadas de chuvas e, em virtude disso, ficar prazeroso respirar o ar umedecido, dependendo da maneira que o interlocutor – por exemplo, o filósofo clínico no consultório – perguntar de onde vem essa sensação nela, poderá ela responder que não sabe, ou buscar em suas memórias e lá encontrar elementos que justifiquem tal gosto, acionando na pessoa dados proprioceptivos, sensíveis e falar a partir do corpo, do contato, do acesso sensível. Se for solicitado para que diga qual a importância, poderá construir outros movimentos conceituais. Ainda, poderá querer afirmar que aquilo gera paz e alegria, ou seja, ativar as emoções. Se ao interrogá-la do porquê é que ela gosta do sol, poderá mirar o discurso por movimentos estruturais lógicos justificando os dados numa perspectiva de causa/efeito etc.
Dessa forma, um filósofo clínico ao iniciar os trabalhos com o partilhante deve considerar o Assunto Imediato e procurar ver se há proximidade com o Assunto Último; considerar os Exames Categoriais; bem como a Estrutura de Pensamento; e os possíveis Submodos formais, entre outras coisas. Lembrando que: tudo isso via Historicidade, considerando os Tópicos e quais destes são determinantes, conflitantes, se estão enfraquecidos e mais uma gama de outras questões. Com isso, poderá ter acesso a via semiótica, ou seja, saber qual seria a melhor maneira de utilizar a linguagem com ela. Desse modo, se não for possível o acesso a via semiótica da outra pessoa, poderá ocorrer da pessoa ao iniciar uma interseção – conversação – com outra, tal interseção iniciada, por exemplo, com harmoniosa expressão, significar para a outra uma tremenda ofensa, pois, a composição existencial dela não faz boa leitura da “harmoniosa expressão”. Do ponto de vista existencial o que uma palavra ou frase carrega como signo para uma pessoa, poderá significar algo muito diferente para a outra. É claro que não será sempre desta maneira, contudo muitos bloqueios, conflitos, como também abertura, acolhimento, dependerá do como a pessoa está composta na Estrutura de Pensamento em suas vivências. Algumas expressões que são usadas no dia a dia, poderão, para algumas pessoas nada dizerem, no entanto para outras serem promotoras de grandes danos ou benefícios, existencialmente falando. 
No consultório isso é bastante sério. Portanto, para que seja diferenciada uma coisa de outras coisas, a Historicidade, com todo o suporte é que será o primeiro veículo semiótico para o procedimento do filósofo clínico.