Mães denunciam situação insalubre da Creche Marina Budin após chuvas: goteiras, infiltração, sala de aula desativada e bebês adoecendo por exposição ao mofo, diz relato

Mães denunciam situação insalubre da Creche Marina Budin após chuvas: goteiras, infiltração, sala de aula desativada e bebês adoecendo por exposição ao mofo, diz relato

“Venho aqui através desse vídeo, deixar a minha indignação por essa lamentável situação! Como trabalhar em paz? Se o meu filho está na Creche é porque eu necessito! Nós, mães, cuidamos tão bem dos nossos filhos em casa para serem tratados assim. Por necessidade, temos que deixá-los. Inadmissível, senhor prefeito! Como manter uma criança saudável? A creche está caindo, chove dentro da sala do meu filho, a sala fede mofo. Vou trabalhar todo dia angustiada. Disseram que iriam tomar providências e nada! Que todas as mães que amam seus filhos não se calem, porque isso é uma situação de maus-tratos contra as crianças! Quero que tomem providências urgente. Eu preciso trabalhar, meu psicológico está abalado, isso é uma vergonha! É uma tristeza nossa cidade chegar a essa situação.” Mãe de aluno da Creche Marina Budin via Facebook.

O relato acima mostra o desespero da mãe de uma criança de apenas um ano e sete meses, que trabalha em tempo integral e deixa o filho em uma creche da Rede Municipal de Ensino Infantil de Bariri: a Creche Marina Budin, localizada Rua José Manoel de Goy. A unidade escolar do bairro Domingos Aquilante atende, aproximadamente, 150 alunos por ano, em condições consideradas insalubres.
Após as últimas chuvas que atingiram o município, a estrutura da creche Marina Budin reagiu com infiltrações e até mesmo alagamento em uma das salas de aula. Com isso, o relato de crianças doentes aumenta e as mães clamam por soluções imediatas do Poder Público.

“Desde o começo do ano, eu percebi que meu filho começou a ficar doente, depois que ele mudou para uma sala. Ele entrou na creche com nove meses, mas não ficava doente na época. Foi só mudar para a sala que ele está agora que começou. Comentei, com a tia da creche, que ele estava sempre com tosse e nariz escorrendo. Ela falou sobre a situação da creche, que a sala não tem ventilação. Só existe uma janela que dá para um corredor estreito. As paredes estão ruins. Fui em uma reunião e vi de perto a situação das paredes, cheias de mofo. Teriam que fazer outra janela, pois tem ventiladores mas não há ventilação de ar puro”, conta a mãe em entrevista à nossa reportagem.


Terça-feira passada (05), ela relata que, ao deixar o filho na unidade, viu que a criança ficaria em uma sala diferente. “Perguntei o que aconteceu com a sala e disseram que estava cheia de goteiras. Entrei lá, filmei e postei no Facebook. Me falaram que já foi pedido para o prefeito, vereadores, mas ninguém toma atitude. São todas crianças de um a dois anos. A sala fedendo mofo, dá pra sentir só passando pela janela. Estão todas doentes e nós temos que trabalhar, não tem o que fazer”, completa.
O vídeo filmado e publicado pela mãe do bebê mostra o piso da sala de aula semialagado. No teto, por uma lâmpada fluorescente, gotas de água caem direto para o chão. O som é semelhante a um chuveiro ligado.
Ainda segundo a mãe, após a sala de aula ser desativada pelas goteiras, os 15 bebês que eram atendidas no cômodo foram realocadas para outra sala, também com 15 crianças. Com o acúmulo de turmas, uma única sala está abrigando 30 crianças de uma vez.

“Teve que juntar as crianças. Imagina 30 crianças pequenas em uma sala só... vão passar um pano, secar a sala e colocar as crianças de volta, mesmo fedendo mofo. É uma creche boa, não tem reclamação, as tias são muito boas. Dá dó uma situação dessas”, finaliza a mãe.

 

“Não tem suporte para cuidadoras e crianças”, diz funcionária 

Uma funcionária da Creche Marina Budin, que preferiu manter seu nome sob sigilo com medo se sofrer represálias, também enviou um relato ao Noticiantes. 

“Triste situação da creche, não foi só uma sala, isso vem acontecendo há anos. Os bebês sempre doentes devido ao mofo e umidade, um total descaso. Infelizmente, a creche Marina está abandonada. A diretora da educação e os superiores sabem e nada fazem. O negócio deles é só colocar as crianças sem dar o suporte mínimo a nós, cuidadoras, e principalmente às crianças. E verba teve, nós fomos inclusive na Câmara Municipal para cobrar ”, disse a cuidadora.

Iniciada em 2021, a obra de reforma da creche Marina Budin não foi concluída até agora. 

 

Gestão Abelardo-Foloni recebeu verba de R$ 300 mil para reforma da creche


Em maio de 2021, a Prefeitura Municipal de Bariri comemorou o recebimento de uma verba no valor de R$ 300 mil, através de emenda parlamentar do deputado estadual Rafael Zimbaldi, recurso destinado para reforma e ampliação da creche que mais recebe crianças em Bariri. No entanto, a unidade sofre com problemas estruturais há três anos.
Em 2023, uma falha no projeto de engenharia paralisou as obras por mais uma vez. O engenheiro responsável não previu que algumas paredes sustentam o teto e, portanto, não poderiam ser derrubadas para a ampliação projetada. Caso o erro não tivesse sido percebido pelos pedreiros, a estrutura toda da creche poderia vir abaixo com a demolição das paredes de sustentação. Depois de um tempo, os trabalhos foram parcialmente retomados, mas a obra segue inacabada. 

 

Ministério Público recebeu denúncia em 2022

Em 21 de outubro de 2022, o Ministério Público do Estado de São Paulo (Comarca de Bariri), recebeu denúncia por conta do atraso nas obras da creche Marina Budin. A representação foi protocolada na Promotoria de Infância e Juventude.
Além do atraso nas obras, a denúncia também citou que as crianças estavam passando por tábuas e outros materiais de construção para chegarem até as salas de aula. 
Em junho do ano passado, a Promotoria enviou à nossa reportagem a seguinte nota: 

“Foi instaurada Notícia de Fato na 1ª Promotoria de Justiça de Bariri para apurar falta de condições de segurança devido a reforma da Creche Marina Budin, sem o necessário isolamento no canteiro de obras; A Prefeitura Municipal de Bariri informou ter adotado as providências necessárias para o isolamento pendente; A Diretoria de Obras enviou relatório acerca da reforma da referida creche, informando que as obras têm o andamento limitado, pois é necessário terminar uma sala por vez para transferir as crianças de local para seguir com o andamento das obras. Ademais, informaram que já foi concluída a reforma de uma das salas, está sendo realizada a cobertura de todo o pátio e já se iniciou a ampliação das segunda e terceira salas”.

 

O que diz a Diretoria de Educação?

Entramos em contato com a Prefeitura Municipal de Bariri, através da Diretoria de Educação, pasta comandada por Silmara Cristina Cocia Beltrami. Leia abaixo o pronunciamento oficial do setor sobre a creche Marina Budin:

“A Diretoria de Educação e Cultura de Bariri informa que realizou a verificação da unidade escolar no dia do ocorrido e fez as devidas orientações de remanejamentos de alunos para outros ambientes da unidade escolar, de forma a garantir o correto atendimento pedagógico e a segurança dos alunos. No ato da visita não foi possível atestar a origem das infiltrações ou o período em que acometem o prédio da unidade escolar, em razão do grande período de estiagem pelo qual passamos. Quanto às providências necessárias para sanar o problema, informamos que a Prefeitura Municipal foi acionada por meio de processo administrativo interno, onde requereu-se a verificação das telhas, retirada de folhas secas e verificação das emendas das calhas de escoamento.”

 

Myrella Soares acionou MP novamente em março e comparou creche a uma prisão

Na sessão ordinária de 04 de março, um grupo de mães de alunos da Creche Marina Budin compareceu ao plenário após pedirem ajuda à vereadora Myrella Soares (União Brasil), que visitou o local e se assustou com o cenário. Na oportunidade, a reclamação era que a unidade estava sem iluminação, sem ventilação, sem piso frio e sem produtos de higiene e limpeza: as servidoras estavam higienizando o local apenas com água, após solicitações de compras de produtos de limpeza serem ignoradas pela prefeitura. 

“É uma situação desumana para as crianças e para as cuidadoras. O local onde as crianças estão fazendo suas refeições mais parece uma prisão: um corredor totalmente fechado, sem janela, sem iluminação, sem ventilador. O telhado foi feito com um material parecido com alumínio que é extremamente quente. As crianças que estão ali são filhos de trabalhadores dos altos da cidade. A realidade é que são tratados dessa forma porque são pobres. Se fosse uma parte nobre da cidade, tenho certeza que a creche não estaria dessa forma. É um completo abandono pelo Poder Público. O que está acontecendo com essas crianças é um abuso”, concluiu a vereadora à época.


Além do requerimento pedindo explicações à prefeitura, Myrella também protocolou representação no Ministério Público a pedido das mães de alunos.