A JOVEM PROFESSORINHA

A JOVEM PROFESSORINHA

        Professorinha! Assim era chamada carinhosamente a jovem formada na Escola Normal, que tinha como primeiro trabalho lecionar nas Escolas Rurais. Estrada de terra, perfume de mato, charrete no ritmo do trotear do cavalo, sombrinha colorida. Quando apeava da charrete de manhãzinha, ainda com o orvalho matinal a brilhar sobre a grama verde da fazenda, os alunos já aguardavam a mocinha que abraçava confiante os livros sobre o peito e adentrava no prédio rústico, chão de tijolos, sem forro, janelas imensas deixavam o sol entrar na sala onde apenas um quadro negro, o apagador, a caixinha de giz e quatro fileiras de carteiras formavam o curso primário: cada fileira uma série e cada carteira duas crianças. No telhado tosco, as andorinhas faziam seus ninhos e pela porta da frente galinhas d’angola entravam e saíam, cantarolando: tô fraca... tô fraca...
    A menina de lindas tranças oferecia à mestra um buquê de sempre-vivas e girassóis do campo e o menino alegre debruçava sobre a mesa exuberante cesta de maracujás amarelinhos. A professorinha dizia bom dia, colocava as flores no vaso, enchia a moringa de água fresquinha tirada do poço e iniciava a aula, com os alunos entoando com emoção a inesquecível Oração à Pátria: 
“Brasil! Nesta casa de educação e ensino, constantemente pensamos em ti. Em teu passado de glórias, em teu presente de realizações salutares, em teu glorioso porvir, possas tu, Pátria amada, te orgulhares um dia dos filhos teus que nesta hora te saúdam.”
A cartilha, o caderno, a régua de madeira, o lápis preto e a borracha: tudo o que precisavam para aprender. E, entre o cantar ritmado da tabuada e o recitar da pata-nada, a hora do recreio chegava e as crianças desembrulhavam o alvo guardanapo a exibir grandes fatias de pão caseiro recheadas de queijo fresco e goiabada. A professorinha partia alguns maracujás, misturava a polpa dourada com a água da moringa, adoçava com açúcar cristal e enchia as canequinhas luzidias com o suco natural. No imenso gramado, alguns brincavam de pega-pega, ciranda-cirandinha, outros se deliciavam no vai e vem do balanço pendurado nos galhos fortes do jatobazeiro. 
Meio-dia! Sol a pino! A charrete da fazenda aguardava a professorinha que feliz voltava para casa na cidade. As crianças, com o embornalzinho de brim a tiracolo, a brincar pela trilha ladeada de flor-de-São João, acenavam na curva do caminho. Era nessa escola simples, onde a professorinha era tão importante e respeitada, que milhares de cidadãos aprenderam a ler e escrever. Não tinham merenda do governo, o uniforme era a mãe que costurava, a vovó fazia o pão, o sol secava as roupas, a família comprava o material escolar necessário e a professorinha ensinava, além da cartilha e tabuadas, os valores que seriam a base da existência do cidadão digno e honesto. Não existiam problemas sociais, os meninos ajudavam o pai na roça, as meninas brincavam de casinha e todos viviam livremente pelos campos e varandas. A simplicidade nunca deveria fenecer, pois a felicidade nasce da ordem e da disciplina no deambular da vida. É na beleza das coisas simples que nasce o que fica para sempre! E o que fica para sempre é o que nosso coração, carinhosamente, denomina de saudade...