“Sinalizadores”

“Sinalizadores”

Não é de se estranhar, no consultório e, não somente nele, pessoas indagarem sobre suas vidas a partir dos códigos e sinais que foram compondo o curso de suas histórias e da própria história humana como um todo. 
Muitos destes sinais são clássicos e de fácil compreensão quanto ao que comunicam. Contudo, nem sempre é assim, pois há sinais bem mais complexos e exigem cuidados para não entrar conceitualmente em equivocidades. O fato é que existe uma grande variedade de sinais. Um exemplo bem comum nos dias atuais e que, em alguns casos já aparecem interpretações equivocadas, são os Emojis no WhatsApp etc.
Para facilitar: se o céu está com nuvens escuras, isso poderá sinalizar, que irá chover; se uma planta que está num vaso e suas folhas estiverem murchas, poderá sinalizar possivelmente falta d’água; quando as folhas das árvores caem, é provável que a estação seja o outono e o inverno se aproxima; se a pessoa ri, pode sinalizar alegria; se está chorando, pode ser sinal de tristeza. Nesse mesmo sentido, a mãe, ao aproximar-se de seu filho, tocar em seu corpo e perceber que está demasiadamente quente, é uma sinalização que poderá apontar para a febre, desta forma, alguma infecção poderá estar surgindo. Quando a pessoa está dirigindo e ao chegar a uma esquina e a placa de trânsito sinalizar em sentido único para a esquerda, significa que não deve ir para a direita. Portanto, nossa forma de viver está pautada por sinalizações. Assim, códigos diversos estão por toda parte e estes em alguns casos poderão ser determinantes em algumas pessoas e em outras nada dizer.
Pois bem, como saber se um indicador, sinalizador tem a ver, se é determinante, necessário ou desnecessário, de grande significado ou não para uma pessoa?
No consultório, quando a pessoa conta sobre suas vivências – Historicidade –, muitas vezes, aparecem narrativas sobre as indicações diante de eventos ocorridos a apontar direções. Por exemplo: um sinal apontava para X e ela foi em direção ao sinal, e deu certo; em outra ocasião sinalizava para Y e considerou-o, e deu errado; outro sinalizador que indicava para Z e não considerou o Z, mas o W e deu certo, segundo sua EP. Como saber quando considerar um sinal e sua pertinência?  Dentre tantos acontecimentos na vida de uma pessoa e em meio às “idas e vindas”, como perceber, identificar uma sinalização? Dependendo de como está constituída a EP de uma pessoa, é que se dará o encaminhamento, e este é bem diverso, pois não há exatidão ou universalização nesse momento. Os sinais precisam estar de certa forma contextualizados, ou seja, uma pessoa está em um barco em alto mar e de repente uma indicação de que logo à frente há um lindo pomar com deliciosas árvores frutíferas. O que fazer? É preciso verificar a geografia e o sistema de sinalização do barco, e se assim ver que não consta absolutamente nada a respeito, deve-se desconsiderar o sinal. Porém, há pessoas que só se convencerão de que tal sinal nada tinha a ver quando passar o espaço-tempo percorrido em que indicava o símbolo. A questão é que nesse meio tempo, poderá a pessoa ter se preparado, organizado, mudado o plano em vista da sinalização. E mais, há casos em que a coisa é de grande monta e a pessoa no processo não se deu conta de que não havia nenhuma coerência no enunciado.
Em vários campos da vida de uma pessoa isso pode se dar, por exemplo, no campo das buscas relacionadas: às emoções; aos investimentos financeiros; aos jogos; ao fisiológico; às falas dirigidas pelas pessoas; ao religioso; aos estudos etc. Estes indicadores nem sempre são pertinentes e a pessoa poderá distrair-se com eles e perder a direção existencial mais coerente para sua Estrutura de Pensamento, traindo-se e só lá na frente perceber que o que o conduzia, longe estava de suas pertinências existenciais. Neste sentido, não é pouco comum pessoas passarem a vida correndo atrás de sinais e esquecerem-se até mesmo de viver o que lhe seria mais próprio. Sim que, para algumas pessoas, a vida consiste em correr atrás de sinalizadores e se assim for para elas e se transita bem tal modo na Estrutura de Pensamento delas, então tudo bem!  No entanto, há aquelas que assim o fazem e pelo fato de tais sinalizadores nada terem a ver com elas, poderá em alguns casos, por consequência aumentar as complexidades, densificando a existência.
Será no consultório, pelo exame minucioso da Historicidade, com todo o “ferramental” indicado na Filosofia Clínica, é que o filósofo clínico procurará avaliar a ligação e a relevância que determinados símbolos têm e se há correspondência ao que o sinal está a indicar. Sem tal procedimento, aprioristicamente, não há como indicar a pertinência. 
Poder-se-ia destacar aqui muitas outras analogias, contudo, ficaremos com estes indicativos.
*É de grande importância considerar, como em todas as edições anteriores, que os temas são refletidos a partir da Filosofia Clínica!