Ricardo Prearo consegue apoio de vereadores de três grupos políticos adversários e denúncia de suposta agressão contra idoso é arquivada sob forte tensão

Ricardo Prearo consegue apoio de vereadores de três grupos políticos adversários e denúncia de suposta agressão contra idoso é arquivada sob forte tensão

Por Thaisa Moraes e Lucas Araujo

Desde o início deste mandato, em janeiro de 2021, um comentário recorrente sobre atual legislatura da Câmara Municipal de Bariri destaca a lisura, o trabalho técnico e o respeito mútuo entre os vereadores de grupos políticos opostos. A postura íntegra sustentada pelo Legislativo baririense até então, foi quebrada na noite desta segunda-feira (19), diante da audiência de mais de 500 internautas que acompanharam ao vivo a transmissão da sessão ordinária pelo Facebook e YouTube do Noticiantes.  
O pleito que votou a denúncia assinada pelo aposentado Maurício Rodrigues, de 67 anos, que acusa o vereador Ricardo Prearo (PSD) de agressão física, além de pedir a cassação do mandato por quebra de decoro, foi marcado por um clima extremamente tenso, com direito a troca de ofensas pessoais entre os parlamentares, discussão nos bastidores, gritaria e xingamentos de baixo calão.  
Acompanhe a seguir a cronologia dos principais acontecimentos da sessão:

 

Discussão nos bastidores

Antes do início dos trabalhos legislativos, quando sete dos nove vereadores já ocupavam seus lugares, vozes alteradas ecoaram pelo plenário, que permaneceu em completo silêncio enquanto uma discussão entre Ricardo Prearo e Leandro Gonzalez (Avante) se desenrolava na secretaria da câmara. 
Após alguns logos minutos, os dois vereadores finalmente tomaram seus assentos e a sessão começou, mas o clima pesado estava para piorar ainda mais.

 

Posse do Suplente

O presidente da Casa de Leis, Airton Pegoraro (Avante) começou o rito ordinário realizando a posse do suplente de Ricardo Prearo nas Eleições 2020: Gilson de Souza Carvalho (PSB). Conforme estabeleceu a Procuradoria Jurídica da Câmara, o vereador denunciado fica impedido de votar qualquer denúncia na qual ele é o alvo, dessa forma, o primeiro suplente deve ser convocado. 
Há quatro anos, Prearo e Gilson eram filiados ao PDT e pertenciam ao mesmo grupo político. Atualmente, estão em lados opostos: Prearo é candidato a vereador pela chapa encabeçada por Neto Leoni e Juliana Foloni, enquanto Gilson pertence ao grupo de Airton Pegoraro e Paulo Kezo. A decisão da convocação do suplente, no entanto, foi repudiada por Prearo.

“Essa decisão de chamar o suplente não existe respaldo legal. Não está prevista no regimento interno nem no decreto-lei que rege questões de Comissão Processante. É uma atitude autoritária, injusta, para atingir minha pessoa e minha imagem perante a sociedade. Vai colocar um suplente que tem interesse diretamente para votar um pedido de cassação? É um absurdo! Por trás, tem um plano de fundo; um interesse político de um grupo derrotado que quer ganhar o poder a qualquer custo. O senhor está equivocado, senhor presidente. Espero que o senhor volte atrás dessa decisão. Eu vou trazer para essa Casa questões pessoais de todos os vereadores que abrirem esse precedente”, explanou Ricardo Prearo.  


Airton Pegoraro sustentou uma postura cordial e manteve o mesmo tom de voz moderado diante desse primeiro ataque e no decorrer de toda a sessão. “Quando entrou a denúncia, como fazemos sempre, submeti para análise do nosso Procurador Jurídico, um profissional concursado, professor universitário e estudioso de Direito Eleitoral que deu o parecer. Como eu sou veterinário e não advogado, eu acolho o parecer da pessoa responsável por isso: um procurador que não foi nenhum vereador que colocou aqui, que passou num concurso público e não deve favores a ninguém. Até hoje não tive motivos para duvidar da competência dele”, disse Pegoraro.
Na sequência, ele explicou que o Procurador Legislativo, dr. Pedro Carinhato, entrou em contato com o Cartório Eleitoral de Bariri solicitando a lista de suplentes de Ricardo Prearo, documento que aponta Gilson de Souza Carvalho, que alcançou 451 votos nas Eleições 2020, como o primeiro suplente do PDT. Gilson apresentou toda a documentação exigida pela Câmara antes da sessão, se consolidando apto para assumir a suplência.
Após leitura do termo de posse, Gilson tomou lugar entre os vereadores Júlio Cesar Devides (PDT) e Paulo Egídio Grigolin (MDB). Ao contrário dos outros vereadores, Gilson foi impedido de usar a palavra na sessão, sendo orientado a apenas manifestar seu voto no momento pertinente. 

 

Prearo faz acusações contra Leandro e Myrella


A denúncia de Maurício Rodrigues contra Ricardo Prearo foi lida na íntegra, assim como o parecer do Procurador Jurídico da Câmara, que se manifestou favorável ao fundamento da representação. Aberta a deliberação sobre a representação, Ricardo Prearo foi o primeiro a fazer o uso da palavra.

“As pessoas têm medo de ir para as urnas com o Ricardo Prearo e estão tentando puxar o meu tapete. É de se lamentar que trouxeram para dentro dessa casa uma questão pessoal de uma pessoa que me persegue há anos. Naquela noite, ele veio tirar satisfações comigo. Não vou permitir jamais que alguém fale da minha história e do meu nome de vida. A população merece outra coisa desta Casa, não discutir desavenças de boteco”, começou Prearo.


Na sequência, ele fez acusações diretas a Leandro Gonzalez e Myrella Soares (União Brasil). Prearo acusou Gonzalez de agressão doméstica – informação que foi desmentida pelo próprio Leandro na sessão e também por familiares do vereador (esposa e filha), que se manifestaram nas redes sociais. Prearo ainda acusou Myrella de ser “encostada”, criticando a atuação da nobre no funcionalismo público, dizendo para a vereadora “lavar a boca com soda”. 
O parlamentar também ressaltou que não precisa do subsídio de vereador, que é irrelevante para seu orçamento financeiro, visto que ele tem outras ocupações; que optou por entrar no Legislativo para “ajudar a população”; e que Myrella está como vereadora “por causa do salário”, dizendo que a parlamentar é “morta de fome”. 

 

Opositores dão voto de confiança e denúncia acaba arquivada

Votaram favoráveis ao recebimento da denúncia e abertura de Comissão Processante (CP) os vereadores Airton Pegoraro (Avante), Myrella Soares (União Brasil), Leandro Gonzalez (Avante) e o suplente Gilson de Souza Carvalho. 
Por outro lado, Edcarlos Santos (PP), Benedito Antônio Franchini (PTB), Paulo Egídio Grigolin (MDB), Júlio César Devides (PDT) e Luis Renato Proti “Escadinha” (MDB), se manifestaram pelo arquivamento da denúncia. Com a votação final em 5 a 4, a representação foi arquivada. 
Com exceção de Ditinho, que encerrará sua vida política neste mandato, os outros quatro vereadores que se manifestaram a favor de Ricardo Prearo são de grupos políticos “rivais” ao do vereador denunciado. O voto de confiança dos opositores Edcarlos, Grigolin, Escadinha e Julinho, mostra a forte articulação e influência política de Ricardo Prearo nos bastidores. 

 

O que disseram os vereadores favoráveis à abertura de CP?

Leandro Gonzalez, Myrella Soares e Airton Pegoraro fizeram o uso da palavra e justificaram seus votos. O suplente Gilson de Souza Carvalho, impedido de falar no plenário, enviou uma nota à nossa reportagem. Confira abaixo o posicionamento dos parlamentares: 

 

“O denunciado é o Ricardo Prearo e quem deve explicações é ele. Nem eu nem a Myrella, que ele está atacando, devemos explicações. Isso mostra o quanto a pessoa é covarde. Vem com uma representação dizendo que eu agredi minha ex-mulher, mas é tão covarde que, na época, ele poderia ter feito uma representação contra mim. Houve essa situação de denúncia arquitetada pelo vereador Ricardo Prearo, que era o advogado, mas ele esqueceu de falar de maus-tratos contra menor de idade; advogou para prejudicar uma criança. Fiz o que foi preciso para resguardar minha filha que, naquele momento, tinha 10 anos. Isso é uma inverdade; ele arquitetou isso enquanto advogado para me prejudicar. Agrediu um idoso e agora que pagar de vítima para tirar o foco. Eu não tenho medo das suas ameaças. Na vida pública, o dinheiro infelizmente fala mais alto. Ele agrediu um idoso, quer sair impune e pagar de bom moço. Ele comentou com todos os vereadores que realmente agrediu e agora isso. Então, votarei pela abertura da comissão.” – Leandro Gonzalez (Avante) 

 

“O vereador Ricardo disse que ninguém chuta cachorro morto; mas chutar idoso pode, vereador? O senhor quer cobrar tanto da questão da mulher para atacar o Leandro, mas não teve um pingo de respeito comigo ao falar que eu deveria lavar minha boca com soda e que eu sou morta de fome. Sou uma trabalhadora; uma servidora pública municipal concursada. Eu ganho pouco sim, mas sou uma trabalhadora. O senhor está acostumado a ser patrão, catar o chicote e meter a mão nos outros, mas servidor público não é escravo de ninguém. Eu jamais vou aceitar o desrespeito de uma pessoa. O senhor jamais, enquanto um homem de posses, branco e que tem seus privilégios, poderia dizer para eu lavar minha boca com soda e que sou uma morta de fome. Eu nunca me envolvi em esquema nenhum, com prefeito nenhum para nada. Não sei porque o senhor ficou tão afetadinho atacando todo mundo. Nós não estamos aqui hoje para cassar, mas para acolher ou não a denúncia. Eu nem tinha uma opinião formada, mas diante de tanto desrespeito e agressão gratuita que aconteceu aqui nesta noite, isso demonstra seu despreparo e desequilíbrio. Se são o senhor está assim, imagina dentro de um boteco. Temos que prezar pela agressão contra um idoso de 68 anos. Se a câmara começar a normalizar agressão contra idoso, onde vamos parar? Tenho uma base muito simples, pobre, mas muito honesta e trabalhadora. Vou ser favorável ao acolhimento da denúncia e me senti muito desrespeitada enquanto mulher e enquanto vereadora.” – Myrella Soares (União Brasil)

 

Lamento que essa sessão tenha transcorrido dessa forma. Era para acontecer o seguinte: houve uma denúncia; essa denúncia seria acatada ou não; análise de fundamento e julgamento posterior. Não era para ter ocorrido essa lavação de roupa suja que até hoje, essa câmara presou pela ética e pela boa conduta. Eu não procurei nada; não briguei em bar; eu não fiz nada; simplesmente cumpri o meu papel: encaminhei para o jurídico da câmara. Cada um joga com a sua consciência. Não fiz juízo de valor nenhum. Infelizmente, o que ocorreu aqui hoje foi um show de horrores. Se um vereador tem que ser dar ao respeito, hoje faltou muito. O boletim de ocorrência é uma prova. Quem vai analisar se é suficiente, cabível ou não, é esta Casa. Não precisava um atacar o outro. O Ricardo Prearo não é candidato a prefeito e não é meu concorrente direto. Quem indicou o suplente não foi o Airton Pegoraro, mas a Justiça Eleitoral. Infelizmente o que ocorreu hoje aqui vai deixar uma herança muito triste.” – Airton Pegoraro (Avante)

 

“Fui convocado pela Câmara Municipal segunda-feira, para entregar os documentos e tomar posse, exclusivamente para a votação do caso de quebra de decoro contra o vereador Ricardo Prearo. Uma situação muito chata para cidade, chata para os vereadores. Minha convocação não foi a pedido do Presidente da Câmara; foi o próprio Jurídico que entendeu que caberia ao suplente assumir o lugar para aquela votação. Passando para a votação, votei favorável, pois no meu entendimento, houve a agressão. O próprio Ricardo colocou para todo mundo que fez o ato em si, deixou bem claro que agiu contra o idoso e isso é contra meus princípios. Não posso esquecer que, no passado, eu também já fui agredido e não é uma situação legal, principalmente publicamente. Na época, os vereadores não votaram favorável à minha pessoa. Então, votei favorável por ser verdade o fato que ele atacou o idoso; isso não poderia acontecer em qualquer lugar. Se ele iria ser cassado ou não, isso é outra história. Teve mais vereadores que afirmaram que iriam votar em favor do idoso; que sabem o que aconteceu; que tinham consciência que houve o ato e que houve a quebra do decoro parlamentar. O fato é que houve a agressão contra o idoso e é muito decepcionante para nossa cidade ter pessoas descontroladas no Legislativo. É muito chato para o vereador, principalmente um candidato a prefeito, que, antes da sessão, declarou voto favorável ao idoso e não cumpriu com a palavra. Fica aqui minha indignação. O fato ocorrido naquela noite teria que ser investigado pela câmara e, por isso votei, favorável e não me arrependo. Sei que o idoso está falando a verdade, pois o próprio Ricardo, anteriormente, assumiu que cometeu o ato contra o idoso”. – Gilson de Souza Carvalho (Suplente)

 

O que disseram os vereadores contrários à denúncia de agressão a idoso?

Paulo Egídio Grigolin, Edcarlos Santos e Benedito Antonio Franchini também justificaram seus posicionamentos pelo arquivamento da representação. Os vereadores Julinho Devides e Escadinha não se manifestaram.  

 

“Vemos com tristeza essas coisas que estão acontecendo. O Poder Legislativo serve para legislar, fiscalizar o Executivo e eventualmente julgar. Nossa Câmara está se tornando um tribunal de exceção. Já vimos tentativas anteriores de cassação ao prefeito, com assuntos menores, quando eu dei o famoso ‘chupa’, mas parece que ninguém aprendeu. Entraram com outra cassação e, por mais que eu tentasse falar com meus pares de que era uma decisão precipitada, não adiantou. Vingança política. Não é para isso que essa Casa serve. Um dos princípios, além da moralidade, é da impessoalidade no setor público. A Câmara tem que ser impessoal. Sobre esse suposto crime, o Boletim de Ocorrência é uma peça unilateral com uma única versão. Isso não cabe a nós; cabe à polícia Civil analisar os fatos e encaminhar ao Ministério Público. Não vai ficar bem fazer essa cassação só com viés político.” – Paulo Egídio Grigolin (MDB)

 

“Estamos aqui para fazer justiça a um idoso, ou para uma caça às bruxas? Precisamos separar as coisas. No momento do acolhimento na denúncia do prefeito que foi cassado nesta casa, tínhamos um inquérito do Gaeco que apontava o prefeito como parte de uma quadrilha; não foi um boletim de ocorrência, mas uma representação apresentada pelo Gaeco. O decreto lei 201-67, diz que, quando é feita a denúncia, deve-se apresentar duas coisas importantes para a câmara analisar: exposição de fatos (ou seja, uma narrativa); e exposição de provas. Quando tudo isso começou, dizia-se que havia imagens de câmeras e testemunhas. Mas tudo o que foi apresentado aqui é apenas o boletim de ocorrência. Tenho que agir na impessoalidade. Boletim de ocorrência não é prova. Briga de bar não é corrupção apontada pelo Gaeco.”  – Edcarlos Santos (PP)

 

“Minha fala não objetiva atender qualquer questão de lado A ou lado B, porque não tenho compromisso assumido com qualquer partido político nessa eleição. O boletim de ocorrência é algo unilateral. Cabe agora à justiça averiguar os fatos e aí sim, emitir o parecer para ver se cabe denúncia ou não. Para nós, nesse momento, é muito cedo emitir um parecer e abrir um processo de cassação, principalmente neste momento político. A denúncia feita narra basicamente o B.O. Não traz nenhum fato novo; é apenas um lado da história sendo falado. Acredito que devemos aguardar a polícia, que é imparcial, analisar os fatos, para que, no futuro, possamos eventualmente analisar algo que possa ter ocorrido.” – Benedito Antonio Franchini (PTB)