Caso Claudia: Corpo de vítima foi queimado por quatro dias; disputa por poder e desvio de verbas motivaram o crime

Caso Claudia: Corpo de vítima foi queimado por quatro dias; disputa por poder e desvio de verbas motivaram o crime

A Polícia Civil de Bauru revelou nesta segunda-feira (26), que o corpo de Claudia Regina Rocha Lobo, secretária-executiva da Apae, desaparecida desde 6 de agosto, foi incinerado por quatro dias na zona rural da cidade. O local também foi usado por Roberto Francheschetti Filho e Dilomar Batista, funcionário afastado da Apae, para queimar documentos da entidade. Roberto admitiu informalmente à polícia ter assassinado Claudia, alegando disputa de poder e desvio de verbas como motivo do crime.
O depoimento de Dilomar Batista foi crucial para o avanço das investigações. Ele afirmou ter sido coagido por Roberto a ajudar na ocultação do corpo, mas sua prisão ainda não foi decretada. Durante as apurações, a polícia apreendeu R$ 10 mil na casa da filha de Claudia e descobriu que a vítima pedia "adiantamentos" a Roberto, sendo que em uma ocasião teria solicitado R$ 40 mil. Esses valores eram registrados como "adiantamentos a fornecedores", levantando suspeitas de fraude contábil.
Francheschetti tentou inicialmente atrapalhar as investigações, alegando que Claudia pedia dinheiro para pagar dívidas de um parente com traficantes. No entanto, a polícia investiga um possível desvio de verbas na Apae, com parte dos recursos sendo provenientes de doações e eventos beneficentes. Enquanto as investigações financeiras continuam, a polícia acredita estar próxima de encerrar o caso do homicídio em breve. O delegado Cledson Luiz do Nascimento, da Deic de Bauru, não tem dúvidas sobre a premeditação do crime por parte de Roberto.

Apae demite funcionário que ajudou a ocultar cadáver

Em nota divulgada nesta quarta-feira (28), a Apae Bauru informou que o funcionário do almoxarifado Dilomar Batista, envolvido no desaparecimento da secretária executiva Claudia Lobo, foi imediatamente demitido após a Coletiva de Imprensa realizada pela Polícia Civil nesta segunda (26).


“A Diretoria informa ainda que esta, como outras ações necessárias à administração deste momento crítico, serão advindas conforme avançam o conhecimento e constatação de autoria e materialidade, levantadas, tanto na sindicância interna, como nos autos de investigação da autoridade policial, com profissionalismo e ética, evitando a tomada de decisões no campo da especulação”, completa a nota.

 

Cronologia dos acontecimentos

06 de agosto
Familiares de Claudia Regina da Rocha Lobo, secretária executiva da Apae, procuraram o plantão policial a fim de informar seu desaparecimento. Informaram que ela saiu de seu local de trabalho às 14h57 na Rua Rodrigo Romeiro 2-47, no Higienópolis conduzindo o veículo GM Spin placas SVQ8D34, cedido pela Prefeitura para a Apae e, desde então não estavam conseguindo contato com ela.

07 de agosto
Na manhã seguinte, imediatamente foi acionada equipe da 3ª Delegacia de Homicídios e apoio do Escritório de Inteligência Policial da DEIC Bauru, visando as diligências preliminares. Inicialmente as equipes se dirigiram a Apae, onde apuraram que a desaparecida, após uma reunião a sós com o presidente da entidade, havia saído levando consigo apenas um envelope (conforme as imagens, ela assumiu a direção sem usar do motorista da entidade, como de costume). 
O telefone, deixado por ela foi apreendido pela equipe de investigação. Por volta das 11h00, a equipe foi acionada para o local do encontro do veículo, que estava estacionado na quadra 5 da Alameda Três Lagoas, na Vila Dutra.
A Perícia localizou, no interior do veículo, um estojo deflagrado de pistola calibre 380, manchas no banco de trás e um pequeno empoçamento no carpete – material que foi positivadas pelo perito como sangue humano. Foram coletados material genético e fragmentos de impressões digitais.  Segundo o perito os vidros aparentavam terem sido limpos com pano. 

08 de agosto
A equipe da 3ª DH passa a realizar incessantes diligências, visando a obtenção de câmeras que possam traçar a rota do veículo após deixar a Rua Rodrigo Romeiro. Foram obtidas imagens nas Avenidas Nações Unidas e Nuno de Assis, acesso à Rodovia Bauru-Arealva, e também na SP 294, sentido Marília. 
Em uma rua perpendicular ao do local do abandono, imagens mostraram o veículo GM Spin passando pela câmera por volta das 18h31 e, logo na sequência, estacionando. Dois minutos depois, o motorista atravessa em direção a Av Elias Miguel Maluf.
Em seu primeiro depoimento, Roberto Fransceschetti Filho, informou que Claudia estava solicitando “adiantamentos” de ordem financeira (sem previsão estatutária), alegando que era para ajudar um parente que havia sido preso e estava devendo. Disse que essa já seria a quarta ou quinta vez que Claudia pedia adiantamento de altos valores; que em duas oportunidades, ele próprio a acompanhou ao bairro Mary Dota, onde ela entregava o dinheiro, para um homem. 
Nas outras duas vezes levou, ele contou que a levou em um shopping e em um posto de gasolina. Disse que uma semana antes do desaparecimento, ela pediu R$ 40 mil e “seria a última vez”, mas alegou que não liberou esse valor. Diante disso, em diligências visando a coleta de material genético da desaparecida, foi apreendido também o notebook além da quantia de R$ 10 mil em espécie, que havia sido deixada por Claudia na casa da filha.

09 de agosto
Roberto encaminhou agendas, relatórios de ligações do telefone fixo da entidade e tentou direcionar a investigação para um familiar de Claudia, que foi preso por tráfico e que residia no bairro Mary Dota. 
Sobre esse familiar dizia que “tinha semelhança, mas não podia afirmar” que era a pessoa que buscava o envelope. A polícia expediu ofício para Apae informar datas e valores que teriam sido liberados a Claudia. No depoimento, Roberto dizia que “não lembrava com precisão os valores e as datas”, mas que essas informações seriam prestadas.

13 de agosto
A Coordenadora financeira da entidade prestou depoimento. Ela confirmou que analisava apenas a viabilidade financeira do caixa, mas que as liberações desses “adiantamentos” eram de responsabilidade de Roberto. 
Na extração de conteúdo do notebook de Claudia, foram encontradas planilhas da contabilidade pessoal da desaparecida, com indicativos de possuir inconsistências financeiras – inclusive valores em aberto em relação a Roberto.
Apesar de parte da grande mídia e opinião pública cogitarem para uma possível questão passional para o crime, além do fato de Roberto direcionar a investigação para “traficantes” que cobravam familiares de Cláudia, a investigação passou a trabalhar com os fortes indicativos de rombo no caixa da entidade assistencial, má gestão e conflitos de interesse entre presidente e secretária executiva.

14 de agosto
A equipe de Homicídios encontra uma câmera de monitoramento na quadra 2 da Rua Maestro Oscar Mendes, no Novo Jardim Pagani, que deu rumo decisivo para a investigação. 
Contrariando o que Roberto afirmava em depoimento (que teria visto Cláudia pela última vez na reunião na Apae), as imagens mostram às 15h11 a Spin estacionando, Cláudia saindo do banco do motorista e entrando no banco de trás (na posição onde foi encontrada a maior concentração de sangue humano), e Roberto saindo do carro no lado do passageiro e assumindo o volante. O carro fica parado cerca de três minutos na mesma posição antes de sair.
Imagens na Marginal da Rodovia Cesario José de Castilho captam a Spin três minutos após sair, do onde os dois trocam de posição no carro (onde provavelmente ocorreu o disparo), com Roberto seguindo para se desfazer do corpo.
Após a saída do Jardim Pagani, suas movimentações registradas entre 16h01 e 16h12, apontam que ele estava na região do bairro Pousada da Esperança e da Rodovia Cesario José de Castilho (Bauru-Arealva), altura no km 348,5. 
Essa região é a mesma onde a Apae passou, recentemente, a fazer a incineração de papéis e materiais inservíveis, em uma Chácara de locação de campos de futebol e que o funcionário responsável pelo descarte, homem de confiança de Roberto, já trabalhou e residiu nessa chácara. 
Pela análise, às 18h38 Roberto estava na região do Parque Santa Cândida, próximo da Alameda Três Lagoas, local onde o carro foi abandonado. Deram conta que Roberto Franceschetti Filho possui uma pistola Taurus, calibre 380, cadastrada em seu nome.
No fim deste dia, a polícia obteve todos elementos que indicavam a autoria do crime por parte do presidente da Apae, que teve mandado de prisão temporária representado pelo prazo de 30 dias, além de mandado de busca e apreensão.

15 de agosto
Roberto é preso quando compareceu na delegacia para fazer a retirada dos bens da Apae (notebook e celular de Claudia). Em diligências efetuadas em sua residência, sua pistola foi apreendida dentro de um cofre.
Já preso, em entrevista preliminar, Roberto indica que teria jogado o corpo de Claudia no local das queimas de papéis e materiais inservíveis. No fim da tarde, ele foi levado pela para cadeia de Pirajuí.
Nesse mesmo dia, ao anoitecer, a polícia realizou diligências no local e encontrou um buraco com grande quantidade de cinzas, restos de papéis, latas e outros objetos queimados, confirmando, pelo rescaldo e papéis não queimados totalmente, que realmente pertenceriam a Apae.
A investigação apontou que na tarde do crime, Dilomar Batista, o funcionário responsável pelo Setor de Frota e Compras da Apae, “homem de confiança de Roberto”, estava queimando papéis no local. Ele foi contratado em 01/04/2024 e foi colocado por Roberto em importante função no Setor de Compras e Frota.

16 de agosto
Intimado, Dilomar apresentou várias contradições. Disse que naquela tarde teria se dirigido ao local em companhia de um outro funcionário da Apae, fato que não foi confirmado.

19 de agosto
Roberto é formalmente interrogado e, após orientação da defesa que teve acesso aos autos do inquérito, nega autoria do crime. Após ser confrontado com as imagens, disse que levou Cláudia para entregar o dinheiro no Mary Dota e, na sequência, que ela o deixou depois ela o deixou na Avenida Nuno de Assis, onde inclusive ele abasteceu seu carro. 
Sobre o estojo de pistola, disse que testou a arma em um local próximo a Apae do Ouro Verde. Roberto foi reconduzido para a Cadeia Pública de Pirajuí. 
A polícia representou pela decretação da Prisão Temporária de Dilomar, que foi negada. Em interrogatório, o funcionário confirmou que Roberto lhe telefonou por volta das 14h00, perguntando se, naquela data, iria queimar os materiais. 
Roberto chegou posteriormente, conduzindo a Spin, com o corpo. Mediante ameaça ao funcionário e seus familiares, ordenou que o funcionário “desse fim” no corpo e limpasse o carro. 
Depois disso, Roberto sai conduzindo outra viatura da Apae (o veículo que o funcionário chegou) e volta para Bauru para tentar deixar provas de seu álibi. Assim, o presidente abastece sua caminhonete com cartão em um posto de combustíveis às 16h40, entrega um telefone a uma funcionária na Apae e só volta no fim da tarde para se desfazerem da Spin.
Dilomar concorda em mostrar onde jogou os restos mortais incinerados da vítima, pois no sábado, dia 10/08, voltou a pedido de Roberto para mais uma vez se livrar das provas, rastelando e separando os ossos que ficaram no buraco onde os papéis e objetos foram queimados.
Ele indica uma região de mata há cerca de 20 metros do buraco. No local, já de noite, são apreendidos pela perícia, pedaços que aparentam serem ossos humanos queimados.

20 de agosto
É divulgado resultado do laudo pericial de exame de confronto balístico da pistola apreendida no cofre da casa de Roberto com o projétil encontrado no carro, que resultou positivo.
Nesta tarde, as equipes voltaram ao local do descarte do corpo. Com a luz do dia, foi possível encontrar uma armação de óculos que pertencia a vítima, além de outros vestígios (ossos, que são confirmados pelo IML como sendo humanos).

22 de agosto
Realizadas diligências na Apae visando perícia complementar em documentos de rede realizada pelo Setor de Informática do Instituto de Criminalística ao laudo pericial de análises do notebook apreendido e que era usado pela vítima Cláudia Lobo. Também são apreendidos objetos e documentos para prosseguimento da investigação financeira.