Novo depoimento de Vaguinho revela detalhes do esquema da Latina Ambiental com o prefeito Abelardo Simões; licitação fraudulenta contou com participação de ex-diretores, empresário baririene preso na última semana e dona de floricultura
Mais um desdobramento impactante da operação do Ministério Público que investiga licitações criminosas na Prefeitura Municipal de Bariri, através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), veio à tona nesta semana, após novo depoimento do réu Vagner Mateus Ferreira ao Promotor de Justiça Nelson Aparecido Febraio Junior. Ex-vereador, ex-prefeito interino de Bariri e apoiador político do prefeito Abelardo Simões, Vaguinho está preso desde o dia 17 de fevereiro por desrespeitar medida protetiva. Na sessão camarária desta segunda-feira (18), o vereador Leandro Gonzalez leu trechos do depoimento de Vaguinho, tornando o assunto público.
Na oitiva realizada em 06 de setembro de forma virtual, Vaguinho confirma a participação do empresário baririense Abílio Giacon Neto, nas fraudes contratuais e associação criminosa, indicando coautoria de Abílio nas coações, roubo e obstrução de produção de provas. O proprietário da Mazo & Giacon Ltda., foi preso ao final da tarde de quinta-feira passada (14), em Bariri.
O mandado de prisão temporária em face de Abílio Giacon foi emitido após o mais recente interrogatório do primeiro empresário preso pelo GAECO: Paulo Ricardo Barboza, proprietário da Latina Ambiental, que salvou o contato de Giacon em sua agenda como “Gordinho Lixo Bariri”. Barboza definiu Giacon como “o pau mandado” do prefeito Abelardo Simões; o novo depoimento de Vaguinho complementa e reforça as informações passadas pelo dono da Latina.
O apelido de Abílio Giacon Neto também aparece na lista de supostos pagamentos de propina, anotações retiradas da agenda de Paulo Ricardo Barboza. O proprietário da Latina confessou que os valores eram repassados mensalmente ao prefeito Abelardinho, como forma de manter ativo o contrato licitatório da limpeza pública em Bariri. Em duas anotações datadas de 22/05/2023 e 21/06/23, cada qual com os valores de R$ 10 mil, o codinome “Gordo” está escrito na frente dos números, indicando que Barboza teria direcionado a propina para Giacon em pelo menos duas ocasiões.
Atualmente, a Mazo & Giacon detém o contrato de “prestação de serviços de coleta e transporte de resíduos sólidos domiciliares e comercias” da Prefeitura Municipal de Bariri, ou seja, serviços de coleta do lixo. A empresa de Abílio faltou no pregão presencial que sagrou a Latina Ambiental vencedora da licitação de limpeza pública, fato que chamou a atenção do Ministério Público.
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Abílio Giacon Neto passou endereço de vítima de atentado ao proprietário da Latina Ambiental
O empresário Abílio Giacon Neto, foi preso temporariamente no último dia 14 de setembro após declarações de Paulo Ricardo Barboza confirmarem que o proprietário da Mazo & Giacon teve participação direta no atentado criminoso ocorrido em 02 de junho, contra o empresário Fábio Yang. Segundo Barboza, a ação criminosa aconteceu a mando do prefeito Abelardo Simões, com o objetivo de amedrontar e censurar a vítima e o Jornal Noticiantes.
“Pelo que se extrai foi Abílio quem, juntamente com outros agentes, exigiram o atentando contra Fábio como condição para renovação contratual com o Poder Público. Ainda, foi Abílio quem indicou endereço e locais para que o crime pudesse ser executado. E pelo que se denota das filmagens da empreitada criminosa, horário de chegada e saída somente são compatíveis mediante colaboração de pessoas residentes no município e que de fato tenham confirmado a dinâmica, até pelo que os executores vieram de outra localidade”, concluiu a promotoria.
Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência de Abílio, uma das Promotoras de Justiça localizou o termo de depoimento da vítima prestado na delegacia de Polícia de Bariri, entre os pertencentes do investigado. Este fato comprovou a veracidade da informação passada por Paulo Ricardo Barboza, de que Abílio teria lhe enviado cópia do depoimento de Fábio e pedido para que ele trocasse seu aparelho celular, por suposta ordem do prefeito Abelardo Simões, com o intuito de obstruir provas da investigação.
“Paulo disse que em uma dessas conversas, Abílio lhe disse: ‘o chefe pediu para você jogar fora o seu celular’. Abílio ainda gravou áudio para Paulo, transcrevendo o conteúdo do B.O da vítima (Fábio) na Delegacia. Abílio mandou para Paulo foto do depoimento de Fábio Yang na Polícia Federal com descrição do caso do atentado sofrido e disse para Paulo se preparar, porque ele também sofreria os danos desse processo”, continua o processo.
Por fim, o Ministério Público concluiu que “Abílio contribuiu de maneira absolutamente relevante para os resultados objetivos da empreitada. Além de pedir as providências contra vítima Fábio, indicou seu endereço, locais de frequência, onde poderia ser encontrado, propiciando meios concretos para execução dos crimes violentos, das quais além ser um dos idealizadores, tinha ciência. Para além dos crimes violentos, Abílio estava associado com outras pessoas para cometimento de crimes ligados a licitação e desvios de valores públicos. E neste momento, inevitável sua prisão para continuidade das investigações, pois cuida-se de pessoa que tem proporcionado meios para dificultar as apurações”.
Abílio Giacon Neto foi encaminhado à Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Jaú. Após audiência de custódia, ele foi levado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Bauru, onde está detido atualmente.
“As gravidades dos delitos saltam aos olhos, notadamente as tentativas de coação, grave ameaça, violência, forma arquitetada da empreitada. Ainda, ficou bem evidenciado que Abílio Giacon Neto estava devidamente obstruindo e interferindo nas investigações. Tudo isso revela que não há compatibilidade de qualquer medida cautelar em meio aberto (...). Ante o exposto, o Ministério Público requer seja decretada a prisão temporária, pelo prazo de 30 dias, de Abílio Giacon Neto”, encerram os promotores Nelson Aparecido Febraio Junior, Gabriela Silva Gonçalves Salvador e Ana Maria Romano.
Ministério Público apura como Abílio Giacon teve acesso direto a documentos internos e oficiais da delegacia de Polícia Civil de Bariri
O fato do depoimento da vítima do atentado estar entre os pertences de Abílio Giacon chamou a atenção do Ministério Público. O órgão investiga como documentos oficiais da Delegacia de Polícia Civil de Bariri, foram disponibilizados ao investigado.
“Abílio ainda teria ligado e lido, na íntegra, depoimento originário e boletim de ocorrência em que Fábio Yang registrou na Polícia Civil de Bariri. Tal fato por si só revela acentuada gravidade, pois é possível que ele tenha tido acesso a documentos oficiais da Delegacia de Polícia de Bariri sem qualquer razão plausível e que será mais bem apurado pelo Ministério Público (em quais condições Abílio teria tido acesso a documentos da Delegacia de Polícia de Bariri)”, diz a promotoria.
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