O Besouro Rola B. (parte final)

O Besouro Rola B. (parte final)

A primeira parte desta crônica, publicada na semana passada, não tinha nada a ver com seu título. Hoje a situação é outra: o texto é essencialmente escatológico. Por esse motivo, sinto-me na obrigação de fazer um alerta: se você tem ojeriza a esse tipo de assunto, vire a página do jornal e siga em frente. 
Começo pelo referido título: a letra B significa exatamente o que você está pensando. Mas o que o besouro tem a ver com a minha infância? Eu explico. A falta de entretenimento era a mãe da criatividade. Certa vez, alguém extrapolou, criando uma competição tão inusitada quanto absurda: ver quem encontrava o maior número de besouros... aí surge o X da questão, ou melhor, o B do título: no estrume de bois e vacas! Depois de seco, o “bolo” – nome que coincide com o seu formato – fecal é ocupado pelos invasores. Basta levantá-lo e os besouros lá estão, rentes ao chão. Eu os encontrava, mas não encontrava uma explicação para o fato de serem castigados com um sobrenome tão incômodo. 
A dúvida persistiu durante décadas – mesmo porque seria humanamente, ou melhor, coleopteramente impossível o besouro agir de acordo com o seu sobrenome. A solução surgiu graças a um programa de TV, daqueles que privilegiam a natureza. A explicação não foi apenas falada, mas também filmada. O programa mostrou um besouro da referida espécie explorando um local no meio da floresta, na África. De repente, ele encontra um verdadeiro tesouro – na sua avaliação, claro! – do tamanho de uma bola de futebol. Seria de ouro? De jeito nenhum. Era apenas uma das 18 bolotas de fezes que os elefantes expelem todos os dias. Apesar da diferença descomunal de peso e tamanho, o valente besouro começa a rolar o troféu rumo à sua casa. Aí acontece outra surpresa, ainda mais agradável: encontra uma “besoura” no meio do caminho. Ela não está pedindo carona, mas aceita o convite para embarcar. Como a “carruagem” não tem janelas nem portas, a “besoura” ajeita-se cravando fortemente as patas na bolota. Ele nem percebe que o peso aumentou. E ela nem se importa quando a bola rola por cima dela. 
Tudo está maravilhoso, quando ocorre um acidente que pode pôr fim à festa: a bola cai num buraco. Seria uma barbeiragem do besouro? Nada disso. Ele fez de propósito. E aí começa a festa, com a carruagem transformando-se em suíte nupcial. O besouro cobre a bolota de terra e o casal se despede, cada um seguindo o seu caminho, com a certeza de que contribuiu para a perpetuação da espécie, com a colaboração de uma bolota de fezes de elefante. Que se tornou carruagem, suíte nupcial, maternidade e berçário! Já o besouro mais esperto veio para o nosso país, adotou o famoso “jeitinho brasileiro” e não quis rolar b. nenhuma. Mas não conseguiu desvencilhar-se de seu horrível sobrenome.