Pontes históricas do Tietê
O globo terrestre continua girando com a mesma velocidade de sempre (para quem não sabe, a 1.666 km/h), mas o ser humano está cada vez mais apressado. Você já viu, prezado leitor, algum motorista que não buzine quando o carro à sua frente demora mais de dois segundos para começar a se movimentar depois que o semáforo fica verde? Já teve a incrível oportunidade de ver um motoqueiro sem pressa? Ou algum que não faça a moto “encolher-se” para passar entre dois veículos, no espaço em que mal cabe uma bicicleta? Acredito que muita gente nem saiba por que está correndo, mas a verdade é que a “síndrome da correria” está assolando o mundo.
É verdade que a tecnologia se tornou uma grande aliada de quem não quer perder tempo. Na década de 1950, um telefonema para São Paulo tinha previsão de espera de quatro horas. Hoje, uma ligação para Nova York é completada em alguns segundos. Na contramão da rapidez, algumas (poucas) coisas tornaram-se mais demoradas. Um exemplo banal é a travessia do Rio Tietê, feita por quem vai de Boraceia a Itapuí. Parece um absurdo, mas há exatamente um século quem ia de Floresta até Bica de Pedra atravessava o referido rio em menos tempo do que nos dias atuais. Pensando bem, é algo muito estranho. Afinal, o avanço tecnológico não se limitou à telefonia. O ferry boat é uma balsa moderna, dotada de possante motor, conduzida por profissionais bem treinados, capazes de resolver as situações mais adversas. Diante de tanta modernidade, as balsas de antigamente são consideradas totalmente obsoletas, difíceis até para serem descritas – mas vamos tentar. Sobre dois botes de grande porte era instalado um tablado de madeira reforçado o bastante para suportar o peso de veículos. Um resistente cabo de aço era estendido sobre o rio, ligando seus dois lados, e fixado em estacas de cimento. A balsa ficava presa a esse cabo através de carretilhas. A posição estratégica dos botes fazia com que a correnteza tentasse levar a balsa rio abaixo; mas, encontrando a resistência do cabo de aço, acabava fazendo a embarcação deslizar até a outra margem do rio.
Ainda sobre balsas, às vezes a natureza surpreende com suas controvérsias. Numa estrada de terra, o excesso de água, provocado pelas chuvas, pode fazer os veículos encalharem. Num rio, a falta de água provocada pela estiagem pode fazer as balsas encalharem. E foi isso que aconteceu com um jovem pederneirense. Passar algumas horas preso numa balsa encalhada no meio do Tietê não seria algo tão grave, não fosse no dia - e quase na hora - do seu casamento... Enquanto ele rezava, na porta da igreja a noiva chorava temendo que o noivo tivesse mudado de ideia e os convidados que aguardavam o enlace estranhavam o atraso, normalmente causado pela noiva. Finalmente, a balsa desencalhou, ele conseguiu chegar à igreja e o casal foi feliz para sempre.
Retomando o fio da meada: será mesmo verdade que, há um século, a travessia do rio Tietê, entre Boraceia e Itapuí, era mais rápida do que nos dias de hoje? Vamos esclarecer essa dúvida na próxima semana, caro leitor! (continua)
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