O desaparecimento de Glenn Miller

O desaparecimento de Glenn Miller

Nos bailes tradicionais existem momentos em que o público se mostra cansado - tanto fisicamente como “cansado“ dos ritmos atuais apresentados pela banda. Como consequência, a pista de dança vai se esvaziando e chega a ficar deserta. Mas os músicos sabem como lidar com essa situação: usar o “método“ Glenn Miller. O resultado é imediato. Logo a animação toma conta de todos e o salão volta a ficar repleto de pés de valsa.
Certamente os leitores mais jovens perguntaram: quem é Glenn Miller, que tem esse poder mágico? Contarei um pouco de sua vida, uma vida tão edificante que virou filme: “Música e Lágrimas“. 
    Miller nasceu na pequena cidade norte-americana de Clarinda, no Estado de Yowa, em 1904. Quando os Estados Unidos entraram na 2ª Guerra Mundial, ele se alistou no Exército e participou ativamente do conflito. Não, ele não matou nenhum inimigo. Nem sequer feriu alguém. Mais ainda: não empunhou nenhuma arma. A sua participação foi diferenciada, empunhando algo que não prejudica ninguém fisicamente - pelo contrário, faz bem para a alma. Para isso ele usou seu trombone e seus conhecimentos musicais. Apresentava uma música tão especial que operava verdadeiros milagres entre os soldados. Às agruras da guerra somam- se a tristeza de ver os amigos morrendo nos campos de batalha, a saudade da namorada ou da esposa e dos filhos e a incerteza de voltar vivo para casa. Nomeado capitão do Exército, Miller foi transferido para a Força Aérea, onde fundou a Glenn Miller Army Air Force Band. E essa banda maravilhosa, com seu estilo próprio e vibrante, fazia shows para os soldados. Onde quer que eles estivessem, lá estava também a banda, ajudando a matar a saudade de casa e a levantar a moral da tropa. Apenas para se ter uma ideia foram cerca de 800 apresentações.
    No dia 15 de dezembro de 1944 o músico embarcou em um monomotor militar para ir da Inglaterra à capital da França. Viajara antes dos músicos para cuidar da transmissão pelo rádio do show que a orquestra faria no dia seguinte. Em 16 de dezembro a orquestra chegou à Cidade Luz e não encontrou seu maestro. Não havia qualquer notícia sobre o avião em que ele viajava, que simplesmente desapareceu sem deixar vestígios.
Pois bem: em 2006, Clarence Wolf, um oficial da Força Aérea norte-americana que pilotava o poderoso bombardeiro B-50, sentindo que estava à beira da morte, convocou a imprensa para uma revelação estarrecedora. Ele não queria levar para o túmulo o segredo que o atormentara durante 62 anos. E contou o seguinte: em certa madrugada, seu esquadrão aéreo partiu para executar mais um bombardeio sobre a Alemanha. Ao chegar ao local, deparou-se com um problema sério: a visibilidade era nula. Sem enxergar o alvo, o ataque seria um verdadeiro desastre. Centenas de civis inocentes seriam mortos. Resultado: a missão foi abortada. Mas havia outra questão a ser resolvida. Os gigantescos B-50 estavam proibidos de aterrissar na base aérea portando aquela carga tão perigosa. Uma pequena falha e tudo iria pelos ares. A ordem era clara: desovar as bombas em local seguro. Essa operação foi realizada com sucesso, mas causou uma tragédia: as bombas atingiram um pequeno avião que voava em altitude inferior. E dentro dele estava o maestro Glenn Miller. Ele morreu, mas suas músicas, como “Moonlight Serenade” e “In the Mood”, continuam vivas como sempre, embalando dançarinos pelos salões do mundo todo.