Revisitando os arquivos: “Departamentalizações”

Revisitando os arquivos: “Departamentalizações”

“Às vezes a pessoa esquadrinhou a vida, os pensamentos, os entendimentos de tal sorte que ela criou muitas áreas das quais ela não tem como entrar” (Packter). A partir da frase de Packter serão considerados os departamentos internos existenciais da pessoa. Este assunto requer bastante cuidado, observação, pois é significativamente vasto, uma vez que, os sistemas internos das pessoas variam em “tamanho” e complexidade, ou seja, há pessoas que são expressivamente “departamentalizadas”, organizam suas vivências pormenorizadamente e, por outro lado, pessoas que se estruturam com poucas divisões. Não há absolutamente problemas por serem como são e a questão não é esta, pois formas de organizar os movimentos intelectivos existem aos montes, considerando que cada pessoa funciona de maneira única.
Pois bem, se por analogia considerarmos a malha intelectiva de uma pessoa a partir da infraestrutura de uma cidade, ou seja, do como estão organizadas as ruas, os acessos do centro para os bairros e vice- versa; passagens de grande fluxo com ruas e avenidas estreitas ou amplas; bairros consecutivos no qual a acessibilidade é estranha. Ainda, poder-se-ia analogamente comparar ao sistema elétrico de uma cidade, ou hidráulico, ou ao escoamento das águas da chuva, ou ainda ao sistema de trânsito etc. Talvez o conceito por similitude facilite quanto ao entendimento do que aqui se é pretendido.
Exemplificando: assim como existem cidades estruturadas de forma complexa, há também pessoas. Contudo, será considerado apenas o trânsito: ruas sem saídas; com sinalizações inoportunas que apenas dificultam a transitação; bairros labirínticos, incomunicáveis ou de difícil acesso; espaços que poderiam ser avenidas arborizadas e são apenas ruas etc. Assim também, existem pessoas com estruturas internas muito próximas disto.  A partir do exemplo, podemos entender que em algumas pessoas em sua “infraestrutura interna”, ou seja, em suas “partições”, apresentam-se de maneira curiosa, pois ao organizarem o “trânsito existencial”, estabelecem uma avenida de mão única, ou seja, vão vivendo e quando precisam retomar ou voltar em determinado movimento existencial, não tem ou não encontram a volta. Pode ser simples para alguns e, algumas pessoas somente vão mesmo, mas para outras isso poderá ser danoso. A pessoa está dirigindo uma condução em determinado bairro e à frente está um novo loteamento e, de repente, a rua não segue, como se fosse um “T”. Com isso, se faz necessária uma volta enorme e, ao querer realizar o caminho, poderá se perder. 
Outra pessoa, em suas vivências, está a caminho e se depara com um “L” e este é para a esquerda. Ao chegar à próxima travessa onde pretenderia pegar para a direita, a sinalização indica para a esquerda, dando a ela a impressão de estar em seus movimentos existenciais, simplesmente em círculo, isto é, podendo concluir que não sai do lugar. Ainda, é possível por analogia, refletir que quando adentrado em um determinado campo da malha intelectiva, para alguns, é como um beco sem saída, a pessoa fica perdida naquele lugar existencial. Quando a partição é confusa: a pessoa ao pensar estar indo existencialmente, está voltando, uma vez que as sinalizações não condizem com as que ela habitualmente está configurada. Alguns espaços são tão complexos que é como aquele lugar da cidade em que a arquitetura e outras coisas mais, propiciam equívocos conceituais, dando a impressão à pessoa de que está subindo, quando na verdade, está descendo. 
Há também ambientes existenciais em determinadas pessoas que são como um bairro novo, ou seja, um local onde nunca estiveram e, ao visitá-lo, a forma como o bairro está dividido é bastante díspar. Para algumas, essa divisão e tudo que ali existe, ou seja, coisas que nunca imaginariam que ali pudessem encontrar poderão ser motivadoras e possibilitarem passos novos, no entanto, para outras pessoas poderá aquele conjunto todo ser um espaço de pouco trânsito existencial, considerando a forma como está “departamentalizado” e, consequentemente, causar movimentos existenciais complexos. Todavia, há também aquelas que paradoxalmente dirão sobre o lugar, afirmando ser: simples e complexo, agradável e desagradável, estranho e acolhedor, tudo isso ao mesmo tempo, em virtude da mescla dos fenômenos existentes na constituição da Estrutura de Pensamento da pessoa. Haveria aqui muitas outras analogias a serem feitas, mas para este artigo ficam apenas estas.
Por fim, esses movimentos existenciais em si mesmos, não são bons e nem ruins, nem certos e nem errados, são apenas maneiras de se estar no mundo. São estruturas que propiciarão, para alguns, se sentirem bem assim, do mesmo modo como na cidadezinha em que há uma estrutura sem planejamentos maiores e, ainda assim, muitos moradores simplesmente vivem enamorados de tal lugar.