Saúde de Itapuí sofre enxurrada de reclamações por falhas no hospital, falta de especialidades, escassez de insumos e medicamentos; “A prefeita não responde mais mensagens. Será que vou precisar entrar na Justiça para meu filho ter psicóloga?”, questiona mãe

“O hospital de Itapuí está uma verdadeira baderna”, diz uma mensagem enviada ao whatsapp do Noticiantes. O breve comentário é uma pequena amostra dos relatos publicados nas redes sociais do município. Pacientes que frequentam o Hospital São José reclamam de descaso no atendimento, falta de papel higiênico e outros insumos de higiene e limpeza nos banheiros, entre outras reclamações. 
Num relato publicado no dia 06 de março de 2025, a denunciante alega que chegou a ir para casa sem atendimento, após horas de espera. O texto diz que a equipe hospitalar fica distraída com aparelhos celulares e conversas paralelas.

“Estou indignada como o hospital de Itapuí está uma porcaria em questão de tudo. Ontem à noite, fui ao hospital com muita dor. Fiquei meia hora esperando pra passar numa triagem porque as lindas ficam em celular, ou até mesmo em rodinha de conversa; já presenciei isso várias vezes. Depois que consegui passar na triagem, tinha um monte de gente esperando ser atendido pelo médico, que vive com a porta fechada. Tinha várias pessoas com acesso de soro no braço esperando ser tirados e, adivinham: as enfermeiras todas em rodinha, dando risada. Fiquei aguardando até 23h30 da noite pra ser atendida; não aguentei mais esperar e fui pra minha casa”, começa o relato.

Na sequência, a paciente continua afirmando que tornou a procurar o serviço público no dia seguinte. A gestante questiona o protocolo de atendimento do médico responsável e demonstra desconfiança com o que foi receitado.

“Voltei novamente e fiquei quase uma hora esperando para ser atendida numa triagem, com as lindas andando para lá e para cá. Como sempre, fui atendida por um médico sem educação, que não olhou na minha cara. Só me deu atestado e uns remédios. Depois, ele veio me perguntar se eu era gestante e refez a minha ficha de medicamentos. Fui pra tomar a medicação, o médico veio e passou quatro injeções. Onde já se viu passar quatro injeções com um monte de remédio? Eu disse que não iria tomar. Aí, ele disse que se eu não fosse tomar era pra eu ir embora, e foi o que eu fiz! Eu não vou arriscar a minha saúde e a do meu filho por incompetência de médico nenhum. Estudem por amor à profissão de vocês, porque se for pra ficar maltratando os pacientes, que estão ali há horas esperando para ser atendido (e quando é atendido, ainda é maltratado) é melhor os médicos ficarem em casa. A saúde em Itapuí está um lixo. Ultimamente só estão investindo em festinhas e show na praça”, finaliza o relato. 

Um outro relato chama a atenção para a falta de profissionais médicos na especialidade de psicologia infantil. Este questionamento foi feito por uma mãe e direcionado à vereadora Gabi da Saúde (Podemos), que integra o grupo de base da administração Clélia-Mecha no Legislativo. A reclamação foi publicada nesta quarta-feira (12), no grupo “Itapuí Agora”.

“Quando volta a psicóloga das crianças? Esse projeto não seria a parte principal? Não era no começo de fevereiro que as crianças iriam voltar com o tratamento? Agora que você ganhou, esqueceu das promessas? A prefeita não responde mais mensagens e nem atende. Na eleição, era até de madrugada. Agora manda, aquela puxa saco dela responde as mensagens mas nunca sabe de nada. Isso eu já esperava dela. Mas de você, Gabi, não esperava não. Você deu sua palavra que iria fazer o melhor para nossos filhos. Liga lá e a moça só sabe falar que ainda não tem previsão; que quando tiver vai mandar mensagem. Será que vou precisar entrar na justiça para meu filho ter psicóloga? Não adianta arrumar só para meu filho, mas sim para todos. Espero que você me responda”, diz a mãe.

Folha de pagamento atrasada?

Outra reclamação que chegou até nossa reportagem via whatsApp diz respeito a um suposto atraso na folha salarial de funcionários terceirizados do Hospital São José. Segundo os relatos, o repasse não estaria sendo realizado – fator que estaria causando descontentamento entre a classe servidora e, consequentemente, prejudicando a qualidade do atendimento.

“No mês passado atrasou. A nova equipe não sabe conferir o relatório para pagamento. Esse mês está atrasado novamente”, diz uma mensagem.

De acordo com informações extraoficiais, o problema passou a ocorrer após a administração do hospital ficar a cargo de uma empresa terceirizada.

“Agora, é uma empresa que está administrando o hospital. O pessoal está reclamando do atendimento, a sujeira e do atraso no pagamento dos funcionários. Estão fazendo o pagamento do pessoal por escala: uma parte recebe no dia certo; outra parte atrasa”, continua o denunciante.

Insumos e medicamentos em falta

Uma outra mensagem que passou a circular nesta semana, expõe suposta escassez de insumos e problemas estruturais no hospital. O autor anônimo da mensagem faz um paralelo com os problemas na Saúde com as agendas que a prefeita Clelia vem cumprindo em viagens à São Paulo e Brasília.

“Os relatos são semelhantes e se referem à falta de itens essenciais na unidade de saúde. Entre os problemas mais comuns, estão a falta de funcionamento das descargas nos banheiros da ala de internação e para os funcionários, além da escassez de lençóis. Também é frequente a queixa sobre a ausência de medicação básica, como a dipirona intravenosa, que deveria ser disponibilizada para os pacientes que necessitam. Em relação à aplicação de medicações, esse procedimento é realizado atrás de uma porta, já que não há uma sala apropriada para tal. Além disso, a limpeza do local é inadequada, e há relatos de funcionários e médicos mais preocupados com o uso de seus celulares e com reuniões particulares do que com o atendimento aos pacientes. Enquanto isso, ao invés de resolver essas questões cruciais, a prefeita e sua equipe estão mais preocupadas em realizar viagens e gastar o dinheiro público de forma inadequada”, diz o texto.

Abuso de autoridade?

Por fim, mais um relato enviado de forma anônima comenta sobre um suposto episódio de abuso de autoridade dentro do Hospital São José. Segundo o relato, uma servidora teria sido demitida enquanto enfrentava um processo de luto.

“Uma funcionária de Itapuí foi demitida do hospital por estar enfrentando um luto recente e de acordo com a gestora, esse descontentamento foi a justificativa pra sua demissão. As demais funcionárias que ainda permanecem estão enfrentando pressão psicológica”, diz a denúncia.

Nossa reportagem entrou em contato com a funcionária demitida, que confirmou as informações.

“A respeito da minha demissão do hospital de Itapuí, a justificativa foi eu estar descontente com a mudança de período (noturno/diurno), mesmo estando de atestado de luto pela perda do meu avô que me criou”, disse a servidora.

Ela complementou ainda contando que sua rescisão de contrato foi mandada por WhatsApp, sem assinatura.

“Os que ainda trabalham lá e tenho contato estão desanimados e sob pressão psicológica”, completa a jovem que afirmou que pretende procurar seus direitos na Justiça.
Por fim, questionamos se ela havia procurado a prefeita Clélia para comentar o caso. “No dia da demissão, de madrugada, ela me mandou mensagem só com elogios”, finaliza. 

O que diz a prefeitura? 

Nossa reportagem entrou em contado com a Diretoria Municipal de Saúde da Prefeitura de Itapuí. Em nota enviada, a diretora Mariana Aparecida Finez Lanza fez o seguinte pronunciamento: 

“A Administração Municipal, juntamente com a Diretoria Municipal de Saúde, esclarece que, nenhuma reclamação foi registrada oficialmente em nenhum de nossos canais de contato, ou mesmo através de nenhum funcionário público. Temos compromisso de manter um ambiente de trabalho equilibrado e um atendimento de qualidade à população. Vamos investigar as situações apontadas, buscando identificá-las para adotarmos  as medidas necessárias com rapidez e transparência. Temos a importante missão de zelarmos pelos cidadãos Itapuienses e pelos nossos servidores. Reafirmamos nosso compromisso com o bem-estar de todos e com o bom atendimento à comunidade”.