Seis vereadores contrariam parecer do Ministério Público e acatam denúncia de motorista acusada de agredir Myrella Soares; Baririenses reagem negativamente à terceira CP aberta em três meses

Seis vereadores contrariam parecer do Ministério Público e acatam denúncia de motorista acusada de agredir Myrella Soares; Baririenses reagem negativamente à terceira CP aberta em três meses

“Vocês acham que eu me venderia por menos R$ 1mil? Porque as horas extras não somaram mais de R$ 1 mil na minha folha de pagamento. O que acontece aqui é um esquema de um grupo político que foi derrotado nas últimas eleições e que quer, de toda maneira, exercer um poder que não é deles dentro dessa Câmara Municipal. Qual é o medo que esse pessoal tem da vereadora Myrella? Ficou configurado totalmente que esse grupo vota unido, de acordo com o interesse do mestre dos ventríloquos, uma pessoa extremamente mentirosa, que mentiu durante toda a campanha, que vem trazendo essa mentira (como se fosse verdade) para esse grupo político e quer que a população engula, goela abaixo, todas as suas mazelas. Esperava que vocês tivessem um pouco mais de autonomia e votassem por vocês. A gente sabe que vocês não estão votando por vocês; estão votando dentro de um esquema de um grupo político que visa o poder absoluto e que quer comandar a cidade de qualquer forma. Eu carrego Nossa Senhora no pescoço, como minha protetora. Jamais vou deixar que uma pessoa que chutou e quebrou uma santa lidere um grupo político para jogar nossa cidade no lixo.” – Vereadora Myrella Soares na Palavra Livre da sessão de 22 de abril de 2025.

 

Nem pressão popular, nem o parecer do Procurador Jurídico, nem mesmo a recomendação explícita do Ministério Público... nada foi capaz de impedir a abertura de mais uma Comissão Processante (CP) na Câmara Municipal de Bariri. A atual legislatura iniciou ordinariamente os trabalhos neste ano de 2025, no dia 04 de fevereiro. Em três meses de mandato, três CPs foram instauradas pelo Legislativo.
Nesta terça-feira (22), o alvo da vez foi a vereadora Myrella Soares (União Brasil), denunciada pela motorista Valentina Navarro, conhecida como “Valentina da Ambulância”, por suposta prática de quebra de decoro parlamentar.


Valentina alega que Myrella, embora “não tenha sido formalmente nomeada para cargo comissionado ou gratificado”, supostamente “desempenha atividades típicas de chefia, direção e assessoramento na Diretoria de Saúde do município”. Afirma que tal conduta “caracteriza clara tentativa de contornar a proibição legal”, alegando que existem registro que provam o argumento. Valentina ainda acusa Myrella de perseguição política, alegando que teria sido transferida de setor por influência da nobre, além de dizer que Myrella recebe por horas extras não trabalhadas.
A denúncia foi acatada por maioria de votos. Nas redes sociais, a população baririense não escondeu o descontentamento com a câmara. Dezenas de mensagens condenando a abertura da CP foram manifestadas nas redes sociais do Noticiantes. “Se o prefeito não tomar cuidado, daqui a pouco vão cassar ele. Se o promotor mandou arquivar, porque mesmo assim quer cassar a vereadora? Pelo amor de Deus! Está na cara que é perseguição isso”, diz um internauta. “A ordem de um promotor não vale nada? Esse grupo político quer dominar a cidade, mas não se esqueçam que são só quatro anos e passa rápido”, diz outro comentário.

Posse da suplente e formação da CP
Antes da leitura da denúncia na íntegra, foi dada posse a suplente de Myrella pelo União Brasil, Ivani Maria de Carvalho. Pela segunda vez, Ivani pediu exoneração temporária da Diretoria de Administração, ao ser convocada pelo Legislativo.


Contrariando a recomendação do Ministério Público e o parecer da própria Procuradoria Jurídica da Câmara (veja abaixo), votaram favoráveis à petição de Valentina da Ambulância os vereadores Ricardo Prearo (PSD), Aline Prearo (Republicanos), Daniel de Madureira (PP), Laudenir Leonel (PL), Roni Romão (PL) e Gilson de Souza Carvalho (PSB). Apenas Leandro Gonzalez (Avante), Rubens Pereira dos Santos (PSD) e a suplente Ivani Maria (União Brasil), foram contrários ao recebimento da denúncia.
Por 6x3 votos, a Comissão Processante que pode resultar na cassação do mandato legislativo de Myrella Soares foi oficialmente aberta. Três vereadores foram sorteados para compor a CP, que ficou composta da seguinte forma: Leandro Gonzalez (presidente); Aline Prearo (relatora); e Rubens Pereira dos Santos (membro).


A denunciada (Myrella), terá o prazo de 10 dias para apresentar sua defesa prévia por escrito, indicando as provas que pretende produzir, inclusive com rol de testemunhas. Decorrido o prazo de defesa, a comissão apresenta o relatório inicial sobre a continuidade ou não do processo, que deve ser apreciado e votado pelos demais vereadores em sessão ordinária. 

Myrella sofreu agressão em seu próprio local de trabalho
Myrella Soares ficou internada por aproximadamente 15 dias após ter sido agredida na primeira semana do ano em sua sala no Soma 1, sede da Diretoria Municipal de Saúde. Servidora pública de carreira, ela estava trabalhando na manhã do dia 03 de janeiro de 2025, quando teria sido surpreendida pela motorista Valentina Navarro, que teria investido contra a vereadora em um momento de tensão.
Segundo o relato de Myrella, a agressora a derrubou no chão, fator que fez com que suas costas e cabeça sofressem diretamente o impacto. A vereadora alega ter sido atingida por socos e chutes, além das ofensas verbais. Com histórico de problema na coluna (escoliose), a agressão sofrida agravou a comorbidade. 
Após a agressão, Myrella acionou a Justiça e pediu proteção contra Valentina. O Judiciário acatou a medida cautelar e impediu Valentina de se aproximar de Myrella, impondo a ela distância mínima de 200 metros da vereadora. A motorista também ficou proibida de frequentar o Soma 1 (local da agressão), Central de Ambulâncias e Câmara Municipal de Bariri, devendo guardar distância mínima de 50 metros desses locais. O descumprimento das medidas pode acarretar na prisão preventiva da acusada.

Promotor pede arquivamento da denúncia e abre investigação contra Valentina, mas parecer não é lido em plenário

Em 04 de abril, o Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Promotor de Justiça dr. Nelson Aparecido Febraio Junior, enviou à Câmara Municipal de Bariri um documento intitulado “Promoção de Arquivamento”. O ofício de 09 páginas alega que a Promotoria apurou a narrativa descrita por Valentina na representação contra Myrella, classificando os argumentos da denunciante como “infundados” e solicitando o imediato arquivamento.

“Os fatos trazidos na representação por Valentina Fátima João Navarro merecem imediato arquivamento por inexistência material dos fatos (...). Após apuração, tem-se que se trata de denúncia absolutamente infundada. A vergonhosa representação deduzida em face de Myrella apresenta um nítido interesse pessoal de Valentina, onde visa apenas atacar, sem um mínimo de lastro probatório, sua própria vítima de agressões físicas. Agora, pretendeu usar a máquina estatal para novamente praticar atos de violência contra a sua mesma vítima (desta vez, moral). Uma descrição fática baseada em suposições criadas pelo próprio narrador em que se tenta dar interpretações de vídeos de redes sociais. Lamentável”, alegou dr. Nelson.


Para apurar o caso, o MP convocou a ex-diretora de Saúde, Ana Paula Falcão, para uma oitiva no Fórum. Na promotoria, Ana Paula alegou que Myrella permaneceu exercendo sua função de “assistente administrativa” na Saúde Municipal, a mesma função que exercia no Banco do Povo. Por conta da alta demanda da Saúde, Myrella precisou trabalhar aos finais de semana para fazer diversos tipos de levantamentos solicitados por Ana Paula – fator que justifica o pagamento de horas extraordinárias.
A promotoria também abriu investigação contra Valentina por “comunicação falsa de crime”, por ter apresentado “fatos de que tinha absoluta ciência da inexistência, com nítido propósito de continuar praticando atos de violência contra a mesma vítima que outrora agrediu covardemente”. A Polícia Civil de Bariri foi oficiada para apuração deste suposto crime praticado por Valentina.
A Promotoria também oficiou a Prefeitura Municipal de Bariri, requisitando imediata apuração e instauração de procedimento “para apuração cabal de todas as horas extraordinárias prestadas por Valentina nos últimos cinco anos a fim de se apurar eventual recebimento irregular a ensejar adoção de providências cabíveis”. 
O parecer de dr. Nelson não foi lido pela Mesa Diretora – fato que causou estranheza, já que no mês anterior, o Ministério Público também enviou correspondência à câmara “pedindo providências” sobre a conduta do vereador Gilson de Souza Carvalho, acusado de disseminar informações falsas ao atribuir a morte de um recém-nascido da Santa Casa de Bariri à suposta falta de oxigênio do hospital.
Nesta oportunidade, a Mesa Diretora leu o ofício do promotor na íntegra e abriu Comissão Processante contra Gilson, processo que já se encontra arquivado. 

Procurador Jurídico da Câmara também se manifesta a favor do arquivamento

O Procurador Jurídico da Câmara Municipal de Bariri, dr. Pedro Carinhato, acompanhou a manifestação do MP e recomendou o arquivamento da denúncia.

“Narra o Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, senhor Nelson Aparecido Febraio Junior, que, após a oitiva da ex-diretora de saúde, senhora Ana Paula Rodrigues de Arruda Falcão, a realização de horas extras teria ocorrido por determinação da ex-chefe da Vereadora denunciada, também atuante como servidora pública municipal. Além disso, parece-me fora de dúvida – em consonância o entendimento assinalado pelo citado Promotor de Justiça – que a condição de agente político permite o acompanhamento diário e in loco de políticas públicas municipais. Assim, em relação ao conteúdo narrado, entendo não existir fato suficiente a ensejar eventual ato de improbidade administrativa, o que poderia levar a quebra de decoro e consequente cassação do mandato da Vereadora Myrella Soares da Silva”, alegou dr. Pedro. 

 

“Mentiroso e ladrão de partido”: Myrella acusa candidato de manipular vereadores 

Sem citar nomes, Myrella Sores disparou contra um candidato à prefeito que concorreu nas eleições municipais do ano passado. Para a nobre, essa pessoa não superou a derrota nas urnas e trama, com um grupo de vereadores de sua base, para articular e influenciar decisões políticas dentro do Legislativo. 
A nobre relembrou uma história que correu durante a campanha eleitoral do ano passado e causou polêmica na cidade: um rumor que o tal candidato teria quebrado propositalmente uma imagem de Nossa Senhora por intolerância religiosa.

“Não vejo como pessoas que se consideram cristãs católicas podem apoiar um sujeito desse, que para conseguir um partido para concorrer às eleições, teve que mentir uma pesquisa política. Através de uma manobra ridícula no Estado, conseguiu o partido pelas costas do Carlos Sampietro. Se a pessoa começa roubando desde o partido, vocês acham que vai acontecer o que com a cidade, se um dia esse sujeito chegar até a prefeitura? Vocês podem me tirar do plenário, têm poder para isso. Mas enquanto cidadã, na rua, eu vou ser oposição ferrenha a esse sujeito e a esse grupo político. Vocês vão ter que prestar contas à população e à sociedade em geral, por tudo isso que está acontecendo comigo. Sei que não mereço esse tipo de retaliação”, finalizou Myrella.


Laudenir Leonel, e Daniel de Madureira rebateram o discurso de Myrella . “Não tenho nada contra a senhora, pelo contrário, tenho uma admiração muito grande, mas não sou manipulado por ninguém não”, disse Sertão. 
Daniel alegou que não vê nenhum dos três grupos políticos que perderam a eleição “dando trabalho” ao prefeito Airton Pegoraro. “Não vejo Fernando Foloni dando trabalho; não vejo Neto Leoni dando trabalho; não vejo o Edcarlos dando trabalho. A culpa é da oposição? É dos vereadores? Não precisa ficar jogando na conta nossa!”.