Vereador Edcarlos Santos, relator da CP que culminou na cassação de Abelardinho, destaca a importância da Câmara de Bariri diante das últimas decisões judiciais desfavoráveis ao ex-prefeito
Noticiantes: Como relator do processo que culminou na cassação unânime do ex-prefeito Abelardo Simões, como você avalia a tentativa do ex-prefeito em anular o impeachment e a decisão judicial desfavorável a ele?
Edcarlos: Entendo que todos temos o direito à ampla defesa e ao contraditório em todas as fases de qualquer processo, o que foi devidamente observado no âmbito da Comissão Processante. Neste caso ele usou um recurso previsto em lei ao tentar anular o julgamento junto ao Poder Judiciário, que tem por pressuposto exatamente a imparcialidade. Este órgão imparcial entendeu que os argumentos da defesa de Abelardo mais uma vez não se sustentavam e por este motivo a expectativa de seu retorno foi apenas um balão de ensaio, que frustrou seus apoiadores, mas garantiu o efetivo exercício da justiça.
Noticiantes: O ex-prefeito Abelardinho virou réu após a Justiça acatar a Ação de Improbidade Administrativa ajuizada pelo Ministério Público. Na denúncia, a promotoria cita trechos da Comissão Processante para embasar as acusações contra o ex-prefeito. Neste sentido, como você avalia a importância da CP ocorrida ao final do ano passado?
Edcarlos: Em primeiro lugar é importante ressaltar que a câmara tomou uma decisão por unanimidade, ou seja, todos os vereadores tomaram ciência da gravidade da situação, do sistema de corrupção que se instalou na prefeitura de Bariri sob o comando do ex-prefeito Abelardo, de forma que decidiram romper de vez e ficar bem longe dessa sujeira. A Comissão Processante foi fundamental principalmente em dois aspectos: primeiro, frear a roubalheira, na medida em que poderíamos estar em uma situação ainda pior se estes desvios de recursos não fossem interrompidos; segundo, porque a cassação resultou na perda do foro privilegiado do prefeito, permitindo assim, que ele responda como pessoa comum frente aos trabalhos competentes que vêm sendo desenvolvidos pelos Promotores de Justiça do GAECO, e não ali isolado em um processo separado na segunda instância.
Noticiantes: A defesa de Abelardinho tentou, por muitas vezes, descredibilizar o trabalho da Comissão Processante e do Legislativo, de um modo geral. Houve uma manobra para que você e a vereadora Myrella Soares não participassem dos trabalhos da CP. Como você avalia esta situação?
Edcarlos: Essa foi uma estratégia que deixou claro que o ex-prefeito não tinha como se defender das acusações com argumentos consistentes, tanto que das 10 testemunhas arroladas por ele na Comissão Processante, apenas três foram testemunhar em seu favor. Já que ele não tinha como se defender, partiu para o ataque; aliás essa é uma de suas formas de agir: na frente sorriso, abraços, fala mansa, porém, por trás, armação, atentado contra empresário, tentativa de agressão a vereador. Apesar de tudo isso, nós resistimos, a democracia prevaleceu e a justiça está sendo feita.
Noticiantes: Para cassar o ex-prefeito, os vereadores julgaram procedente a denúncia de quebra de decoro protocolada por Gilson de Souza Carvalho. Como a Comissão Processante chegou a esta conclusão?
Edcarlos: A câmara já estava fazendo um trabalho de fiscalização há bastante tempo; tínhamos informações de que algo estava muito errado nessa administração. Especificamente sobre a Latina, empresa de limpeza, este vereador já tinha levantado dúvidas desde março de 2022, pois os números não batiam e a margem de lucro era muito alta, algo que apontava para irregularidades seríssimas. Também foi nesta mesma linha que apontei as irregularidades na licitação da montagem de barracas e na licitação de segurança patrimonial. Porém, faltavam mais detalhes e provas, algumas em relação as quais somente foi possível ter acesso com a atuação do Ministério Público, que constituiu a verdadeira base do nosso trabalho na Comissão Processante. A tarefa da Comissão Processante foi apenas trazer à luz aquilo que estava escondido, não restando dúvidas que o ex-prefeito Abelardo agiu de forma a quebrar o decoro do cargo que ocupava - tanto que sua cassação foi por unanimidade, o que revela que nenhum vereador teve dúvidas sobre o que apontava o Parecer do Relator.
Noticiantes: Abelardinho saiu do comando do Executivo após ter seu mandato cassado, mas há rumores de que ele continua tendo grande influência na prefeitura. Você concorda com essa afirmativa?
Edcarlos: Fica difícil não acreditar em tais afirmativas, quando a estrutura montada pelo ex-prefeito Abelardo permanece. As mesmas caras, os mesmo vícios, o mesmo modus operandi, a mesma letargia, o mesmo descaso, a mesma incompetência! Não seria possível outra pessoa cometer tantos erros de forma idêntica, o que mostra que ele continua plenamente atuante na administração pública. Também existem informações que nos chegam sobre supostas visitas que os gestores da prefeitura realizam em sua casa. Ele não precisa vir à prefeitura, pois fazem questão de ir até ele. Quem comanda a cidade ainda é o ex-prefeito Abelardo e, infelizmente, o Fernando ainda continua exercendo, de fato, um cargo de mera expectativa. Neste ponto, o fato de existirem pessoas citadas na recente ação de improbidade movida pelo Ministério Público, que continuam a ocupar cargos da mais alta confiança na Administração é preocupante. O Ministério Público deve se ater a isso.
Noticiantes: Você foi um dos quatro vereadores que votaram para acolher a primeira denúncia de quebra de decoro de Abelardinho, em abril do ano passado. Na oportunidade, a denúncia acabou arquivada após empate. No entanto, a segunda denúncia foi acatada por unanimidade. O que você acha que mudou da primeira para a segunda denúncia?
Edcarlos: O que fez a real diferença foi a pressão popular que tomou conta das redes sociais e o papel da imprensa, principalmente o Noticiantes, que escancarou a corrupção implantada na prefeitura de Bariri pelo ex-prefeito Abelardo. Isso fez abrirem os olhos e os ouvidos dos demais vereadores para o fato de que algo estava muito errado, sendo que a gota d’àgua foi a menção do nome do ex prefeito nas delações feita pelos presos na operação do GAECO. A permanência de Abelardo no cargo era algo plenamente impossível em vista do escândalo de corrupção que envolvia, de forma direta, o seu nome e de seus companheiros, seja pela ótica da população ou mesmo dos vereadores.
Noticiantes: Se tornou de conhecimento público que vários vereadores acabaram ameaçados antes, durante e após a Sessão Julgamento. Como você lida com ameaças?
Edcarlos: Ameaça é atitude dos covardes. Essa não é a primeira vez que sofro ameaças na política, porém, quem se propõe a fazer a coisa certa, deve estar preparado para lidar com esse tipo de gente mau caráter, inescrupulosa, que quer o poder a todo custo e que realiza o que for preciso para chegar e se manter no poder. Aos corruptos, que rastejam nos calabouços e porões da política, o que resta é a sombra, atuar com rasteiras, armadilhas, laços e com isso atrasar o município. É muito triste saber que enquanto uns estão correndo atrás de recursos, de leis, de projetos, de melhorias, de ouvir a população, outros entram na política apenas para seus próprios benefícios. Com relação às ameaças que sofro, eu apenas sigo com fé e coragem, confiando naquele que é o dono da minha vida e que me protege em todo o tempo: Deus.
Noticiantes: O Noticiantes agradece sua participação e deixa o espaço aberto para suas considerações finais.
Edcarlos: Agradeço o Noticiantes pela oportunidade e os parabenizo pelo excelente trabalho que vocês estão realizando. Quero agradecer também à população baririense pelo carinho que recebo constantemente no dia a dia do mandato ativo. O meu objetivo desde o primeiro dia de trabalho como vereador, foi o de defender a população, criando leis e também trazendo recursos: São mais R$ 3,5 milhões em 3 anos! Estou presente nos vários pontos de atendimento à população e, sempre que chamado, faço questão de ouvir e dar voz ao povo, correndo junto com as pessoas em busca de um melhor atendimento. Fiscalizar é a primeira função do legislador e, nessa gestão, ficou evidente que o povo estava sendo passado para trás, pois tinha muita corrupção e falcatrua; todo este dinheiro desviado poderia estar sendo transformado em consultas médicas, cirurgias, exames, equipamentos, veículos e serviços públicos de qualidade. Diante da gravidade disso, não tivemos outra alternativa a não ser cassar o prefeito. Gostaria que a nossa história não tivesse essa página, pois Bariri já sofreu muito com as consequências da instabilidade política em razão de fatos que carimbam as páginas policiais e os rostos de ex-prefeitos. Mas, cremos em dias melhores e, finalizado este ciclo, devemos estar prontos para um novo ciclo que se avizinha.
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