Justiça acata denúncia e Abelardinho vira réu por organização criminosa, corrupção e outros crimes; Gaeco também mira o ex-superintendente do Saemba, Eder Cassiola

Justiça acata denúncia e Abelardinho vira réu por organização criminosa, corrupção e outros crimes; Gaeco também mira o ex-superintendente do Saemba, Eder Cassiola

O cerco se fechou novamente em Bariri na última semana de 2024. No apagar de luzes do ano passado, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), por meio dos promotores Nelson Aparecido Febraio Junior, Gabriela Silva Gonçalves Salvador e Ana Maria Romano, ofereceram denúncia, na esfera penal, contra o ex-prefeito de Bariri, Abelardo Maurício Martins Simões Filho (MDB). 
O documento de 144 páginas detalha a participação do ex-prefeito no esquema criminoso de fraudes licitatórias ocorrido desde o primeiro dia de seu mandato, iniciado em janeiro de 2021. A peça jurídica contou com o testemunho dos servidores públicos Celso Carlos Cavalieri, Aparecida Eliana Cardoso Pires, Sincler Aparecido Policarpo e Elder Abel Viana.
Com a perda do foro privilegiado devido à sua cassação pela Câmara Municipal, em novembro de 2023, o processo de Abelardinho retornou à origem (Judiciário local), fator que desencadeou a Ação Penal Pública através da 2ª Vara Judicial da Comarca de Bariri.
Em 08 de janeiro, a Justiça acatou a denúncia conforme decisão do juiz João Pedro Vieira dos Santos. Com isso, Abelardinho se torna réu por sete crimes (descritos ao lado). Ele terá 10 dias para manifestar defesa e arrolar testemunhas. Diante do rol de provas, o Gaeco estabeleceu multa de R$ 11 milhões por dano ao erário. Abelardo pode ter que devolver o valor milionário aos cofres públicos. Por fim, a promotoria também estabelece a perda da função pública do ex-prefeito de Bariri.
O ex-prefeito se junta aos outros cinco réus do “Caso Latina”, também denunciados pelo Gaeco: Abílio Giacon, Flávio Coletta, Giuliano Griso, Paulo Ricardo Barboza e Alexandre Gonçalves. O quinteto foi condenado pela Justiça em novembro de 2024. Somadas, as penas ultrapassam 85 anos de prisão.

 

Toc, toc, toc no Jardim Maria Luiza

Nove dias antes da Ação Penal em face de Abelardinho ser apresentada, o Gaeco realizou operação de busca e apreensão na casa do ex-prefeito de Bariri, no Jardim Maria Luiza. Com apoio do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), a residência de Abelardinho foi visitada por agentes na manhã do dia 18 de dezembro.
Em nota, o Ministério Público confirmou que a busca e apreensão foi deflagrada em face da Operação “Prenunciado III”. Na oportunidade, foram cumpridos cinco mandados de buscas e apreensão, e um de prisão temporária, nas cidades de Bariri, Itaju e Limeira.
Durante a busca e apreensão, os agentes encontraram munições de grosso calibre entre os pertences de Abelardinho. Por conta disso, o ex-prefeito foi detido e obrigado a comparecer na Delegacia de Polícia Civil de Bariri para prestar esclarecimento. 


Segundo informou a defesa de Abelardinho, as munições pertenciam ao falecido pai do ex-prefeito, que era delegado. Ele foi ouvido e, após assinatura de termo circunstanciado, foi liberado para responder o processo em liberdade.  

 

Soldado Gallo preso em Limeira

O cumprimento de mandado de prisão em flagrante ocorrido em 18 de dezembro aconteceu em Limeira-SP. O alvo foi Nivaldo Carlos Gallo Junior, vulgo “Soldado Gallo”. Ele foi o Policial Militar que dirigiu o automóvel utilizado no dia 02 de junho de 2023, durante o atentado criminoso contra o empresário Fábio Yang.


O Capitão da PM executor do atentado, Alexandre Gonçalves, está preso desde setembro do ano passado, sentenciado a pena de 15 anos de prisão em regime fechado pelo crime. Alexandre contratou Nivaldo para ser o motorista do veículo, conforme revelou a investigação. 

 

Eder Cassiola vira alvo

Também no Jardim Maria Luiza, outra pessoa que recebeu a visita do Gaeco em 18 de dezembro de 2024, foi o ex-superintendente do Serviço de Água e Esgoto do Município de Bariri (Saemba), Eder Cassiola. 
Embora o Ministério Público não tenha entrado em detalhes sobre a suposta participação de Edinho no esquema de fraude em licitações, vale ressaltar que o ex-superintendente já havia sido citado no processo da Latina anteriormente.
Um relatório juntado aos autos do processo em 05 de junho de 2024, revelou informações inéditas a partir de mídias extraídas de um notebook utilizado por Paulo Ricardo Barboza (dono da Latina) que foi apreendido por agentes do Gaeco.
As informações obtidas deram conta que Edinho recebeu em mãos, de um funcionário da Latina, um pen drive que continha arquivos referentes ao edital e termo de referência da licitação fraudados, para favorecer a empresa de Limeira no certame. 
Em outro momento, Paulo Ricardo Barboza orienta um funcionário a pedir a ajuda de Edinho para retirar Sincler Policarpo (servidor público de carreira) da gestão do contrato. O incômodo do dono da Latina com Sincler ocorreu porque o servidor denunciou inúmeras irregularidades praticadas na limpeza pública durante seu breve período na fiscalização do contrato.

 

Compra irregulares e negociata da merenda:outras polêmicas de Edinho

Em junho de 2022, o Ministério Público abriu inquérito para investigar meio milhão de compras irregulares ocorridas na autarquia Saemba durante a gestão de Eder Cassiola. O inquérito tomou como base o relatório final de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI), realizada pelo Legislativo. A investigação encontrou 405 processos de compras de produtos e serviços realizados de maneira irregular a autarquia – ou seja, com dispensa de licitação, sem seguir as determinações da Lei das Licitações.
Já em março de 2023, Eder Cassiola viu seu nome envolvido em outra polêmica. Um áudio do qual a reportagem do Noticiantes teve acesso exclusivo, atribuído à Vagner Mateus Ferreira (ex-vereador e ex-prefeito interino de Bariri), revelou um suposto esquema de negociação envolvendo o contrato de fornecimento de merenda escolar do município, com participação de Eder Cassiola.
Na mídia, Vaguinho afirma que Edinho seria o responsável pela intermediação de todos os contratos firmados pela municipalidade – inclusive tendo sido designado, pelo então prefeito Abelardinho, para a negociação relacionada ao fornecimento do serviço de merendas escolar (contrato no qual os cofres públicos desembolsam mais de R$ 6 milhões na gestão passada).
O ex-vereador ainda afirma que a negociata teria ocorrido no posto “Frango Assado”, próximo à saída de São Paulo. Segundo o relato, deveriam estar presentes Abelardo Simões, além de Eder Cassiola e Vagner Mateus Ferreira. No entanto, de última hora, Abelardinho não teria aparecido – aparentemente delegando à Edinho a tarefa de fechar o acordo. Como comemoração ao resultado da negociação, o proprietário da empresa de merenda teria entregue quantias em dinheiro para a realização da Festa do Peão de 2022. 

“Tudo é o Edinho. Merenda escolar, tudo. Tudo que passa lá. A merenda eu sei, porque eu levei o Edinho no Frango Assado, em São Paulo. Montei no carro:
- Quem que vai? Cadê o Abelardo?
- O Abelardo não vai, vai eu. 
- Eu e o cê, só? 
Levei ele lá. Voltando de São Paulo, tem um Frango Assado às direita, ali, já saindo de São Paulo. Ele negociou com o cara, o cara lá dos Estados Unidos.” – áudio de Vagner Mateus Ferreira divulgado em março de 2023.

 

Crimes de Abelardinho

Organização criminosa
A partir de janeiro de 2021 (início do mandato Abelardo-Foloni em Bariri) até meados de julho de 2023, Abelardo Maurício Martins Simões Filho promoveu, constituiu e integrou, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa, de forma estruturada e caracterizada pela divisão de tarefas. O objetivo foi obter vantagem mediante a prática de infrações penais.

Frustração ao caráter competitivo de licitação 
Em conjunto com Paulo Ricardo Barboza (proprietário da Latina Ambiental), Abílio Giacon Neto (empresário da coleta de lixo), Flávio Muniz Della Coletta (ex-chefe de gabinete) e Giuliano Griso (ex-diretor de obras), Abelardinho frustrou e fraudou o processo licitatório que contratou empresa especializada para limpeza pública no município. A intuito da fraude foi obter vantagem para Paulo Ricardo Barboza e para a empresa Latina Ambiental. 
Por ordem de Abelardinho, o pregão presencial que contratou a Latina foi realizado na forma presencial ao invés de eletrônico, reduzindo de maneira significativa a concorrência. No dia do pregão, o Capitão da Polícia Militar, Alexandre Gonçalves, foi contratado pela Latina para que, com sua presença, amedrontasse e até mesmo ameaçasse os demais concorrentes.  Na frente do Paço Municipal de Bariri, Alexandre expulsou pessoas que tinham o objetivo de participar do certame.

Fraude na execução dos contratos 
Entre 17 de junho de 2021 e 17 de fevereiro de 2022, Abelardinho, junto de Paulo Ricardo Barboza e Giuliano Griso , fraudou as cláusulas do contrato de licitação com a Latina Ambiental, prejudicando diretamente o município de Bariri, diminuindo as quantidades e qualidade do serviço prestado.  Conforme apontou o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, a fraude gerou prejuízo de R$ 455.527,65 (quatrocentos e cinquenta e cinco mil quinhentos e vinte e sete reais e sessenta e cinco centavos) aos cofres públicos.
Mesmo sem cumprir os requisitos, a Latina emitia notas fiscais, descrevendo serviços não prestados, para receber da prefeitura, com consentimento de Abelardo. À Latina, a prefeitura de Bariri pagou, por exemplo, o total de R$ 141,5 mil pelo serviço não prestado de triturador de ganhos, e R$ 76,8 mil por serviços não prestados de podas de árvores.  

Corrupção passiva 
Com o auxílio de Abílio Giacon Neto e  Flávio Muniz Della Coletta, Abelardinho recebeu vantagem indevida (valores em propina). Os valores eram recolhidos em espécie na sede da Latina Ambiental, em Limeira-SP, por Abílio e Flávio. 
A propina era paga para o prefeito manter ativo o contrato da Latina, com todas as fraudes em sua execução.  Abelardo tirou proveito de aproximadamente R$ 233 mil a título de propina.

Coação no curso do processo 


Em 02 de junho de 2023, Abelardinho, junto de Paulo Ricardo Barboza, Abílio Giacon Neto, Alexandre Gonçalves (Capitão da PM) e Nivaldo Carlos Gallo Junior (Soldado da PM), utilizaram de violência e grave ameaça contra a vítima Fábio Yang, empresário baririense que denunciou diversas fraudes da Latina Ambiental aos órgãos competentes.  Os envolvidos fizeram reuniões na própria prefeitura de Bariri para organizarem o atentado contra a vítima. 

Roubo 
No dia 02 de junho de 2023, o empresário Fábio Yang teve sua casa invadida, foi agredido e teve o aparelho celular roubado por um indivíduo encapuzado, que a investigação identificou posteriormente como sendo Alexandre Gonçalves. 
Ele foi contratado pelo dono da Latina Ambiental para ameaçar a vítima de morte, uma espécie de “cala a boca” contra as denúncias que Fábio registrou expondo a fraude na licitação. O atentado ainda teve a participação do soldado Nivaldo Carlos Gallo Junior, que dirigiu o veículo utilizado na fuga de Alexandre.
Em interrogatório, Paulo Ricardo Barboza confessou que só agiu dessa forma devido à pressão de Abelardinho, para que desse “um jeito” em Fábio.