Myrella Soares leva ao Plenário súplica de mães sobre protocolo da Saúde Municipal de Bariri que dificulta o atendimento pediátrico de crianças e questiona: “O que será que a administração tem contra as crianças do nosso município?”

Myrella Soares leva ao Plenário súplica de mães sobre protocolo da Saúde Municipal de Bariri que dificulta o atendimento pediátrico de crianças e questiona: “O que será que a administração tem contra as crianças do nosso município?”

“Quero começar a minha fala com uma indagação: o que será que a administração pública tem contra as crianças do nosso município?” – Myrella Soares (União Brasil)
 

Foi com essa pergunta que a vereadora iniciou sua fala na tribuna da Sessão Ordinária desta segunda-feira (03). Myrella tocou em um tema que há tempos vem sendo alvo de reclamações em Bariri: o protocolo adotado pela Diretoria Municipal de Saúde em relação aos atendimentos de médicos pediatras. Mães indagam porque precisam passar os filhos em um clínico geral antes de passarem pelo pediatra.

“Em Bariri, tivemos crianças em situação desumana na creche Marina Budin; tivemos criança esquecida em ônibus; tivemos contratação irregular de médica pediatra. Agora, o que é mais impressionante: se uma mãe quiser levar sua criança para passar numa consulta médica com pediatra especialista, ela é obrigada a passar por um clínico geral para pegar encaminhamento e depois levar essa criança no pediatra. Eu queria que alguém pudesse me explicar onde que no SUS ou no Ministério da Saúde está escrito que uma mãe, com uma criança com febre, é obrigada a passar por um clínico geral para saber o que a criança tem, para depois encaminhar ao pediatra. Isso é uma coisa extremamente absurda; é uma coisa ridícula”, explanou a vereadora. 

Nas redes sociais, mães que vivenciaram a experiência ao tentarem marcar consulta para seus filhos reagiram ao discurso de Myrella.

“Eu achei ridículo isso! Fui marcar pediatra para minha filha e fui surpreendida com isso. Infelizmente, isso desanima muito e fica cada vez mais difícil acreditar em políticos aqui dentro”, desabafou uma mãe. “Já é difícil vaga com clínico geral aqui em Bariri. Agora, as crianças também ter que passar com eles antes; vai piorar as coisas. O certo é passar crianças direto com os especialistas –  aliás, acho o cúmulo a gente ter que passar com clínico antes para pegar guia com especialista”, comentou outra internauta. 

Myrella relembrou o caso da profissional clínica geral contratada para realizar atendimento pediátricos pela administração. Na época em que o caso veio à tona, em julho do ano passado, a atuação da médica passou a ser questionadas após denúncias de supostas negligencias cometidas durante os atendimentos. 
A mãe de uma criança de três meses de idade afirmou que a clínica geral passou um medicamento impróprio para a faixa etária da criança – fator que foi constatado na Farmácia Municipal. Após a vereadora denunciar o caso ao Ministério Público, a médica foi afastada de suas funções pela Diretoria Municipal de Saúde em setembro de 2023.

“Da época que a gente vem debatendo aqui que as crianças precisam ter atendimento de qualidade na pediatria, muita gente me apedrejou por conta da doutora que fazia o atendimento anteriormente. O problema nunca foi a doutora; o problema foi o contrato irregular que essa administração fez”, explicou Myrella.


Segundo a vereadora, o contrato do pediatra atual que atende a demanda de toda a Rede Municipal de Saúde em Bariri, está prestes a se encerrar. Com isso, a população teme que as crianças fiquem desassistidas de um profissional especializado.


“O município tem recursos sim para contratar mais de um profissional. Como uma cidade de 35 mil habitantes, que boa parte são crianças, tem apenas um médico especialista na pediatria? Agora, veio outra notícia de que, muito provavelmente, o contrato desse médico se encerra daqui no máximo 15 dias. Ou seja, a cidade vai ficar a pé. Não temos informação se foi feita a abertura de uma nova licitação para contratação de novos médicos. A gestão dá um passo para frente e dois para trás. É desanimador. O prefeito e seus diretores já mostraram, por mais de uma vez, sua irresponsabilidade, sua incompetência. Mesmo assim, continuam teimando porque não é com o filho deles. Podem ter certeza que, se o filho do prefeito e dos diretores passar mal, eles não vão passar a criança primeiro no clínico geral para ver se tem vaga. Eles vão levar na Unimed, com médico especialista, onde rapidinho vão atender. É impressionante como essa administração tem o talento de dar um tiro no próprio pé. Eles brincam com as vidas das pessoas. Essa politicagem burra afeta a vida dos que mais precisam. Nossa saúde está sucateada”, finalizou Myrella. 

 

O que diz a Diretoria de Saúde?

Questionada por nossa reportagem, a pasta comandada por Irene Chagas enviou o ofício no qual o protocolo do atendimento da pediatria foi alterado a partir de maio.

“Considerando que o Município não possui especialidade Médico Pediatra compondo quadro fixo de funcionários da rede, mesmo após tentativas de contratação via Concurso Público. Considerando que a busca por atendimentos com especialidade Pediatria vem apresentando aumento significativo. Considerando a baixa adesão dos pacientes ao acompanhamento de puericultura em suas unidades de saúde de referência. Fica determinado que a partir de 01 de maio de 2024, em busca da otimização na utilização das vagas disponíveis em serviço de pediatria, somente serão realizados agendamentos com esta especialidade na apresentação de guia de encaminhamento médico, exceto caso de primeira consulta de puericultura do RN”, diz o documento.

A diretoria garante que não haverá interrupção do serviço pediátrico, pois o novo processo licitatório já foi concluído.

 

Mudança na prescrição do Daflon afeta pacientes

Além do protocolo da pediatria, Myrella Soares também externou descontentamento com outras situações problemáticas na Saúde Municipal de Bariri. A vereadora relembrou a polêmica questão do medicamento Daflon, algo que repercute no município desde janeiro. 
O medicamento é utilizado por pacientes com problemas vasculares; seu uso permite o aumento da velocidade de circulação sanguínea nas veias. Em todo o território nacional, o Daflon não precisa necessariamente ser receitado por um médico vascular; clínicos gerais podem receitar normalmente o medicamento, porém, esse protocolo foi alterado em Bariri – o que causou dificuldade no acesso e reclamações dos pacientes que fazem o uso contínuo. Por determinação da Diretoria de Saúde, apenas ortopedistas e vasculares podem prescrever o Daflon. 

“O Daflon não é um medicamento tarja preta e pode ser vendido normalmente em qualquer farmácia, sem receita. Porém, com o protocolo que a pessoa precisa passar pelo especialista, seja vascular ou ortopedista. Como o município não tem médico vascular na rede, os pacientes acabam tendo que fazer essa triagem com o ortopedista. É um absurdo, porque passa por cima da conduta do médico clinico geral. O dr. Moreschi, ortopedista da rede, atende, mas a pessoa que precisa não consegue agenda para logo. A última vez que fui sondar, tinha mais de 400 pacientes aguardando o atendimento, gente que já fazia o uso da medicação há muitos anos, gente idosa”, explicou Myrella à nossa reportagem.


O assunto do Daflon já havia sido abordado também pelo vereador Edcarlos Santos (PP). Em sua página no Facebook, Edcarlos publicou um vídeo, em 11 de janeiro, no qual fala sobre o assunto. A publicação sugere que um dos motivos da mudança do protocolo para prescrição do Daflon é a crise financeira acentuada que atinge a Prefeitura Municipal de Bariri, pois o medicamento é fornecido pelo Poder Público, através da Farmácia Municipal. Como a demanda de pacientes que fazem uso do Daflon em Bariri é grande, a conclusão é que gestão Fernando Foloni alterou o protocolo na prescrição do medicamento para reduzir o gasto com a compra do mesmo. 

“Cria-se uma demanda totalmente desnecessária. Direto o pessoal reclamava que não tinha Daflon no posto porque a procura era muito grande. Poderiam ter alterado o protocolo, mas sem cortar a entrega da medicação e, devagarzinho, fazendo essa nova orientação à população. Mas eles querem só ganhar tempo. Hoje em dia, na prateleira da farmácia, tem um monte de medicamento e os pacientes sem acesso. Fica tudo na prateleira porque está difícil de pegar; muita gente acaba desistindo do tratamento por causa disso”, completa a vereadora. 


No portal “Sistema Integrado de Saúde” da Prefeitura Municipal de Bariri, consta que há 5.920 unidades do medicamento Daflon no estoque da farmácia Municipal até o fechamento desta edição. 

 

SOMA 2 x PSF 2 e PSF 4

Por fim o terceiro ponto na fala de Myrella na tribuna chama a atenção para a falta de médicos nas unidades de saúde dos bairros Domingos Aquilante (PSF 2), Santa Rosa (PSF 4) e Santa Helena (SOMA 2). A nobre alega que o SOMA 2 está tendo que atender a demanda médica dos PSFs 2 e 4. 

“Os PSFs têm um médico (clínico geral) que deveria atender a demanda do programa. Esses médicos teriam que fazer visita domiciliar para pacientes com dificuldade de andar, idosos, gestantes... esse serviço casa a casa é de prevenção. Quando o clínico geral atende na unidade, são só 12 pacientes para toda área de abrangência do PSF (de 4,5 mil a 6 mil pessoas). Então, como vai suprir a demanda só com 12 consultas? Temos informação que, infelizmente, a parte da visita domiciliar é muito pouco feita; os agendamentos dos postos são precários, em pouca quantidade; direto os médicos não estão, não há profissionais para cobrir férias. Com isso, todos esses pacientes migram para o Soma 2, que acaba tendo de fazer o serviço deles e mais dos outros dois PSFs. Não é justo, porque sobrecarrega demais. O que era para ser prevenção, acaba gerando mais demanda para o SOMA 2. É muito desorganizado”, conclui. 


Myrella ainda relembrou que uma das promessas de campanha da chapa Abelardo-Foloni, foi colocar médico para atendimento da população no PSF 2 até às 22h – algo que não se concretizou até o presente momento.