Abelardinho foi o mandante do crime contra empresário e recebia propinas mensais para manter licitação de limpeza pública, afirma proprietário da Latina Ambiental em interrogatório

Abelardinho foi o mandante do crime contra empresário e recebia propinas mensais para manter licitação de limpeza pública, afirma proprietário da Latina Ambiental em interrogatório
Abelardinho foi o mandante do crime contra empresário e recebia propinas mensais para manter licitação de limpeza pública, afirma proprietário da Latina Ambiental em interrogatório

Sem rodeios, o proprietário da Latina Ambiental, Paulo Ricardo Barboza, deu o nome do Prefeito Municipal de Bariri, Abelardo Maurício Martins Simões Filho, revelando detalhes do esquema de propina que mantinha com Abelardinho para manutenção da licitação de limpeza ambiental no município. 
Durante interrogatório ocorrido em 1º de setembro, que contou com a presença de promotores e advogados, Barboza ainda confirmou que Abelardinho seria o mandante do atentado criminoso contra o empresário Fábio Yang, ocorrido em 02 de junho, em represália às denúncias da Latina veiculadas pelo Jornal Noticiantes. 
Com base nas declarações de Paulo Ricardo Barboza, o Ministério Público, através dos  promotores Nelson Aparecido Febraio Júnior, Gabriela Silva Gonçalves Salvador e Ana Maria Romano, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), pediu instauração de investigação criminal em face do prefeito de Bariri, em documento enviado ao Tribunal de Justiça de São Paulo e Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) nesta segunda-feira (04).
Por ocupar o cargo de Chefe do Executivo, Abelardinho não pode ser investigado em Bariri, uma vez que possui a chamada prerrogativa de função. O foro por prerrogativa de função é também chamado de foro privilegiado; e designa as condições especiais de julgamento que determinados cargos públicos possuem em detrimento de suas funções. Por conta disso o GAECO pediu a abertura do processo criminal diretamente através da Procuradoria-Geral de Justiça.
“Em vista da existência de pessoas presas temporariamente, requeremos extrema urgência na comunicação ao Tribunal, inclusive para verificação de desmembramentos das investigações a fim de que os crimes eventualmente praticados pelo Prefeito Municipal Abelardo tramitem pelo Tribunal de Justiça e, quanto aos demais envolvidos, perante a 2ª Vara Judicial de Bariri, haja vista o adiantado das investigações e pessoas presas”, solicita a promotoria. 
Até o presente momento, a Operação Prenunciados rendeu a prisão de três pessoas: Vagner Mateus Ferreira (ex-vereador de Bariri e apoiador político de Abelardinho); Paulo Ricardo Barboza (proprietário da Latina Ambiental); e Alexandre Gonçalves (Capital da Polícia Militar contratado por Barboza para intimidar o empresário Fábio Yang).
Caso a PGJ acate a manifestação, Abelardo Maurício Martins Simões Filho poderá responder pelos mesmos quatro crimes imputados contra Paulo Ricardo Barboza: ameaça; coação no curso do processo; roubo circunstanciado; e corrupção passiva. Além disso, a PGJ também pode pedir o afastamento do prefeito de Bariri, e colocar Abelardinho oficialmente no rol de réus da Operação Prenunciados. 

Como funcionava o esquema de propina?
Através de uma agenda apreendida em um dos imóveis ligados à Paulo Ricardo Barboza na megaoperação do GAECO deflagrada em 08 de agosto, foram encontradas anotações à mão de valores em dinheiro que o proprietário da Latina Ambiental destinava ao prefeito Abelardo Simões. Conforme a agenda, os valores pagos por Paulo Ricardo à Abelardinho variavam entre R$ 7.500,00 e R$ 20.000,00 mensais (totalizando R$ 215.450,00).  
No interrogatório, Paulo Ricardo indicou expressamente que o prefeito Abelardo passou a exigir dinheiro do contrato da Latina Ambiental, vencedora da licitação de limpeza pública:

Interrogador: O senhor pagava valores para pessoas da prefeitura por conta desse contrato? 

Paulo Ricardo: Olha doutor, de uma forma muito genérica, sem entrar muito no mérito da questão, SIM. 

Interrogador: E qual valor que o senhor pagava mensal?
Paulo Ricardo: Eu preciso olhar as planilhas.

Interrogador: Quem eram as pessoas e para quem o senhor destinava o dinheiro decorrente de um desvio de recursos públicos? 

Paulo Ricardo: Ah, doutor, isso é evidente, né!
 
Interrogador:
O senhor entregava o dinheiro para quem? 

Paulo Ricardo: Para o chefe, né. Senhor Abelardo.

“Paulo Ricardo informou que os valores eram pagos ao Prefeito Municipal Abelardo Simões a título de extorsão, demonstrando que seu próprio contrato e regulares pagamentos somente seriam mantidos na administração, acaso houvesse um acerto em dinheiro com o prefeito Abelardo”, diz a promotoria.

 

Insistência e ameaça de Abelardo para Paulo Ricardo “resolver a questão” do empresário

Paulo Ricardo disse à promotoria que tinha a intenção conversar, amigavelmente, com o empresário Fábio Yang por conta de publicações sobre a empresa Latina no Jornal Noticiantes, mas que a iniciativa de diálogo teria sido barrada por Abelardinho.
Segundo o proprietário da Latina Ambiental, agentes públicos o contatavam diariamente, a pedido de Abelardinho, dizendo comandos como: “você resolva essa questão, porque o problema da nossa Administração é o seu contrato”.
Conforme consta nos autos do processo, Paulo teria passado um bom tempo tentando convencer Abelardo do contrário, dizendo: “me deixa conversar com ele (Fábio) pessoalmente, uma conversa informal não mata ninguém”. Mas Abelardo dizia: “se você se virar para o lado dele (Fábio), você já entende como vai ficar sua situação aqui”. Abelardo falava: “não tem condição, isso aí não vai acontecer. A sua renovação está chegando e se esse problema perdurar, vou ter que cancelar o seu contrato, porque não posso ficar com esse rabo de foguete por sua culpa”.
Diante da pressão sofrida, Paulo Ricardo contratou o Capitão da Polícia Militar, Alexandre Gonçalves, para ameaçar o empresário Fábio Yang. Para executar o crime, o PM recebeu a quantia de R$ 5 mil. 
“Paulo Ricardo pensou em enviar um intermediário para conversar com o Fábio Yang e inclusive, poder manter seu contrato. Foi aí que procurou e contratou o sr. Alexandre Gonçalves, que fazia segurança na cidade de sua região para redes de supermercado, de alta patente da Polícia Militar. Como se vê, houve expressa indicação de que o Prefeito Abelardo exigiu valores a título de propina, auxiliou em fraudes contratuais e, ainda, foi autor intelectual das graves condutas violentas praticadas em face de Fábio Yang”, conclui o Ministério Público.
O contrato entre Latina Ambiental e Prefeitura Municipal de Bariri “foi prorrogado um mês após o crime violento, conforme determinado pelo Sr. Prefeito Municipal como possível condição de renovação”, continua a promotoria.

 

Proprietário da Mazo & Giacon (vulgo “Gordo”) é apontado como “pau mandado” de Abelardinho

A investigação do GAECO também descobriu que Paulo Ricardo Barboza tinha salvo, em sua agenda, o contato do empresário Abílio Giacon Neto, proprietário da Mazo & Giacon, empresa baririense que faltou no dia do pregão presencial, no qual a Latina se sagrou vencedora. O contato de Abílio estava salvo como “Gordinho Lixo Bariri”.
No interrogatório, Paulo Ricardo definiu Abílio como “o pau mandado” do prefeito Abelardo, alegando que Abílio sempre falava em nome do “chefe” (Abelardo); que ele era o courier, a pessoa que levava informações do prefeito.
Na sede da Latina Ambiental em Limeira, também foi apreendido o livro “Eu não sabia que era tão longe”, de autoria de Osni Ferrari. Abelardinho presenteou Paulo Ricardo com a obra literária, escreveu uma breve dedicatória ao dono da Latina na contracapa do livro, assinando e carimbando ao final dos dizeres. Dentro do livro, foram encontrados cartões de visita de Abílio Giacon Neto.
“Como se vê, Paulo Ricardo foi agraciado com um livro e dedicatória do prefeito Abelardo enquanto tratavam das fraudes. Ainda, no mesmo livro, havia cartões de Abílio Giacon Neto, que também esteve na reunião. A esse ponto, o material foi digitalizado e está apreendido”.

 

Prefeitura Municipal

Em nota, a assessoria de imprensa da prefeitura, enviou a seguinte declaração:
"Com relação ao fato divulgado pela mídia a respeito do pedido da promotoria de Bariri para que o Tribunal de Justiça abra investigação criminal contra o Prefeito, ele não foi notificado. De toda forma,  ao que parece, no requerimento do MP ao tribunal não se observa, em suas alegações primárias, nenhum indício de autoria ou materialidade fática concreta contra o Prefeito, que permita a autorização da abertura, já que a narrativa da peça se baseia em especulações. De qualquer forma, se autorizado for a colocação do Prefeito no polo passivo da ação, serão tomadas todas as medidas judiciais para provar sua inocência, em total cooperação com as investigações."