Abelardinho trocou seu carro particular após receber valores desviados da licitação de transbordo de lixo, revela investigação do Gaeco

Abelardinho trocou seu carro particular após receber valores desviados da licitação de transbordo de lixo, revela investigação do Gaeco

Novos detalhes da Operação Prenunciados foram revelados em um documento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, do qual o Noticiantes teve acesso. A operação deflagrada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (Comarca de Bariri), através de promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organiza (Gaeco), teve início em novembro de 2022 e segue em andamento.
Assinado pelo juiz Mauricio Martines Chiado, o documento em questão é a sentença dos réus da primeira fase da Operação Prenunciados: Vagner Mateus Ferreira, Flávio Muniz Dalla Coletta e Gabriel de Mello Ferrari. 
Pelos crimes de fraude em licitação e ameaça grave, Vaguinho foi condenado a 11 anos de prisão em regime inicial fechado. Já Flávio e Gabriel foram sentenciados a quatro anos de reclusão cada, em regime inicial aberto. A investigação do Gaeco provou que o trio fraudou, através de direcionamento, as licitações dos serviços de tapa-buraco e montagem das barracas da feira livre. Vaguinho está preso desde fevereiro do ano passado, enquanto Flávio e Gabriel respondem em liberdade.
Além das penas atribuídas aos réus, a informação que chama a atenção no documento envolve o ex-prefeito municipal de Bariri, Abelardo Maurício Martins Simões Filho (MDB), que foi cassado pela Câmara Municipal em 15 de novembro de 2023. 
Em interrogatório, Vagner Mateus Ferreira deu detalhes sobre irregularidades cometidas pelo ex-prefeito em relação à licitação do transbordo de lixo, através da duplicidade de recibos. Em novembro do ano passado, Abelardinho, Flávio Colleta, Abílio Giacon Neto e Vinícius Ferrencile, empresário de Bocaina, viraram alvos de inquérito civil que apura desvio de dinheiro público na licitação de transbordo de lixo.
Segundo o MP, as fraudes ocorreram antes mesmo do contrato, uma vez que o objetivo era direcionar a licitação de transbordo de lixo doméstico para uma pessoa específica, no caso, Abílio Giacon Neto. A princípio, a licitação seria destinada para Vinícius Ferrencile, proprietário da empresa VFN Engenharia e Serviços Eireli. O plano era que Vinícius renunciasse ao contrato para que Abílio Giacon Neto assumisse o transbordo.
No pregão, a empresa de Vinícius foi representada por uma terceira pessoa: Daiane Tacher Cunha. De acordo com a promotoria isso também seria parte do plano.  O esquema dos investigados caiu por terra quando uma empresa participante da licitação cobriu todas as propostas. 
Após a referida empresa ter sido desclassificada do processo, a mesma entrou na Justiça com um mandado de segurança contra a Prefeitura de Bariri. Quatro magistrados acataram o pedido da empresa reclamante, que assumiu o serviço de transbordo de lixo com aval judicial. Depois disso, o Executivo passou a dificultar a execução do serviço. Neste ponto, houve condicionamento de que uma pessoa de confiança do ex-prefeito Abelardo, Vagner Mateus Ferreira, teria que ficar encarregado do contrato, o que de fato aconteceu.
Segundo Vaguinho, em determinado momento, Abelardinho passou a exigir valores do contrato, através de um esquema que duplicava as quantidades de lixo transbordadas. Logo após receber os valores do desvio, Abelardinho teria trocado seu automóvel particular. 
“Esclareceu que o prefeito pediu um dinheiro porque queria trocar de carro. Não tinha mais de onde tirar o dinheiro. O prefeito, então, lhe sugeriu que alterasse as quantidades de lixo transbordadas. E assim foi feito. Pegou o dinheiro que era pago pela prefeitura à empresa, repassou à pessoa indicada pelo prefeito – o réu Flávio – e ele repassou ao prefeito. Logo após o repasse do numerário, o prefeito, que tinha uma Chevrolet Spin branca, apareceu com um Ford Ecosport preta. Afirmou que tanto o prefeito Abelardo quanto o réu Flávio, sabiam que a origem do dinheiro era o contrato do transbordo”, afirmou Vaguinho durante interrogatório. 
Outra pessoa que tinha conhecimento do esquema era a Diretora de Finanças, Natália Sisto, cargo de confiança do ex-prefeito, de acordo com uma testemunha ouvida na investigação.

 

Empresa notifica prefeitura ao notar recibos duplicados

Ao perceber a irregularidade nos recibos do serviço de transbordo, a empresa vencedora da licitação questionou a Prefeitura Municipal de Bariri acerca do erro, mas não obteve retorno.
“Diligenciou até a prefeitura e obteve todos os bilhetes antigos e fez um levantamento mês a mês, constatando que, na maioria dos meses, a quantidade efetiva era muito menor do que os valores informados nas notas fiscais. Informaram à Prefeitura sobre os valores que tinham sido "pagos" a mais, mas a Prefeitura não respondeu. Então, emitiram uma nota de cancelamento por conta própria do valor a mais”, disse em juízo a representante financeira da empresa. 

 

Desvio de dinheiro financiou amigos e apoiadores políticos de Abelardinho

O dinheiro desviado tinha como destino pessoas ligadas ao ex-prefeito de Bariri, como amigos e apoiadores políticos, como uma espécie de propina. Um dos beneficiados citados pelo Ministério Público é Edson dos Santos (vulgo Capetinha), responsável pelo projeto social Meninos do Livra, citado como “amigo pessoal do prefeito” na ação. 
Capetinha foi candidato a vereador pelo MDB (mesmo partido de Abelardinho) nas Eleições 2020. Ele ainda foi arrolado como uma das testemunhas de defesa do ex-prefeito na Comissão Processante anterior ao impeachment. No entanto, Capetinha acabou sendo dispensado pela defesa e não testemunhou. 
“Ainda, em referidas declarações foi indicado que Abelardo indicava pessoas que deveriam ter pagamentos mensais como decorrências dos contratos públicos (alguns em nome de laranjas). Dentre elas, Edson dos Santos (vulgo Capetinha). Que o pagamento para referida pessoa se dava pelo fato de Edson não ter escolaridade para ocupar cargo comissionado. Foi informado que referidos pagamentos se deram por meio da empresa VJ Coleta e Urbanização, que era utilizada pelo declarante para prestar serviços laranjas”, revelou a promotoria.