Análises do Instituto Adolfo Lutz apontam que água consumida em Bariri possui “qualidade insatisfatória”; Morador do Santo André denuncia presença de substância não identificada em reservatório, aciona Saemba e ironiza: “quer vir em casa tomar um café, prefeito?”
A água distribuída pelo Serviço de Água e Esgoto de Bariri (Saemba) não recebeu avaliação 100% favorável, segundo aponta relatório de pesquisa realizada pelo Instituto Adolfo Lutz. O documento mostra que parte da água consumida pelos cidadãos baririenses possui “qualidade insatisfatória”. Os dados foram adquiridos pelo vereador Edcarlos Santos, que solicitou à autarquia, via requerimento, o envio de relatório das análises da água de todos os poços que abastecem a população baririense, informando data, laboratório e técnicos responsáveis.
“Tenho recebido muitas reclamações sobre a qualidade da água e muitas pessoas relatam que estão ficando doentes, alegam inclusive que pode ser por causa da água servida pelo Saemba. Claro, que um apontamento destes não pode ser feito sem que a água seja analisada, até mesmo para que possa dar segurança à população que faz uso”, justificou Edcarlos.
Em resposta ao requerimento, foram enviadas ao Legislativo 70 análises do Instituto Adolfo Lutz, realizadas entre os meses de fevereiro e junho do ano passado. Desse total, 21 análises (30%) receberam a conclusão de “qualidade insatisfatória”.
Conforme indicado nos relatórios, as fontes de abastecimento das amostras analisadas são a Estação de Tratamento de Água de Bariri (localizada no bairro Livramento), e o Poço da Sete de Setembro. Entre as localidades, foram colhidas amostras de hidrômetros instalados em endereços como: Rua Humaitá; Avenida Silvio de Queiroz; Avenida Antonio Galizia; Rua Paulino Pessuto; Rua Francisco Munhoz Cegarra, Rua Irma Michelassi Pereira, Rua João Vicente Felipe; Rua Mario Betto, Rua Padre Borin, Avenida Guarani, entre outros.
O Engenheiro Químico Francisco Lopes Dias Junior (CRQ 04331552), atestou a seguinte conclusão final: “Insatisfatória. Água em desacordo com a legislação, por apresentar cor aparente e turbidez acima dos valores máximos permitidos”.
A cor é uma característica física estética. Quando a água apresenta alguma coloração, em geral ela é decorrente da existência de substâncias dissolvidas no líquido, já que a água potável deve ser incolor a olho nu. Quando ela adquire alguma cor, significa que está com uma quantidade muito alta de algum elemento, como o ferro ou manganês, ou presença de algas.
Já a turbidez é um parâmetro físico que mede a propriedade óptica de absorção e reflexão da luz. Ele funciona como um importante parâmetro das condições adequadas para consumo da água. Essa característica é avaliada pela quantidade de partículas em suspensão, que interferem na propagação da luz pela água. Em resumo, a turbidez se traduz na redução da transparência da água devido à presença desses materiais sólidos flutuando.
No caso específico da Avenida Antonio Galizia, também foi constatada presença da bactéria Escherichia Coli. Quando presente na água, o microrganismo pode indicar a ocorrência de contaminação fecal (já que é encontrada no intestino de mamíferos), além de poder indicar condições higiênico-sanitárias inadequadas do reservatório.
Munícipe convida prefeito, vice-prefeito e primeira e segunda-damas para provarem água com substância encontrada em seu reservatório
Os dados preocupantes do Instituto Adolfo Lutz chamam a atenção em meio a mais recente polêmica do Saemba em Bariri: na última semana, um morador do bairro Jardim Santo André utilizou nas redes sociais para denunciar a situação da água em sua residência.
Ao perceber algo estranho na água, o munícipe decidiu verificar a caixa d’água e, para seu espanto, constatou presença expressiva de uma substância esbranquiçada, espessa e não identificada, no reservatório. Os vídeos que mostram a descoberta e a indignação do baririense viralizaram na internet.
“Tive a curiosidade de subir para ver como estava a minha caixa d’água e me deparei com isso. Por isso que o chuveiro vive entupindo. Dei uma breve raspada no assoalho da caixa, e olha só: isso aqui é o que tem na água nossa, aqui do Santo André. Você acha que compensa pagar por isso? Será que a gente merece receber uma água dessa? É isso que o Saemba está nos fornecendo?”, questiona o munícipe.
Na sequência, ele afirma que acionou o Saemba e ironiza convidando autoridades municipais do Executivo e vereadores para irem até sua casa ver a situação.
“E aí, prefeito? Quer vir aqui em casa tomar um café? Tomar uma água? Aqui é diferente. Se você não conhece, o Santo André, Garotinho e Jardim Romero fazem parte de Bariri, tá? Ô Fernando Foloni, quer vir tomar um café aqui em casa? Traz o Abelardinho, a primeira-dama, a segunda-dama... Eu tenho uma filha. Essa aqui é a água que ela toma banho; a água que eu e minha esposa fazemos comida pra ela”, finaliza o morador, exibindo a substância não identificada retirada do reservatório na palma da mão.
Um caso semelhante aconteceu em abril deste ano, no Jardim Canaã. Na oportunidade, moradores do bairro flagraram ratos saindo do encanamento e a água completamente marrom. O Saemba foi acionado e limpou o reservatório central do bairro, repleto de uma substância escura.
À princípio, a suspeita foi de que havia lama no reservatório, mas técnicos consultados pelo presidente da Câmara Municipal de Bariri, Airton Pegoraro, levantaram a possibilidade de que substância seja, na verdade, excesso de ferrugem.
“Superintendente tem que entender que pobre toma água da torneira; pobre não tem filtro”, diz Edcarlos
Na última Sessão Legislativa, o vereador Edcarlos Santos comentou seu requerimento pedindo acesso à dados de análises hídricas à autarquia Saemba. O nobre relembrou, inclusive, que há um ano, o Ministério Público do Estado de São Paulo, através da Promotoria de Justiça de Bariri, abriu inquérito para investigar a qualidade da água em Bariri.
Em recente resposta enviada à reportagem do Noticiantes sobre o assunto, a promotoria alegou que “o inquérito civil encontra-se em trâmite, na pendência de remessa de documentos complementares para fins de análises técnicas”.
“Ano passado, o Ministério Público questionou a qualidade da água e ainda não sabemos o desfecho. As pessoas continuam tomando a água que, às vezes não tem uma qualidade boa. A maior parte da população bebe água da torneira. Tem gente que não entende a realidade do pobre. Pobre não tem filtro; pobre não compra galão. Um galão de água é R$ 10,00; dá para comprar dois litros de leite. Mas o pobre paga a água e a obrigação do Saemba é fornecer uma água com qualidade. A qualidade da água da nossa cidade é questionável”, concluiu o nobre.
Edcarlos ainda expôs que nem todos os poços de Bariri possuem o densímetro reserva de cloro. Ou seja, se algum aparelho parar de funcionar, como não há um reserva, a quantidade de cloro liberada pode ser insuficiente.
“É preciso ser feito um trabalho sério. Nossas estruturas condutoras são antigas. Não sabemos se tem vazamento, o que entra nessa água... Temos vários tipos de situações que colocam em xeque a qualidade da água. Uma coisa que talvez o superintendente do Saemba não saiba, precisa ficar clara: pobre não tem filtro”, finalizou o parlamentar.
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